Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Walt Whitman - Milagres

Whitman bem sintetiza, nestes versos de sua obra máxima, o ponto de vista de que não existem milagres mais estranhos ou mais significativos do que aqueles que podemos encontrar na continuidade da vida quotidiana, pois que lhe parece que cada centímetro cúbico do espaço e cada metro quadrado da superfície da Terra estão repletos de elementos autenticamente maravilhosos.

 

Desde caminhar pelas avenidas de Manhattan até observar a beleza da lua nova na primavera, tudo são “milagres”: não se trata de grandes eventos sobrenaturais, senão da grandeza intrínseca da própria existência, a alcançar os olhos daqueles que se dispõem a apreciar, com um sentido profundo de reverência e de conexão com o universo, o sublime que há mesmo nas coisas mais ordinárias.

 

J.A.R. – H.C.

 

Walt Whitman

(1819-1892)

 

Miracles

 

Why, who makes much of a miracle?

As to me I know of nothing else but miracles,

Whether I walk the streets of Manhattan,

Or dart my sight over the roofs of houses toward the sky,

Or wade with naked feet along the beach just in the edge

of the water.

Or stand under trees in the woods.

Or talk by day with any one I love, or sleep in the bed

at night with any one I love,

Or sit at table at dinner with the rest.

Or look at strangers opposite me riding in the car.

Or watch honey-bees busy around the hive

of a summer forenoon.

Or animals feeding in the fields,

Or birds, or the wonderfulness of insects in the air.

Or the wonderfulness of the sundown, or of stars shining

so quiet and bright.

Or the exquisite delicate thin curve of the new moon

in spring;

These with the rest, one and all, are to me miracles.

The whole referring, yet each distinct and in its place.

 

To me every hour of the light and dark is a miracle.

Every cubic inch of space is a miracle.

Every square yard of the surface of the earth is spread

with the same.

Every foot of the interior swarms with the same.

 

To me the sea is a continual miracle.

The fishes that swim – the rocks – the motion of the waves –

the ships with men in them.

What stranger miracles are there?

 

Milagres da Natureza

(Aisha Haider: artista inglesa)

 

Milagres

 

Por que alguém se espanta com um milagre?

Quanto a mim, não sei de coisa alguma que não seja

um milagre,

Se ando pelas ruas de Manhattan,

Ou lanço meu olhar sobre os telhados das casas

na direção do céu,

Ou ando com os pés descalços ao longo da praia,

bem na beira da água,

Ou permaneço sob as árvores na floresta,

Ou converso durante o dia com qualquer um a quem amo,

ou durmo na cama à noite com qualquer

um a quem amo,

Ou me sento à mesa de jantar com os demais,

Ou olho para os estranhos que se sentam de frente

para mim no carro,

Ou assisto as abelhas melífluas ocupadas em torno

da colmeia numa manhã de verão,

Ou os animais se alimentando nos campos,

Ou os pássaros, ou as maravilhas dos insetos no ar,

Ou as maravilhas do crepúsculo, ou das estrelas cintilando

tão quietas e brilhantes,

Ou as exóticas e delicadas e finas curvas da lua nova

na primavera;

Esses e os demais, um e todos, são milagres para mim,

A referência inteira e, contudo, cada um distintamente

em seu lugar.

 

Para mim toda hora de luz e de escuridão é um milagre,

Cada centímetro cúbico do espaço é um milagre,

Cada jarda quadrada da superfície da terra é formada

por ele,

Cada pé de suas profundezas está infestado dele.

 

Para mim o mar é um milagre contínuo,

Os peixes que nadam – as pedras – o movimento das ondas –

os navios com os homens neles,

Que milagres mais estranhos podem haver?

 

Referências:

 

Em Inglês

 

WHITMAN, Walt. Miracles. In: __________. Leaves of grass. London, EN: G. P. Putnam’s Sons; Boston, MA: Small, Maynard & Company, 1903. p. 301.

 

Em Português

 

WHITMAN, Walt. Milagres. Tradução de Luciano Alves Meira. In: __________. Folhas de relva. Texto integral. Tradução e introdução de Luciano Alves Meira. 2. ed. São Paulo (SP): Martin Claret, 2012. p. 381-382. (Série Ouro: Coleção “A Obra-Prima de Cada Autor”, n. 42)

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