Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 28 de dezembro de 2025

Po Chü-yi - A Lu-Cheng, na passagem do ano

O fim do ano se aproxima e o poeta sente-se sozinho e desalegre com o fato de ter que tomar os medicamentos que lhe recomendam a idade, em vez de brindar a passagem, para mais um giro à volta do sol, com o seu amigo próximo Lu-Cheng: não estranhe o leitor que o poema sugira uma conexão entre dois homens, pois que semelhantes manifestações de apreço eram bastante comuns na poesia clássica chinesa, ao longo da qual amizades profundas e leais eram intensamente celebradas.

 

Veja-se que já há séculos as pessoas costumam imergir numa mistura complexa de emoções conforme o ano chega a termo, talvez como consequência de fatores psicológicos, sociais ou culturais diversos. E – enfatize-se – tanto mais recentemente, em consequência do modo idealizado como a mídia e a publicidade retratam o trânsito, induzindo a que muitos, por simples comparação, incorram em sentimentos de inadequação ou de tristeza.

 

J.A.R. – H.C.

 

Po Chü-yi

(772-846)

 

A Lu-Cheng, na passagem do ano

 

Esta noite, sentado junto a tochas acesas, levas a taça aos lábios,

Enquanto eu, triste, no leito, tomo os meus remédios, como ceia.

Basta uma noite gemendo sobre o travesseiro para adoecer alguém.

Uma boa festa em casa, seria melhor que qualquer médico.

Amanhã, esteja eu são, esteja eu doente, deixa tua morada,

Vem reunir-te a mim. Sem ti não haverá festa, nem alegria.

 

Retrato de um velho bebendo sozinho

(Lucian Bistreanu: artista romeno)

 

Referência:

 

CHÜ-YI, Po. A Lu-Cheng, na passagem do ano. Tradução de A. B. Mendes Cadaxa. In: CADAXA, A. B. Mendes (Seleção, tradução e notas). Escadaria de jade: antologia de poesia chinesa (século XII a.C. - século XIII). Rio de Janeiro, RJ: Graphia, 1998. p. 80. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário