Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

John Haines - Fairbanks Sob o Solstício

Neste poema, a retratar a dura realidade do inverno ártico, digo melhor, no Alasca – onde um frio extremo e o firmamento brumoso imergem a paisagem numa atmosfera quase onírica ou sobrenatural –, a morte e o silêncio se apresentam como forças dominantes, em meio às quais, nada obstante, há certo potencial para renovação.

 

Com efeito, o poeta emprega imagens ambíguas, propositalmente ou não: por um lado, o silêncio pode ser visto como uma negação da vida, um vazio absoluto; por outro, o emprego da palavra “ressurreição” sugere uma espécie de renascimento ou transformação, em linha com a precitada ideia de renovação, talvez para incutir no leitor a sensação subjacente dos ciclos das estações ou da resiliência da vida, mesmo sob condições inóspitas.

 

J.A.R. – H.C.

 

John Haines

(1924-2011)

 

Fairbanks Under the Solstice

 

Slowly, without sun, the day sinks

toward the close of December.

It is minus sixty degrees.

 

Over the sleeping houses a dense

fog rises – smoke from banked fires,

and the snowy breath of an abyss

through which the cold town

is perceptibly falling.

 

As if Death were a voice made visible,

with the power of illumination…

 

Now, in the white shadow

of those streets, ghostly newsboys

make their rounds, delivering

to the homes of those

who have died of the frost

word of the resurrection of Silence.

 

Inverno na cidade

(Jan Feteke: pintor eslovaco)

 

Fairbanks Sob o Solstício (*)

 

Lentamente, sem sol, os dias minguam

até fins de dezembro.

A temperatura chega a menos sessenta graus.

 

Sobre as casas adormecidas uma densa

bruma se eleva – fumaça de fogueiras arrefecidas,

e o sopro nevado de um abismo

em meio ao qual a cidade enregelada

perceptivelmente se precipita.

 

Como se a Morte fosse uma voz tornada visível,

com o poder da iluminação...

 

Agora, na sombra esbranquiçada

dessas ruas, fantasmagóricos jornaleiros

fazem as suas rondas, entregando

nos lares daqueles

que morreram sob o frio intenso

a notícia da ressurreição do Silêncio.

 

Nota:

 

(*). Fairbanks: trata-se de uma pequena cidade no Alasca, onde Haines viveu por muito tempo, lecionou em sua Universidade e ali veio a falecer.

 

Referência:

 

HAINES, John. Fairbanks under the solstice. In: __________. Winter news: poems. 1st ed. Middletown, CT: Wesleyan University Press, 1966. p. 15.

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