Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Robert Bly - Solidão no bosque, tarde da noite

Este poema em três seções é mais uma meditação sobre as “lições” espirituais que nos oferece a natureza em seu estado mais desnudo, em que a beleza austera dos bosques no inverno vai se definindo, pondo a descoberto potenciais vulnerabilidades nessa manifestação silvestre da vida, a qual, nada obstante, obstina-se em seguir adiante e se expandir, a despeito das adversidades.

 

A perpassarem os versos, têm-se os elementos constitutivos de fundo, como a solidão, o olhar introspectivo e a sensação de languidez espelhados no discurso do falante, talvez como reflexo em seu íntimo dos paradigmas que o entorno lhe oferece, de uma observância adaptativa aos ciclos do biossistema, sob cujos rigores concentra-se em aparentar quietude, resistir silenciosamente e manter estável o ânimo de plenitude.

 

J.A.R. – H.C.

 

Robert Bly

(1926-2021)

 

Solitude late at night in the woods

 

I

 

The body is like a November birch facing the full moon

And reaching into the cold heavens.

In these trees there is no ambition, no sodden body, no leaves,

Nothing but bare trunks climbing like cold fire!

 

II

 

My last walk in the trees has come. At dawn

I must return to the trapped fields,

To the obedient earth.

The trees shall be reaching all the winter.

 

III

 

It is a joy to walk in the bare woods.

The moonlight is not broken by the heavy leaves.

The leaves are down, and touching the soaked earth,

Giving off the odor that partridges love.

 

Noite de inverno num bosque

(Vilhelm Kyhn: pintor dinamarquês)

 

Solidão no bosque, tarde da noite

 

I

 

O corpo é como um vidoeiro em novembro, diante

da lua cheia

E alcançando os céus frios.

Nestas árvores não há ambição, nem corpo molhado ou folhas,

Nada a não ser troncos nus subindo como fogo frio!

 

II

 

Meu último passeio entre as árvores está começando.

Ao amanhecer

Devo voltar para os campos presos,

Para a terra obediente.

As árvores estarão nuas durante todo o inverno.

 

III

 

É uma alegria caminhar nos bosques desolados.

As folhas pesadas não quebram os raios da lua,

Na terra molhada de chuva, as folhas caídas

Exalam aquele odor que atrai as perdizes.

 

Referência:

 

BLY, Robert. Solitude late at night in the woods / Solidão no bosque, tarde da noite. Tradução de Lêdo Ivo. In: KEYS, Kerry Shawn (Ed.). Quingumbo: new north american poetry / nova poesia norte-americana. Antologia bilíngue: inglês x português. Vários poetas e tradutores. São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês: p. 126; em português: p. 127.

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