Do distanciamento e
da melancolia, da escuridão em meio a um frio inóspito à luminosidade de uma outra
aurora, de um recomeço cheio de possibilidades: se o cisne a que se refere
Pascoli for o poeta, seu canto representaria a poesia e o clarão verde toda a
esperança em que envolto o seu percurso, em busca do sublime através da arte.
O harmônico encanto
do mundo natural se imbrica com a beleza de uma vida que aspira a um estado
mais apurado de magnificência, sendo vã ou não a ideia de imortalidade que a
acompanha: eis a passagem transformadora que se impõe à jornada não só do
poeta, senão à de todos aqueles que esperam deitar lustros a um novo estado de
ser, possibilitando a perpetuação da memória.
J.A.R. – H.C.
Giovanni Pascoli
(1855-1912)
Il transito
Il cigno canta. In
mezzo delle lame
rombano le sue voci
lunghe e chiare,
come percossi cembali
di rame.
È l’infinita tenebra
polare.
Grandi montagne d’un
eterno gelo
póntano sopra il
lastrico del mare.
Il cigno canta; e
lentamente il cielo
sfuma nel buio, e si
colora in giallo;
spunta una luce verde
a stelo a stelo.
Come arpe qua e là
tocche, il metallo
di quella voce tìntina;
già sfiora
la verde luce i
picchi di cristallo.
E nella notte, che ne
trascolora,
un immenso iridato
arco sfavilla,
e i portici profondi
apre l’aurora.
L’arco verde e
vermiglio arde, zampilla,
a frecce, a fasci; e
poi palpita, frana
tacitamente, e
riascende e brilla.
Col suono d’un
rintocco di campana
che squilli ultimo,
il cigno agita l’ale:
l’ale grandi grandi
apre, e s’allontana
candido, nella luce
boreale.
Um cisne sozinho ao
luar
(Janet Argenta: fotógrafa
norte-americana)
A passagem
O cisne canta. No
meio do brejo
seu vozear ressoa
longo e claro,
como a percussão de
címbalos de cobre.
É a infinita
escuridão polar.
Grandes montanhas de
um gelo eterno
prolongam-se sobre as
placas do mar.
O cisne canta; e
lentamente o céu
abisma-se no escuro e
se tinge de amarelo;
gradualmente irrompe um clarão
verde.
Como harpas tocadas
aqui e ali, o timbre
metálico daquela voz
retine; já incide
a luz verde no topo
dos maciços de cristal.
E na noite, que se desvanece,
cintila um imenso
arco iridescente,
rompendo a aurora
entre profundas arcadas.
O arco verde e
vermelho arde, jorra,
em setas, em feixes; e
então lateja, esboroa-se
em silêncio, reaparece
e volta a brilhar.
Com o som de um
badalar de sino
em seus últimos
fragores, o cisne agita as asas:
as grandes e longas asas
se abrem, e ele se afasta,
branco como a neve,
rumo à luz boreal.
Referência:
PASCOLI, Giovanni. Il
transito. In: __________. Tutte le poesie. A cura di Arnaldo Colasanti. Traduzione
e cura delle poesie Ialine di Nora Calzolaio. Edizione integrale. Seconda
edizione. Roma, IT: Grandi Tascabili Economici Newton, nov. 2001. p. 161. (‘I
Mammut’; n. 72)
❁