O poeta detém-se
sobre o tema da solidão no mundo contemporâneo, bem assim sobre a busca de
sentidos em um contexto aparentemente vazio, convidando-nos a refletir sobre a importância
da conexão humana e da espiritualidade num mundo cada vez mais fragmentado, no qual,
nada obstante, os “sinos de Cristo” ainda se fazem presentes para manter acesa
a luz da esperança, da redenção, do amor e da conexão com o divino.
Transcender o lado
mais tangível, mais material, do mundo; superar o trato frio e hostil, as
conexões superficiais de nossas cidades superpovoadas; romper o isolamento e a
alienação das grandes metrópoles; tudo para fazer valer, não só no calor da
celebração natalina, o que há de mais humano em cada um de nós, nutrindo razões
palpáveis para se continuar no afã da lida quotidiana!
J.A.R. – H.C.
Jorge de Lima
(1893-1953)
Poema de Natal
Numa certa noite de
Natal,
aquele homem de uma
grande metrópole
queria um abrigo para
passar a noite;
um reveillon,
uma mulher ou mesmo um bar servia.
Mas todas essas
coisas tinham muitos corações
por dentro delas.
E, entretanto, todas
essas coisas estavam muito vazias.
O homem foi, então,
passear pelas ruas;
mas o povo era tanto
que o homem
já pedia um abrigo
para se livrar dos outros.
E o homem fugiu da
metrópole
e buscou os caminhos
que vão ter
às pequenas aldeias.
Mas o povo que vinha
nos caminhos
para a grande
metrópole
esbarrou no homem sem
abrigo.
E foi então que os
sinos de Cristo
começaram a chamar o
homem fugitivo
para o novo caminho
em que Jesus seguia.
Estado da Bahia, Salvador, 24.12.1938.
Em: “Poemas
Dispersos”
Celebrando o Natal
(Margaret Loxton: artista
inglesa)
Referência:
LIMA, Jorge de. Poema
de Natal. In: __________. Poesia completa: em um volume. Organização de
Alexei Bueno. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 1997. p. 833. (Biblioteca
Luso-brasileira; Série brasileira)



Nenhum comentário:
Postar um comentário