Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 30 de novembro de 2013

Manuel Maria Barbosa du Bocage - Alusão à Profecia de Isaías



Alusão à Profecia de Isaías

Queimando o véu dos séculos futuros
O vate, aceso em divinais luzeiros,
Assim cantou (e aos ecos pregoeiros
Exultaram, Sião, teus sacros muros):

“O justo descerá dos astros puros
Em deleitosos, cândidos chuveiros,
As feras dormirão com os cordeiros,
Suarão doce mel carvalhos duros;

A virgem será mãe; vós dareis flores,
Brenhas intonsas, em remotos dias;
Porás fim, torva guerra, a teus horrores.”

Não, não sonhou o altíssono Isaías;
Ó Reis, ajoelhai, correi, Pastores!
Eis a prole do Eterno, eis o Messias!

Referência:
LÍRICA de Natal. São Paulo: Refaga, 1963. p. 23.

J.A.R. - H.C.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Correção da Poupança nos Anos 80-90 – A Questão da Constitucionalidade

Transcrevo, a seguir, interessante artigo de Hélio Schwartsman, em sua coluna da Folha de São Paulo de hoje, 29/11/13, acerca da questão neste momento tratada pelo STF, atrelada à apreciação da constitucionalidade da correção da caderneta de poupança lá pelos idos de 80 e 90, em decorrência dos planos econômicos então levados a efeito.

O problema foi abordado por Hélio mediante um nítido viés filosófico – aliás, se trata de um filósofo –, embora também possa, muito bem, ser contemplado sob uma perspectiva mais delimitadamente jurídica. “Consequencialismo x Deontologismo”, ou de outro modo, “Pragmatismo x Ética do Dever” são dilemas com que os sistemas legais, pelo mundo afora, se defrontam.

Nos EUA, a marca de uma economia de mercado, com valores fortemente centrados no consumo, torna desproporcional a aplicação do consequencialismo: os americanos são os verdadeiros pais do pragmatismo, e figuras, como Richard Posner, ponteiam num cenário de propostas de ampla aplicação do Direito pautado pela Economia. Conclusão: a decisão jurídica tem os dois olhos bem abertos para a extensão econômica do valor da causa!

O STF, aqui por estas plagas, vagueia ora numa direção ora noutra: quem não se lembraria de sua decisão, no início deste século, acerca da contribuição dos inativos para a Previdência Social? Genuína resolução com justificativas mais de natureza econômica do que propriamente jurídicas (se é que, de fato, existem argumentos eminentemente jurídicos, pois penso que tudo são valores, a menos, é claro, do que a mais lídima empiria é capaz de evidenciar por si só!).

Mas há também decisões que buscam convergir para propostas pedagógicas de como o cidadão deve se comportar eticamente, e aí está o dilema do Mensalão, com todos os seus contratempos.

Agora trazendo o discurso para algo próximo do problema levantado na matéria inicial: de fato, qualquer magistrado que analise uma discrepância de valores da ordem da que ora se informa – de uma dezena de bilhões para uma centena de bilhões – necessitaria, efetivamente, solucionar previamente tal pendência, independentemente do padrão decisional que costuma declinar em seus votos.

Tal situação me fez recordar o embate em que se viram enredados alguns grandes bancos suíços, quando, mais do que os descendentes de judeus que foram mortos durante a 2ª Guerra Mundial, entidades do Estado de Israel – e aqui entra a figura tão detratada por Norman Finkelstein em sua obra “A Indústria do Holocausto”, o Nobel da Paz Elie Wiesel –, entraram na Justiça americana para reaver valores que se encontravam em contas daquelas instituições e que pertenciam aos judeus em referência: uma cifra que ficava, segundo os autores, entre 7 e 20 bilhões de dólares, mas que ao final do levantamento feito pelos bancos resultou apenas em R$32 milhões de dólares, constantes em 775 contas inativas e não reclamadas.

Nesse sentido, houve pressões dos autores contra as IFs para que liquidassem logo a lide, ao argumento de que os descendentes dos judeus mortos “estavam passando por dificuldades”, o que, em última instância, resultou no pagamento efetivo de 1,25 bilhão de dólares. Nesse plano, ao final da questão, os mandatários dos bancos suíços passaram a veicular na imprensa o falso dilema levantado pela parte autora, quando afirmava que a compensação pleiteada fixava-se “sobre verdade e justiça [dimensão deontológica], e não sobre dinheiro [dimensão consequencialista]”. Zombavam agora eles: “O dilema não é sobre dinheiro. É sobre mais dinheiro!”. Dinheiro esse, por sinal, que praticamente não chegou às mãos dos afetados, segundo Finkelstein, mas se concentrou nas mãos de entidades sionistas (ou seriam judaicas?), em Israel.

Finkelstein é figura obviamente non grata na comunidade de judeus americanos e, parece-me, que muito de seus argumentos partem da convicção de que os descendentes estiveram sempre à margem de todas as restituições que houve por conta dos fatos da 2GM. Diz-nos ele que sua mãe teria recebido apenas 3.500 dólares de compensação, quando os valores pagos pela Alemanha, para restituição às vítimas, totalizaram 60 bilhões de dólares, fora a “extorsão” adicional empreendida mais recentemente contra a própria Alemanha e a Suíça, que deram ensejo a manifestações antissemitas nesses países e que inibiram, por ora, a propositura de novas ações contra governos de outros países, como os da Polônia e da Áustria, por exemplo.

J.A.R. – H.C. 

Batata Quente

SÃO PAULO (Hélio Schwartsman) - É uma bela batata quente. O Supremo terá de decidir se as fórmulas usadas para calcular a correção da caderneta de poupança em planos econômicos das décadas de 80 e 90 são constitucionais.

Se disser que não são e mandar os bancos devolverem a diferença, beneficiará milhares de investidores que podem de fato ter sido prejudicados. A dificuldade é que a operação tem um custo. O BC estima que a brincadeira teria um impacto de R$ 150 bilhões nos balanços de instituições financeiras públicas e privadas e implicaria uma retração de R$ 1 trilhão no mercado de crédito. O Idec, entretanto, contesta os cálculos do BC e apresenta uma conta bem mais modesta, de R$ 8,4 bilhões.

Não sei quem tem razão e considero até temerário o STF apreciar a matéria sem que haja clareza quanto ao tamanho da encrenca. A diferença entre as duas contas é daquelas que modifica a natureza do problema.

Para intérpretes do direito mais afeitos às ideias kantianas, só o que importa é fazer justiça. Se o poupador tem razão em seu pleito, deve ser atendido, não importando os resultados. "Fiat iustitia, pereat mundus" (faça-se justiça, mesmo que o mundo pereça), escreveu o filósofo alemão.

Receio, entretanto, que não possamos abraçar tão alegremente os postulados kantianos. Sistemas judiciários, principalmente quando tratam de temas de repercussão geral, precisam de pitadas de consequencialismo. Se é verdade que o reconhecimento de perdas na poupança teria um grande impacto negativo para a economia, o STF não pode se dar ao luxo de ignorar esse aspecto (o que não implica que juízes devam julgar olhando só para os resultados).

A pergunta, no fundo, é o que caracteriza uma nação: o passado comum, como queriam os românticos, ou a vontade de construir um futuro, como advogava o filósofo francês Ernest Renan? Creio que as sociedades que apostam na segunda fórmula tendem a ser mais dinâmicas.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/141223-batata-quente.shtml

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Conde de Monsaraz - Natal



Natal

Natal frio. O vento sopra
            desordenado,
a água gela nos poços,
e o nevoeiro cerrado
cega a vista e emperra os ossos.

O mar esfarrapa as ondas
            nas penedias.
As faias levam açoites:
noites rudes como os dias,
dias negros como as noites.

Pelas gargantas das serras
            encarquilhadas,
tragando muros, lavouras,
gados, troncos, as levadas
despenham-se ameaçadoras.

Mês de Dezembro: horas brancas,
            horas de neve,
as plantas têm arrepios
e o orvalho, muito ao de leve,
chora dos ramos esguios.

Na igreja dá meia-noite,
            repica o sino…
Depois da missa do galo,
beija-se o pé ao menino,
e o povo corre a beijá-lo.

O altar flameja entre flores;
            junto ao bercinho,
sorrindo à gente que passa,
lá está guardando o seu ninho,
a Virgem cheia de graça.

Toca o órgão: que ternura
            nos olhos dela,
vendo o filhinho deitado
dentro da sua capela,
gordinho, branco, rosado!

Pobres e ricos do mundo,
            todos lá vão,
Levar-lhe velas e flores;
caem, fazendo oração,
de joelhos os pastores.

Na rua, meu Deus, que frio
            e que negrume!
Mas nos casebres de aldeia,
se há frio, que lindo lume,
se há fome, que boa ceia!

Crianças, de porta em porta,
            sob as goteiras,
Geladas – que desatino! –
andam cantando as janeiras,
em louvor ao Deus menino.

“Lá vai, lá vai, raparigas,
            já mal podeis
cantar, rouquinhas as vozes,
repletos os saquitéis,
De frutas, passas e nozes!”

Corre que Nossa Senhora
            desce do altar
e vai, em sonhos dourados,
dar o menino a beijar
aos presos e aos entrevados.

Leva-o nas dobras do manto,
            chegado ao peito,
por causa do temporal,
com todo o amor, todo o jeito
dum coração maternal.

Mas como a voz dum profeta,
            o vento norte,
por onde quer que ele passa,
entoa pragas de morte
e lamentos de desgraça.

E a Virgem sente aflitivos
            pressentimentos,
e escuta vozes aziagas:
a dela nesses lamentos,
e as dos judeus nessas pragas.

Referência:
LÍRICA de Natal. São Paulo: Refaga, 1963. p. 33-35.

J.A.R. - H.C.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Marta de Mesquita da Câmara - Natal



Natal

Todos fomos crianças algum dia,
e todos nós tivemos, afinal,
a parcela de graça e de alegria
que foi o doce encanto dum Natal.

Recordemos em paz, com toda a calma,
se cabe recordar... sem amargor!
O tronco mais antigo tem na alma
a lembrança do dia em que deu flor!

Nesta quadra de sombras e alegrias
ninguém se quedará de mãos vazias...
A partilha nem sempre é de igualdade,

mas, enfim, eu não sei por que segredos,
a infância de tudo faz brinquedos,
a velhice de tudo faz saudades!

Referência:
Salvado, António. Anunciação e Natal
na poesia portuguesa. Lisboa: Polis, 1969. p. 183.

J.A.R. - H.C.

36ª Rodada do Brasileirão 2013 - Projeções para o Final


Prezado(a)s amigo(a)s do futebol,

1. Mais uma rodada se foi, a 36ª, faltando agora apenas duas. E temos novidades!

2. O Modelo Esotérico-Matemático passou a projetar duas equipes cariocas na Segundona do ano que vem! Como se diria por aí, “que beleza!” (rs). Sei não, hein!

3. Deem uma olhada:


4. Quanto às demais posições, alguma “nuvem” de permuta entre as posições de Grêmio e Goiás, e entre Santos e Corinthians. O resto, tudo mais ou menos estável.

5. No que pertine ao campo das probabilidades, vamos a elas: 



6. Agora falando sério: comparando os jogos dos últimos colocados, os mais difíceis parecem-me os do Fluminense, que enfrentará o Atlético-MG – que não está refrescando ninguém – e o Bahia, lá em Salvador, num autêntico xeque-mate. Sem colocar nenhum turbante de vidente (rs), diria que as chances de o Fluminense cair, de fato, são palpáveis e muito superiores às que os ‘sites’ especializados apontam. Quanto ao Vasco da Gama, tem uma facilidade na próxima rodada, Náutico, e uma pedreira na última rodada, o Atlético-PR na capital paranaense, que poderá ou não querer alguma coisa, a depender da final da Copa do Brasil. Com relação ao Coritiba, pega o Botafogo em casa e o São Paulo fora, jogos que, para mim são incógnitas. Para o Coxa, a melhor coisa que poderia fazer neste momento é torcer pelo tricolor paulista contra a Ponte Preta, na Sul-Americana, pois assim suas chances aumentam, ao jogar contra um time, muito possivelmente, de reservas.

Um abraço a todo(a)s e até o final da 36ª rodada.

Fontes:

J.A.R. – H.C.

domingo, 24 de novembro de 2013

Charles Dickens - Conto de Natal (Capítulo 9)

Para ler o Capítulo 8, acesse o seguinte link.

DICKENS, Charles. Conto de Natal. Adaptação de Isabel Vieira. São Paulo: Rideel, 2003. (Coleção Aventuras Grandiosas)

Capítulo 9 (Págs. 27–29)
A lição dos espíritos
Sim, a coluna da cama! Scrooge estava na sua cama, no seu quarto! Ah, incrível ventura! Era também seu o futuro; o tempo que tinha pela frente seria empregado para corrigir os erros do passado!
– Hei de manter no meu coração os espíritos do Natal presente, passado e futuro! Todos os três! Ah, Jacob Marley, como lhe agradeço!
Estava tão agitado e radiante que a voz saía fraquinha. A cena violenta que tivera com o último espírito fizera-o chorar, e as lágrimas escorriam-lhe.
– As cortinas não foram arrancadas, nem as argolas! – gritou Scrooge, tocando o grosso tecido do cortinado do leito. – Ainda estão aqui, eu também estou aqui, e as sombras das coisas que poderiam ter acontecido hão de se desfazer, tenho certeza!
Enquanto fazia essas reflexões, Scrooge ria às gargalhadas.
– Sinto-me leve como uma pena, feliz como um anjo, alegre como um colegial!
Estou tonto como um ébrio! Boas-Festas! Feliz Ano-Novo a todos!
Do quarto passou à sala, onde se sentou, arquejante. Ali estava a porta por onde entrara o espectro de Jacob Marley. Ali estava o lugar onde o espírito do Natal presente havia se sentado. Era tudo verdade!
– Não sei que dia é hoje! – Scrooge ria sem parar. – Não sei quanto tempo estive com os espíritos! Não sei nada, sou uma perfeita criança! Quero ver gente!
Venham todos, venham!
Ouviu-se um vigoroso bater de sinos. Scrooge correu à janela, abriu-a e pôs a cabeça para fora. O nevoeiro se dissipara e a atmosfera estava clara, brilhante.
Scrooge achou o sol esplêndido, e o som dos sinos, maravilhoso.
– Que dia é hoje? – gritou a um rapazinho que passava.
– Hein? – estranhou o garoto.
– Que dia é hoje, meu bom amigo?
– Hoje?! Hoje é dia de Natal…
– É dia de Natal, bem que eu desconfiava! Os espíritos fizeram tudo numa única noite! Para os espíritos tudo é possível! Ei, rapaz! – chamou Scrooge. – Pode me fazer um favor? Conhece a loja de aves, ali na esquina? Será que já venderam o belo peru que lá estava? Não o pequeno. O grande. – Um quase do meu tamanho? Ainda está lá – respondeu o rapaz.
– Pois vá comprá-lo e volte correndo, quero lhe dar uns trocados. Traga junto o empregado da loja, pois o peru terá de se entregue num certo lugar…
O rapaz saiu em disparada, enquanto ele se divertia:
– Vou mandá-lo para a casa de Bob Gratchit! – Scrooge esfregava as mãos, contente. – Ele não saberá quem o enviou. Ah, como isso me diverte!
Logo o peru chegou, enorme. Duas vezes o tamanho do pequeno Tim!
– Quem poderá carregá-lo até o subúrbio? Melhor alugar um carro!
A satisfação com que Scrooge disse isso, o prazer com que pagou o peru, o sorriso com que deu dinheiro para o carro e recompensou o rapaz só foram excedidos pela satisfação com que se sentou numa cadeira, ofegante, até lhe saltarem dos olhos lágrimas de alegria.
Em seguida, Scrooge barbeou-se com as mãos trêmulas de emoção, vestiu-se com sua melhor roupa e saiu. Havia muita gente nas ruas, tal como quando ele as percorrera com o espírito do Natal presente. Olhava para todos com ar tão alegre, que lhe diziam: “Bom-dia, senhor! Boas-Festas!” Não tinha andado muito quando viu o cavalheiro distinto que lhe pedira donativos para os pobres. Envergonhado, Scrooge foi ao seu encontro.
– Meu caro senhor, como passou? Como foi a coleta de ontem? Que bondade sua pedir pelos necessitados! Muitas boas-festas!
– É o sr. Scrooge?
– Sim, e meu nome não deve lhe soar bem. Espero que me perdoe e…
Scrooge inclinou-se e completou o resto da frase no ouvido dele.
– Que diz? Tudo isso? Está falando sério? – admirou-se o outro.
– Muito sério. Nessa soma estão incluídas inúmeras contas passadas.
– Meu caro senhor, não sei como agradecer tanta generosidade…
– Eu é que agradeço! Muitíssimo obrigado! – cumprimentou-o Scrooge.
Dali dirigiu-se para a igreja, olhando o povo que passava, afagando as criancinhas, falando com os mendigos, espreitando para dentro das cozinhas, achando lindo tudo o que via. À tardinha, bateu à porta da casa do sobrinho.
Fred e a esposa estavam na sala de jantar. A empregada conduziu-o até eles, que o contemplaram com indescritível espanto.
– Meu Deus! Que vejo! – exclamou o sobrinho.
– Sou eu, seu tio Scrooge. Venho jantar. Dá licença, Fred?
Em cinco minutos, estava perfeitamente à vontade entre os convidados. No início, estes estranharam vê-lo, mas logo o aceitaram no grupo. E os donos da casa o trataram com tanta delicadeza que a reunião pareceu-lhe esplêndida.
No dia seguinte cedo, Scrooge fez questão de chegar ao escritório antes que seu empregado. Bob Gratchit apresentou-se alguns minutos depois.
– Isso são horas de chegar? – indagou Scrooge, esforçando-se para falar no tom áspero de antigamente.
– Não se repetirá, patrão, prometo – desculpou-se o pobre homem. – O Natal é só uma vez por ano, tivemos uma festa em casa, deitamos tarde e…
– Ouça o que tenho a lhe dizer – Scrooge saltou da poltrona e avançou para o empregado, que recuou, espavorido. – Boas-Festas, Bob! Melhores festas do que as que eu tenho lhe dado até hoje! – A frase soava tão sincera, que o empregado arregalou os olhos. – Vou aumentar seu salário e socorrer sua família.
Hoje mesmo, à tarde, falaremos sobre isso diante de um bom copo de vinho quente. Agora acenda as duas estufas e vá comprar carvão para nós.
Scrooge fez tudo o que prometeu e infinitamente mais. Para o pequeno Tim, que não morreu, foi como um segundo pai. Tornou-se tão bom amigo, tão bom patrão, tão bom homem como os melhores que existiram no mundo. Muitos riam da sua transformação, mas ele não se importava. Seu coração lhe sorria e isso lhe bastava.
Scrooge não voltou a encontrar os espíritos, embora tenha se tornado o homem que melhor sabia festejar o Natal. Oxalá isso aconteça com todos nós! E, como dizia o pequeno Tim, que Deus nos abençoe a todos!
(FIM)

Se houver interesse em apreciar uma adaptação cinematográfica do famoso conto de Dickens, ofereço o seguinte endereço de vídeo no Youtube: certamente não é a melhor representação que a sétima arte, até agora, foi capaz de oferecer - afinal, a película "Scrooge", de 1951, parece-me uma das melhores -, mas certamente é fidedigna, em sua narrativa, à obra do britânico.



J.A.R. - H.C.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Charles Dickens - Conto de Natal (Capítulo 8)

Para ler o Capítulo 7, acesse o seguinte link.

DICKENS, Charles. Conto de Natal. Adaptação de Isabel Vieira. São Paulo: Rideel, 2003. (Coleção Aventuras Grandiosas)

Capítulo 8 (Págs. 24–26)
Quem é o morto?
O espectro estendeu sua ampla túnica como se fosse uma asa, e os dois foram transportados a uma casa onde estava uma mulher rodeada pelos filhos.
Seus passos apressados, o modo como olhava toda hora a janela e o relógio, a dificuldade para concentrar-se na costura, tudo indicava que esperava alguém com ansiedade. Afinal, bateram na porta e ela correu ao encontro do marido, em cuja fisionomia abatida se notava uma expressão de contentamento que ele, envergonhado, em vão tentava disfarçar.
– Traz boas ou más notícias? – perguntou a mulher.
– Más! – respondeu ele.
– Estamos completamente arruinados?
– Não. Ainda há esperança, Caroline.
– Quer dizer que ele vai abrandar? Seria um verdadeiro milagre!
– Não terá que abrandar, pois já morreu – disse o marido.
A moça parecia uma boa criatura. Mas, ao ouvir a notícia, sentiu uma alegria tal que não pôde ocultar. Pediu perdão a Deus pelos seus sentimentos.
– Quando o procurei para pedir a prorrogação da dívida, a mulher que atendeu a porta disse que ele estava doente – explicou o marido. – Julguei que fosse desculpa para não me receber, mas era verdade. Ele estava moribundo.
– E agora? Para quem será transferida a nossa dívida?
– Não sei, mas espero que o novo credor seja mais humano do que ele.
Podemos dormir sossegados esta noite, Caroline.
Scrooge percebeu que aqueles corações se sentiam aliviados de um peso esmagador. A morte de um homem restituíra a alegria a uma família.
– Gostaria de ver um lugar onde reinasse a saudade causada pela morte, espírito! – pediu. – Aliás, aquele horrível leito não me sai da cabeça…
O espectro conduziu-o por ruas que lhe pareciam familiares. Entraram na casa do pobre Bob Gratchit, onde Scrooge já tinha estado com o espírito do Natal presente, e viram a dona da casa rodeada pelos filhos, junto da estufa.
A mãe e as filhas pareciam absortas no trabalho de costura. As crianças não brincavam como de costume. Peter lia um livro em voz alta.
– A luz do candeeiro me faz chorar, e não quero ter lágrimas nos olhos quando seu pai chegar – disse a mãe, pondo o trabalho de lado.
– Já passa da hora. Ele tem andando devagar ultimamente – disse Peter.
– Quando carregava nosso pobre Tim às costas, andava depressa.
– É verdade, nem sentia o peso dele – concordaram os irmãos.
– Era tão levinho! – prosseguiu a mãe. – E seu pai gostava tanto dele que não lhe custava nada carregá-lo… Ouçam, ele está batendo à porta…
Bob Gratchit entrou com o velho cachecol enrolado no pescoço e todos correram para oferecer-lhe chá. Os dois filhos menores pularam no seu colo e encostaram os rostinhos no dele, consolando-o: “Não fique triste, papai!” Bob esforçou-se para se mostrar contente. Elogiou a rapidez com que a costura da mulher e das filhas avançava. A esposa, por fim, perguntou:
– Você foi lá hoje, não foi?
– Fui. Pena não ter levado você. Iria gostar de um lugar tão verde. Mas haveremos de ir outras vezes. Nosso pobre filhinho!
Ao falar do filho, Bob não pôde conter a dor. Os soluços embargaram-lhe a voz e ele subiu as escadas, permanecendo uns minutos no quarto até se recompor.
Voltou mais calmo e a conversa à volta do fogo continuou.
– O sobrinho de Scrooge foi muito bondoso conosco – contou. – Eu o encontrei na rua. Ele me deu seu cartão, dizendo: “Sinto muito, e se puder lhes prestar algum favor, terei nisso muito gosto”. Parecia até que tinha conhecido nosso querido Tim e que sua morte lhe causara verdadeira mágoa.
– Deve ser uma boa alma! – disse a esposa.
– Com certeza. Quem sabe ainda arruma um emprego para nosso Peter.
– Ouviu isso, Peter? – tornou a mãe.
– Aí Peter se casa e nos deixa… – queixou-se uma das irmãs.
– Decerto que isso acontecerá um dia, meus filhos – disse Bob Gratchit. – Mas, onde quer que estejamos, unidos ou separados, nenhum de nós jamais esquecerá nosso querido Tim, não é verdade?
– Nunca, papai. Nunca nos esqueceremos dele – gritaram todos.
– Espectro! – disse Scrooge. – Diga-me: quem era o homem que vimos em seu leito de morte?
O espírito do Natal futuro levou-o à parte da cidade onde imperava a febre dos negócios, e Scrooge, como da primeira vez, não viu a si mesmo. Seu guia passou depressa pelo bairro onde ele morava, mas não parou.
– Espírito, naquela rua morei muito tempo. Lá está a casa. Quero ver o que serei no futuro. Por favor, pare um instante!
O dedo apontava outra direção.
– A casa é aquela, espírito. Por que me mostra outro caminho?
Scrooge espiou pela janela e viu que o local era ainda um escritório, mas não o seu. A mobília era outra, e havia outra pessoa sentada à mesa. O espectro, imperturbável, continuava a apontar a mesma direção. Scrooge foi obrigado a segui-lo e vaguearam muito tempo, chegando a uma porta de ferro.
Era um cemitério. Ali devia jazer, sem dúvida, o homem cujo nome ele enfim ia saber. O espírito parou entre os jazigos e apontou um deles.
– Antes de eu me aproximar, responda-me, espírito! – Scrooge tremia, cheio de terror. – Essas sombras pertencem a coisas que irão forçosamente acontecer ou que apenas poderão acontecer?
O espírito continuou a apontar.
– Já sei. As ações dos homens podem fazer prever certos fins. Mas, se eles se corrigirem a tempo, os fins também mudarão. É o que devo entender?
O espectro conservou-se impassível.
Scrooge, tremendo muito, seguiu a direção que a mão indicava e leu na pedra de um túmulo abandonado o seu próprio nome: “Ebenezer Scrooge”.
– Então sou eu o homem que vi morto, abandonado no leito? – Scrooge caiu de joelhos, chorando. – Não, espírito! Não! Não!
O espectro não se moveu.
– Espírito! – gritou, agarrando-se à sua túnica. – Ouça-me! Não sou o homem que fui! Serei outro daqui em diante! Por que me mostra essas coisas, se para mim não há esperança?
Pela primeira vez o dedo pareceu vacilar.
– Bondoso espírito! – continuou Scrooge. – Interceda por mim, tenha compaixão!
Diga-me que posso mudar meu destino e levar uma vida nova! Hei de honrar o Natal no meu coração todos os anos! Hei de guardar os espíritos do Natal presente, do passado e do futuro e seguir suas lições! Diga-me que posso apagar a inscrição daquela pedra!
Na sua dor, Scrooge agarrou com força a mão do espectro, que o repeliu.
Ao tentar novamente pegá-la, Scrooge viu com surpresa o fantasma diminuir de tamanho, encolher-se e transformar-se numa das colunas da cama.
Para ler o Capítulo 9, acesse o seguinte link.
J.A.R. - H.C.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O Brilho Intelectual como Fator de Atração

O leitor deste blog pode bem aferir, pela descrição de meu perfil, postado à sua esquerda superior, que tenho particular apreço às pessoas que expressam com brilho as suas ideias, por mais contraditórias ou excêntricas que sejam.

Mais do que pugnar por qualquer pretensão de verdade, sou afeiçoado ao modo como o pensamento é expresso pelos interlocutores. Há formas cultivadas de se manter uma conversação, e o padrão britânico que, com frequência, é veiculado pelo cinema ali produzido, não deixa de nortear o comportamento dito civilizado, pelo menos aqui pelas bandas ocidentais.

Claro está que não sou fleumático como os ingleses. Antes, sou sanguíneo, latino, birrento às vezes. Mas jamais perco a visão do conjunto e do que é importante. E para mim, tal como a beleza para o poeta Vinicius de Moraes, vivacidade de intelecto é fundamental!

E aqui resgato uma passagem que Theodore Zeldin, em sua obra “Uma História Íntima da Humanidade”, atribui ao artista renascentista italiano Michelangelo Buonarroti, famoso pintor dos afrescos da Capela Sistina, no Vaticano, e que, até certo ponto, se adéqua ao meu jeito de apreciar a beleza:

De todos os viventes, sou o mais inclinado a amar pessoas. Onde quer que encontre alguém com certo talento ou mostras de agilidade mental, capaz de fazer ou dizer algo mais expressivamente que o resto da humanidade, vejo-me compelido a me apaixonar e me dedico de forma tão intensa que já não me pertenço mais, mas a ele, e totalmente (MICHELANGELO apud ZELDIN, 2008, p. 155-156). 


O parágrafo acima, que serviu de mote para este ‘post’, pertence ao desenvolvimento da seção que, no livro, se intitula “Como o desejo dos homens pelas mulheres, e por outros homens, mudou ao longo dos séculos”. O internauta atento pode inferir o que este blogueiro andou a deduzir das linhas de argumentação do texto: atração homossexual como corolário de atração intelectual. Afinal, Michelangelo, se a tradução estiver correta, afirma, ao fim, que não mais se pertence, mas a ele (e por que não a ela?) por paixão que adjetiva como avassaladora.

Não chego a tanto: da forma como usufruo as coisas, não há interseções ou detrimentos ontológicos, mas apenas exercícios de admiração. A beleza pode estar lá... e eu aqui! (rs).

J.A.R. – H.C.

REFERÊNCIA:

ZELDIN, Theodore. Uma história íntima da humanidade. Tradução de Hélio Pólvora. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Charles Dickens - Conto de Natal (Capítulo 7)

Para ler o Capítulo 6, acesse o seguinte link.
DICKENS, Charles. Conto de Natal. Adaptação de Isabel Vieira. São Paulo: Rideel, 2003. (Coleção Aventuras Grandiosas)

Capítulo 7 (Págs. 20–23)
O espírito do Natal futuro
O fantasma aproximou-se silenciosamente. O ar que ele atravessava ia deixando a escuridão mais lúgubre. Sem saber por que, Scrooge ajoelhou.
O espírito estava envolvido num manto negro, que lhe ocultava a cabeça, as faces e o corpo, deixando ver apenas um braço estendido. Era alto e não falava nem se movia, enchendo Scrooge de misterioso terror.
– Estou na presença do espírito do Natal futuro? – perguntou.
O espectro não respondeu. Apenas apontou-lhe o caminho com o dedo.
– Vem me mostrar coisas que ainda não aconteceram, mas que hão de se dar no tempo que virá, não é verdade, espírito? – Scrooge continuou.
A parte superior da túnica se contraiu. Essa foi sua resposta.
Embora já estivesse habituado a fantasmas, Scrooge sentia tanto pavor do silêncio deste que as pernas tremiam e ele não era capaz de caminhar. O espírito percebeu e lhe deu tempo para recuperar as forças.
– Espectro do futuro! – exclamou. – Temo-o mais que aos outros que vieram, mas, como sei que seu propósito é fazer-me bem, e como espero me tornar um homem diferente, estou pronto para viajar em sua companhia com a maior satisfação.
Não me responde?
Como única resposta, a mão continuou apontando firmemente.
– Vamos, então! A noite não espera e o tempo é precioso para mim!
Scrooge seguiu a sombra. Não sabia dizer se caminhavam para a cidade ou se, ao contrário, era a cidade que vinha se expor à sua observação.
Notou que estavam na Bolsa de Valores, entre negociantes que andavam de um lado a outro apressadamente, fazendo tilintar o dinheiro no bolso, conversando em grupos e balançando as correntes de ouro, como Scrooge os vira tantas vezes.
O espírito parou junto de um grupo e apontou. Scrooge ouviu-os dizer:
– Não sei de nada. Sei apenas que morreu – falou um homem gordo.
– Quando? – perguntou outro.
– A noite passada.
– Morreu! – disse um terceiro. – Pensei que esse homem fosse eterno!
– Que fez ele do dinheiro? – perguntou outro, de nariz grande.
– Não sei. Com certeza não o deixou para mim! – respondeu o gordo.
A pilhéria foi acolhida com uma gargalhada geral.
– O funeral não há de ser caro – tornou o mesmo. – E se fôssemos lá a passeio, mesmo sem convite?
– Eu só iria se houvesse um bom almoço. Sem almoço, não vou.
Outra gargalhada seguiu-se à nova brincadeira. O grupo dispersou-se e Scrooge, que conhecia todos os presentes, olhou para o espírito como a pedir uma explicação. O fantasma dirigiu-se para outra rua e apontou dois homens que conversavam. Scrooge julgou que fosse ter a explicação que queria.
– Como vai? – dizia um deles.
– Bem, obrigado. Então o velho morcego liquidou a conta para sempre?
– É o que dizem. Que frio, não é?
– Sempre faz frio no tempo de Natal.
Scrooge admirou-se de que o espírito desse atenção a conversas triviais como aquela, mas, refletindo melhor, achou que devia existir uma razão oculta para isso. Qual seria? Não era provável que os homens se referissem à morte de Jacob Marley, seu sócio, pois isso fazia parte do passado, e o espírito só se ocupava de coisas futuras. Também lhe pareceu não haver relação entre o que ouvira e sua própria pessoa. Mas, convencido de que receberia alguma lição para seu aproveitamento, pôs-se a observar as cenas com cuidado.
Procurou a imagem de si mesmo na Bolsa de Valores, mas viu outro homem no lugar que habitualmente ocupava. Não se admirou muito, pois, como fantasiava levar uma nova vida no futuro, talvez sua ausência fosse resultado desse projeto. Impassível e negro, o espectro mantinha-se a seu lado, apontando. Parecia que seus olhos invisíveis fitavam Scrooge. Ele estremeceu.
Deixaram aquele cenário e foram a uma parte da cidade onde Scrooge nunca havia estado. As ruas eram estreitas e sujas; as casas e lojas, miseráveis; as pessoas, maltrapilhas. Becos e travessas pareciam cloacas, exalando terrível mau cheiro. Pararam na frente de uma loja de artigos usados. Entre trapos, garrafas, peças de ferro velho, ossos e sebo de animais, havia um velho de uns setenta anos, cabelos grisalhos, mal encarado, que se abrigava do frio atrás de uma cortina esfarrapada e tirava baforadas do seu cachimbo.
Scrooge e o espírito chegaram ali no momento em que duas mulheres se aproximavam, carregando cada qual uma trouxa. Um homem vestido de preto, com um pacote na mão, chegou em seguida. Os três ficaram surpresos por se encontrarem no mesmo lugar e desataram a rir com a coincidência.
– A primeira a ser atendida serei eu, a jornaleira – disse uma mulher. – Em seguida, a lavadeira; e o agente funerário, por último. Venha aqui, velho Joe, venha ver a pechincha que eu lhe trouxe!
O dono do estabelecimento fez os três entrarem numa sala imunda.
A jornaleira jogou sua trouxa no chão e lançou aos outros um olhar desconfiado.
– Por que esse espanto, Sra. Dilbert? – disse à outra, com maus modos.
– Temos o direito de cuidar do que é nosso! Não foi o que “ele” fez em vida?
– É verdade – concordou a lavadeira. – Sei disso melhor que ninguém.
– Decerto – completou o homem de roupa preta.
– Quem sentiria falta destas tralhas? Não o morto, certamente – tornou a jornaleira. – Se tivesse sido mais generoso, teria quem lhe fechasse os olhos em vez de se debater só, até o último suspiro. Vamos, Joe, abra a trouxa e diga quanto me pagará por estas bugigangas…
Mas o homem de roupa preta passou na frente das duas e exibiu sua pilhagem, que não era grande: carimbos, lapiseiras, abotoaduras e um alfinete de pouco valor. Joe avaliou cada peça e somou os valores na parede, com giz.
– Aqui está sua conta. A outro eu não daria tanto. Quem é o seguinte?
A jornaleira trouxera toalhas, lençóis, roupas e talheres de prata antigos.
– Dou sempre muito às mulheres. É uma fraqueza minha – gabou-se o velho Joe. – Vamos, pegue logo o dinheiro antes que eu mude de ideia.
Chegou a vez da lavadeira, a Sra. Dilbert. Joe desatou a trouxa.
– Que é isto? Cortinas de cama?
– Sim – respondeu ela, rindo.
– E você as tirou com argolas e tudo, estando ele lá dentro?
– Decerto. Por que não? Quando posso pegar alguma coisa, não penso duas vezes. Cuidado, Joe, não vá derramar azeite nos cobertores.
– Os cobertores dele?
– Com certeza ele não sente mais frio – disse a Sra. Dilbert.
– Não teria morrido de alguma doença contagiosa? – riu o velho Joe.
– Sei lá! Que me importa! Veja esta camisa, a melhor que ele tinha.
Por sorte cheguei primeiro e impedi que a vestissem no defunto.
Scrooge ouvia, horrorizado. Iluminados pela fraca luz do candeeiro, os quatro inspiravam-lhe repugnância, como se estivessem violando um cadáver.
– Teve um fim merecido – completou a Sra. Dilbert. – Metia tanto medo nas pessoas e agora, depois de morto, nos dá lucro! Ah! Ah! Ah!
– Espírito! – Scrooge tremia convulsivamente. – Agora compreendo.
O caso desse infeliz poderia ser o meu. Corro o risco de acabar do mesmo jeito…
Nessa hora a cena mudou e Scrooge recuou, espavorido. Estavam diante de um leito nu, sem cortinas, no qual se divisava o corpo inerte e abandonado de um homem, sem ninguém que o chorasse. O espectro apontava a cabeça do morto, mas Scrooge não ousou olhar para ela.
– Espírito, que lugar horrível este! Leve-me daqui!
O fantasma, imperturbável, continuava apontando o cadáver.
– Não posso olhá-lo! Não posso! – gritou Scrooge. Depois, com enorme comoção, completou: – Se existe alguma pessoa que tenha sentido esta morte, por favor, mostre-a, espírito!
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J.A.R. - H.C.