Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Beatriz Alcântara - Reveillon

Entre a esperança e a incerteza do futuro, a voz lírica alude a uma beldade que se entrega à tradição de se desejar aos pares um “feliz ano novo”, capturando a essência de um momento liminar, sustentado, em grande parte, por uma viagem sensorial e simbólica, digo melhor, pejada por imagens surreais, como se imersa estivesse num estado de sonho ou de transe.

 

Apesar dos esforços em abraçar os potenciais caminhos de esperança e de renovação franqueados pelo ano que se inicia, a jovem logo renuncia ao porvir, “contraindo matrimônio” com o passado, com o já findo ano, indicativo de que as promessas, costumeiramente feitas nos umbrais de um novo giro ao redor do sol, rapidamente se esvaem, mantidos, por conseguinte, os mesmos padrões, hábitos e práticas que a detêm exatamente no ponto onde se encontra.

 

J.A.R. – H.C.

 

Beatriz Alcântara

(n. 1943)

 

Reveillon

 

A noite feita de copos

encontrou-a virgem pura

distribuindo uvas

gritando imprudente:

– Feliz Ano Novo!

 

Depois desejou uma nuvem

caminhou na esteira da lua

ouviu o canto da pedra

bebeu o hálito do orvalho

chorou o anil do branco

e ao desprender-se da janela

contraiu núpcias com o ano que findou.

 

Reveillon em Paraty

(Mali Santos: pintora carioca)

 

Referência:

 

ALCÂNTARA, Beatriz. Reveillon. In: __________. Água da pedra. São Paulo, SP: Escrituras Editora, 1997. p. 85. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário