Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Odylo Costa, Filho - Soneto de Natal

O poeta se sente perdido, sozinho e desorientado em sua busca espiritual, longe dos guias capazes de conduzi-lo pelas sendas propícias à aproximação com o divino: ainda que perceba estar próximo da fonte de onde emana uma luz que inspira e dá robustez aos bons propósitos, há algo que o embaraça e o distancia desse reencontro com a fé.

 

O falante rememora nostalgicamente dos folguedos de infância, das reisadas que celebram a chegada dos Magos ao lugar onde se encontra o Menino e os seus pais, permitindo entrever, ao amparo desse explícito contexto natalino, o caráter simbólico de sua jornada de reconexão com o sagrado, diga-se de passagem, em tempos nos quais a secularização tende a lançar o seu manto escuro e frio de indiferença sobre o mundo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Odylo Costa, Filho

(1914-1979)

 

Soneto de Natal

 

A Luís Carta

 

Perdi-me dos pastores e sozinho

procuro o rastro do caminho certo.

Há luz no escuro mas não há caminho.

Fica tão longe o que parece perto!

 

Busco o Menino mas não adivinho

como encontrá-lo no meu passo incerto.

O desespero pesa como vinho.

É a dor apenas que me traz desperto.

 

Minhas mãos adormecem na quebrada

da noite, pelo frio da chapada.

A neblina se deita no horizonte.

 

Mas de repente esbarro na lembrança

das reisadas de quando era criança,

e Deus nasce do chão como uma fonte.

 

Em: “Cantiga incompleta” (1971)

 

Folia de Reis

(Rosmarie Reifenrath: artista suíço-brasileira)

 

Referência:

 

COSTA FILHO, Odylo. Soneto de Natal. In: __________. Poesia completa. Edição preparada por Virgílio Costa, com a colaboração do Instituto Odylo Costa, Filho. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano; Fundação Biblioteca Nacional, 2010. p. 441. 

 

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