O poeta se sente
perdido, sozinho e desorientado em sua busca espiritual, longe dos guias
capazes de conduzi-lo pelas sendas propícias à aproximação com o divino: ainda
que perceba estar próximo da fonte de onde emana uma luz que inspira e dá
robustez aos bons propósitos, há algo que o embaraça e o distancia desse
reencontro com a fé.
O falante rememora
nostalgicamente dos folguedos de infância, das reisadas que celebram a chegada
dos Magos ao lugar onde se encontra o Menino e os seus pais, permitindo
entrever, ao amparo desse explícito contexto natalino, o caráter simbólico de
sua jornada de reconexão com o sagrado, diga-se de passagem, em tempos nos
quais a secularização tende a lançar o seu manto escuro e frio de indiferença
sobre o mundo.
J.A.R. – H.C.
Odylo Costa, Filho
(1914-1979)
Soneto de Natal
A Luís Carta
Perdi-me dos pastores
e sozinho
procuro o rastro do
caminho certo.
Há luz no escuro mas
não há caminho.
Fica tão longe o que
parece perto!
Busco o Menino mas
não adivinho
como encontrá-lo no
meu passo incerto.
O desespero pesa como
vinho.
É a dor apenas que me
traz desperto.
Minhas mãos adormecem
na quebrada
da noite, pelo frio
da chapada.
A neblina se deita no
horizonte.
Mas de repente
esbarro na lembrança
das reisadas de
quando era criança,
e Deus nasce do chão
como uma fonte.
Em: “Cantiga
incompleta” (1971)
Folia de Reis
(Rosmarie Reifenrath:
artista suíço-brasileira)
Referência:
COSTA FILHO, Odylo. Soneto de Natal. In: __________. Poesia completa. Edição preparada por Virgílio Costa, com a colaboração do Instituto Odylo Costa, Filho. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano; Fundação Biblioteca Nacional, 2010. p. 441.



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