Merton procura nos falar
sobre o valor do silêncio, do poder da latência, do potencial oculto na
quietude do inverno, do vazio fértil – tão estreitamente vinculado às convenções
do zen-budismo –, sugerindo que tenhamos uma atitude de aceitação contemplativa
em relação aos ciclos da natureza, acolhendo a vida em todas as suas formas,
especialmente nas que não são tão óbvias, tampouco imediatas.
Há nas palavras do
monge trapista certa exortação a que demonstremos um amor desapegado, digo
melhor, sem intenções de controlar ou acelerar os processos naturais, mas, antes,
de neles depositar confiança pelo que ainda não se revelou, por tudo aquilo que
é inerente ao processo de crescimento e de existência – mesmo as fraquezas e as
vulnerabilidades.
J.A.R. – H.C.
Thomas Merton
(1915-1968)
Love Winter When the Plant Says Nothing
O little forests, meekly
Touch the snow with low branches!
O covered stones
Hide the house of growth!
Secret
Vegetal words,
Unlettered water,
Daily zero.
Pray undistracted
Curled tree
Carved in steel –
Buried zenith!
Fire, turn inward
To your weak fort,
To a burly infant spot,
A house of nothing.
O peace, bless this mad place:
Silence, love this growth.
O silence, golden zero
Unsetting sun
Love winter when the plant says nothing.
In: “Emblems of a
Season of Fury” (1963)
Quinta no inverno em
Llanellen (WL)
(David Bellamy: artista
galês)
Afeiçoa-te ao inverno
quando a planta jaz em mudez
Ó pequenos bosques,
tocai docilmente
A neve com os ramos mais
baixos!
Ó veladas fragas,
Ocultai a morada do
medrar!
Secretas
Palavras vegetais,
Iletrada água,
Zero diário.
Reza sem distrações
Espiralada árvore
Esculpida em aço –
Zênite enterrado!
Fogo, volta-te para
dentro
Para tua débil
fortaleza,
Para um fornido sítio
da infância,
Um assento do nada.
Ó paz, abençoa este
lugar demente:
Silêncio, preza por esse
medrar.
Ó silêncio, zero
dourado
Sol sem ocaso
Afeiçoa-te ao inverno
quando a planta jaz em mudez.
Em: “Emblemas de uma
Estação de Fúria” (1963)
Referência:
MERTON, Thomas. Love winter
when the plant says nothing. In: __________. The collected poems of Thomas Merton.
6th print. New York, NY: New Directions, 1980. p. 353.



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