Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Thomas Merton - Afeiçoa-te ao inverno quando a planta jaz em mudez

Merton procura nos falar sobre o valor do silêncio, do poder da latência, do potencial oculto na quietude do inverno, do vazio fértil – tão estreitamente vinculado às convenções do zen-budismo –, sugerindo que tenhamos uma atitude de aceitação contemplativa em relação aos ciclos da natureza, acolhendo a vida em todas as suas formas, especialmente nas que não são tão óbvias, tampouco imediatas.

 

Há nas palavras do monge trapista certa exortação a que demonstremos um amor desapegado, digo melhor, sem intenções de controlar ou acelerar os processos naturais, mas, antes, de neles depositar confiança pelo que ainda não se revelou, por tudo aquilo que é inerente ao processo de crescimento e de existência – mesmo as fraquezas e as vulnerabilidades.

 

J.A.R. – H.C.

 

Thomas Merton

(1915-1968)

 

Love Winter When the Plant Says Nothing

 

O little forests, meekly

Touch the snow with low branches!

O covered stones

Hide the house of growth!

 

Secret

Vegetal words,

Unlettered water,

Daily zero.

 

Pray undistracted

Curled tree

Carved in steel –

Buried zenith!

 

Fire, turn inward

To your weak fort,

To a burly infant spot,

A house of nothing.

 

O peace, bless this mad place:

Silence, love this growth.

 

O silence, golden zero

Unsetting sun

 

Love winter when the plant says nothing.

 

In: “Emblems of a Season of Fury” (1963)

 

Quinta no inverno em Llanellen (WL)

(David Bellamy: artista galês)

 

Afeiçoa-te ao inverno quando a planta jaz em mudez

 

Ó pequenos bosques, tocai docilmente

A neve com os ramos mais baixos!

Ó veladas fragas,

Ocultai a morada do medrar!

 

Secretas

Palavras vegetais,

Iletrada água,

Zero diário.

 

Reza sem distrações

Espiralada árvore

Esculpida em aço –

Zênite enterrado!

 

Fogo, volta-te para dentro

Para tua débil fortaleza,

Para um fornido sítio da infância,

Um assento do nada.

 

Ó paz, abençoa este lugar demente:

Silêncio, preza por esse medrar.

 

Ó silêncio, zero dourado

Sol sem ocaso

 

Afeiçoa-te ao inverno quando a planta jaz em mudez.

 

Em: “Emblemas de uma Estação de Fúria” (1963)

 

Referência:

 

MERTON, Thomas. Love winter when the plant says nothing. In: __________. The collected poems of Thomas Merton. 6th print. New York, NY: New Directions, 1980. p. 353.


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