Alpes Literários

Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 31 de maio de 2015

Rossyr Berny - dos homens que sou

O poeta gaúcho Rossyr Berny se vê quase como uma personalidade heteronímica à Fernando Pessoa (rs), pois sendo um se expressa por meio de muitos homens.

Brincadeira, Berny não chega a tanto: seu poema busca manifestar as múltiplas possibilidades do pensar e do agir humano, com intertextos e referências bíblicas voltadas à ideia de comunhão e de igualdade, ainda que projetadas no futuro.

No presente, vivencia a potencialidade de transformação de estados menos benignos ou prósperos, para outros de maior ventura.

J.A.R. – H.C.

Rossyr Berny
(n. 1952)

de los hombres que soy

I

de los hombres que soy
el menos humano
lame las heridas del nino pobre
para que adormezca     

de los hombres que soy
el más pacífico
hace huelga de hambre por libertad
(vendado en el médio del tráfico intenso)

de los hombres que soy
el más oscuro
incendia el planeta
con todas las luces
que los injustos apagaron hasta aquí

de los hombres que soy
el más precário
es operário de dieciocho horas diárias
(pero el dueño de las llaves de la justicia final)

de los hombres que soy
el menos amoroso
es todo tan tuyo
que será hasta cuando
ni yo, mas sea mio

II

de los hombres que aún seré
el menos justo ya arquitecta
infalible
la multiplicacion y división de los panes y de los peces

para que la mayor victoria
sea siempre la igualdad
entre los hombres de buena voluntad

Um Jovem à sua Janela
(Gustave Caillebotte: pintor francês)

dos Homens que Sou

I

dos homens que sou
o menos humano
lambe as feridas da criança pobre
para que adormeça

dos homens que sou
o mais pacífico
faz greve de fome por liberdade
(vendado no meio do trânsito intenso)

dos homens que sou
o mais escuro
incendeia o planeta
com as luzes todas
que os injustos apagaram até aqui

dos homens que sou
o mais precário
é operário de dezoito horas diárias
(mas dono das chaves da justiça final)

dos homens que sou
o menos amoroso
é todo tão teu
que será até depois de nem eu mais ser meu

II

dos homens que ainda serei
o menos justo já arquiteta
infalível
a multiplicação e divisão dos pães e dos peixes

para que a maior vitória
seja sempre a igualdade
entre os homens de boa vontade

Referências:

Em espanhol:

BERNY, Rossyr. De los hombres que soy. In: BACCA, Ademir Antonio (Org.). Poesía de Brasil. v. 2. Traducción al español de Gabriel Solis. Bento Gonçalves (RS): Proyecto Cultural Sur/Brasil, 2000. p. 169-170.

Em português:

BERNY, Rossyr. Dos homens que sou. In: CAMARGO, Dilan (Org.). Antologia do sul: poetas contemporâneos do Rio Grande do Sul. 2. ed. Porto Alegre, RS: Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul / Metrópole Indústria Gráfica, 2001. p. 206-207.

sábado, 30 de maio de 2015

Erjk Undegren - Mãe Cósmica

Elaborado no verão de 1946, para inclusão em livro que, de fato, foi publicado em 1947, com reproduções de telas de artistas surrealistas do “Grupo de Halmstad”, o poema “Mãe Cósmica”, acompanha reprodução homônima de autoria do pintor sueco Waldemar Lorentzon (1899-1984), de 1935.

Erjk (ou Erik), também sueco, autoidentifica-se com certa dimensão filosófica unificadora do universo, tudo em um, apesar de toda a diversidade que possa se manifestar perante os falíveis olhos humanos.

Suas palavras acompanham o sentido da pintura de Lorentzon – como se pode verificar na imagem reproduzida a seguir –, a conceber a Terra, v.g., como um organismo vivo, Gaia, elemento primordial e latente de um magnífico potencial gerador.

J.A.R. – H.C.

Erik Lindegren
(1910-1968)


var i mig dina vintergators andning
var i mig den du redan är och alltid har varit
en dröm bortom drömmens berg och bortom hemligheten
något verkligare än verkligheten
något som jag varken kan glömma eller minnas
något som mörka skepp som vandrar upp mot fyren
något som moln som ljusa klippor och klippor som mörka moln
något som förvandlar ofattbar köld till ofattbar värme
något som var i mig och förvandlade mig
o förvandla mig
gör mig till en hamn för min oros skepp
vänta mig under jorden
sök mig i min urna
o förvandla mig och var i mig
så som jag omärkligt vilar i dig
i medvetslös dröm om dina ögons stjärnbild

“Kosmisk Moder” (“Sviter” - 1947)

Mãe Cósmica
(Waldemar Lorentzon: pintor sueco)

Mãe Cósmica

sê em mim a respiração das tuas vias lácteas
sê em mim a que já és e sempre tens sido
um sonho do outro lado da montanha dos sonhos e para além do                                                                   mistério
algo mais real que a própria realidade
algo que nem esquecer nem recordar posso
algo como soturnas naves vagueando para a luz do farol
algo como nuvens tais luminosas rochas e rochas quais nuvens                                                                       sombrias
algo que torna o frio inconcebível inconcebível calor
algo que esteve em mim e me transfigurou
ó transfigura-me
converte-me em porto para o navio da minha inquietude
espera por mim no seio da terra
procura-me na minha urna
ó transfigura-me e sê em mim
tal como insensível em ti repouso
no sonho da inconsciência e na constelação de teus olhos

“Mãe Cósmica” (“Suítes” - 1947)

Referência:

UNDEGREN, Erjk. Mãe cósmica. In: DUARTE, Silva (Seleção e tradução). Cinco poetas suecos. Lisboa, PT: Casa Portuguesa, 1966. p. 79.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Jorge de Sena - “De uma Poesia...”

Um poeminha para o dia: um carme do português Jorge de Sena a falar de poesia, de sua dimensão pacífica ou revolucionária, neutra ou engajada.

Seja inverno ou primavera, emerge ela sempre de um espasmo de dor, metáfora de toda criação, concepção, nascimento, parto.

Mas sempre poesia, um ‘insight’ idiossincrático do poeta, tantos por cento de inspiração e outros tantos de esforço consciente.

J.A.R. – H.C.

Jorge de Sena
(1919-1978)

“De uma Poesia...”

(em estilo do Largo da Portagem, em Coimbra)

De uma poesia esperam
tanta cousa!
E logo desesperam,
se não ousa.

Mas a poesia nada tem com isso.
Ela não diz nem faz,
nem está sequer ao teu ou meu serviço.
Serão visões da paz,
aquilo que ela traz:
mas quanta guerra para falar nisso!

Uma só coisa ela terá, se for
(e espera ou desespera,
conforme o meu, o teu, o nosso amor):
Inverno ou Primavera,
e sempre uma outra dor.

(1960)

Paz
(Shelly Penko: artista norte-americana)

Referência:

SENA, Jorge. “De uma poesia...”. In: __________. Versos e alguma prosa de Jorge de Sena. Prefácio e selecção de textos de Eugénio Lisboa. Lisboa, PT: Arcádia e Moraes, 1979. p. 87.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Joan Oliver - Há coisas por demais puras

Pere Quart, pseudônimo do poeta catalão Joan Oliver, já esteve presente nestas paragens (veja aqui). E como se trata de um poeta dos melhores, retorna neste momento, para lançar bravatas àqueles vates “verbosos”, que nada dizem a não ser um emaranhado de palavras selecionadas ao léxico, mas que não atingem o cerne mesmo da poesia.

Para tantas palavras lançadas ao léu, Quart sugere a apreciação mais ponderada do silêncio: que se faça valer a potência de cada lágrima derramada, de cada sussurro escandido, eis que são o lídimo “cântico da vida”.

J.A.R. – H.C.

Joan Oliver
(1899-1986)

Hi ha coses massa pures

Hi ha coses massa pures
per a ser dites
o només pensades.
Però els poetes,
incontinents, verbosos,
gosen inquietar les zones inefables
amb triades paraules
al capdavall estúpides.

I pretenen encara
ser els torsimanys
de la musa inservible
O d’algun déu
com tots sobrer.
¿O espremen d’ells mateixos
sucs celestes, potser?
Sort que escassegen els miralls,
puix que els poetes, en efecte,
són ben ridículs
en llur jactància.

Valdria més callar,
que tots calléssim.
I aleshores parar les grans orelles
i aprendre alguna cosa
dels planys, les boniors,
el càntic de la vida;
dels entranyats batecs
i els admirables – malgrat tot –
silencis animais
de l’home,
quasi impossible provatura.

Pureza
(Jan Lawnikanis: artista australiano)

Há coisas por demais puras

Há coisas por demais puras
para serem faladas
ou pensadas, que seja.
Mas os poetas,
intrometidos, verbosos,
ousam inquietar as zonas inefáveis
com seletas palavras
de fato estúpidas.

E pretendem ainda
ser alcoviteiros
de uma musa imprestável
ou de algum deus
como todos sobejo.
Ou espremem deles mesmos
sucos celestiais, quem sabe?
Ainda bem que escasseiam espelhos
porque os poetas, em verdade,
são bem ridículos
na sua empáfia.

Melhor seria calar
– nós todos, calar –
E, então, escancarando orelhas,
aprender muita coisa
dos prantos, os sussurros,

o cântico da vida;
dos entranháveis pulsos
e os fascinantes – apesar de tudo –
silêncios animais
do homem,
experiência como que impossível.

Referência:

Oliver, Joan. Hi ha coses massa pures / Há coisas por demais puras. In: SOLER, Luís (Organização e tradução). 4 poetas da Catalunha. Florianópolis, SC: Editora da UFSC, 2010. Em catalão: p. 74 e 76; em português: 75 e 77.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Martha Medeiros - 230. Se ele nunca falta ao trabalho

Um poema que bem pode causar controvérsia entre as próprias mulheres, sejam elas feministas ou não. “Toda mulher é mulher de bandido” não tem a amplitude de um chavão recorrente: ele somente reprisa a perspectiva de algumas mulheres em seus relacionamentos com os homens, haja vista que é certo que há “homens bandidos” e muitos outros que não o são; do mesmo modo que há mulheres “santas” e outras tantas que não o são!

O poema parece refletir o consabido dilema com que Freud se defrontou ao lançar a mais do que reprisada provocação: “De fato, o que querem as mulheres?” Algo meio congênere aos dilemas do querer, como se nos apresenta na letra da música “Quereres”, de Caetano Veloso.

Para não me alongar, apenas uma constatação: por vezes fico perplexo como é que algumas mulheres apreciam o enredo de “Atração Fatal”, filme de 1987, do direito Adrian Lyne. Afinal, a película é bem oblíqua no seu escopo, ao veicular a ideia do desastre que é a infidelidade conjugal, ao custo de satanizar a figura feminina que entra numa relação dessas, mas nunca a do homem!

Aprecio o discurso sem induções excessivamente temerárias! O ser humano é uma esfinge e nem sempre se é um Édipo com vocação para desvendá-la!

J.A.R. – H.C.

Martha Medeiros
Poetisa Gaúcha
(n. 1961)

230. se ele nunca falta ao trabalho

se ele nunca falta ao trabalho
queremos um homem que jogue sinuca
se ele nos ama acima de tudo
queremos um homem que atraia piranhas
se ele é limpo, bonito e cheiroso
queremos um homem com barba na cara
se ele traz flores, bombons e diamantes
queremos um homem que suma três dias

se ele chama por outra na cama
queremos um homem que decore poesia
se ele cospe na pia e come com os dedos
queremos um homem com brasão de família
se ele aos domingos aposta em cavalos
queremos um homem de gravata
se ele bate o telefone na cara
queremos um homem educado e comovido

toda mulher
é mulher de bandido

Portrait of Sir John and Lady Clerk of Penicuik
(Henry Raeburn: 1756-1823)

Referência:

MEDEIROS, Martha. 261. se ele nunca falta ao trabalho. In: __________. Poesia reunida. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 170-171. (Coleção L&PM Pocket; v. 165)

terça-feira, 26 de maio de 2015

Wallace Stevens - Peter Quince ao Teclado (IV)

“Peter Quince ao Teclado” é um poema em quatro partes, extraído do primeiro livro de poesias do poeta norte-americano Wallace Stevens. A seção IV, que abaixo transcrevemos, faz alusão à história bíblica de Susana (Daniel 13), uma jovem e bela mulher ao banho, espionada por dois anciãos.

A passagem é bastante conhecida pela inflexão que promove sobre a ideia platônica de beleza. Em vez de afirmar que a beleza é uma forma perfeita que está para além do mundo palpável dos cinco sentidos, um conceito abstrato e imutável no espírito, Stevens afirma que “a beleza é momentânea na mente”.

Stevens, de fato, pretende unir a ideia de beleza a uma imagem que se fixa na mente, ainda que efêmera, transitória no corpo humano. Pode ela deteriorar, mas a mente é capaz de capturá-la em sua manifestação fenomênica e fazê-la perdurar no estado psíquico de quem a experimentou, por quanto tempo se prolongar a sua vida.

J.A.R. – H.C.

Wallace Stevens
(1879-1955)


IV

Beauty is momentary in the mind −
The fitful tracing of a portal;
But in the flesh it is immortal.
            
The body dies; the body’s beauty lives,
So evenings die, in their green going,
A wave, interminably flowing.
So gardens die, their meek breath scenting
The cowl of Winter, done repenting.
So maidens die, to the auroral
Celebration of a maiden’s choral.
           
Susanna’s music touched the bawdy strings
Of those white elders; but, escaping,
Left only Death’s ironic scrapings.
Now, in its immortality, it plays
On the clear viol of her memory,
And makes a constant sacrament of praise. 


Corpo e Alma
(Talantbek Chekirov: pintor quirguistanês)

Peter Quince ao Teclado

IV

A beleza na mente é momentânea –
O debuxar incerto de um portal;
Entretanto, na carne ela é imortal.

O corpo morre; vive a beleza do corpo.
Assim morrem as tardes, partem verdemente,
Uma vaga a fluir interminavelmente.
Assim morre o jardim, deixando seu alento
No capuz hibernal, sem arrependimento.
Assim morrem as virgens, vão-se na auroreal
Celebração de um coro virginal.

Tocou Susana com sua música as devassas
Cordas dos velhos brancos; mas, ao escapar,
Só deixou para a Morte o irônico arranhar.
E na imortalidade, agora, está a compor,
Tocando na viola clara da memória,
Um incessante sacramento de louvor.

Referência:

STEVENS, Wallace. Peter Quince at the clavier (IV) / Peter Quince ao teclado (IV). In: VIZIOLI, Paulo (Seleção e Tradução). Poetas norte-americanos. Antologia bilíngue. Edição Comemorativa do Bicentenário da Independência dos Estados Unidos da América: 1776-1976. Rio de Janeiro, RJ: Lidador, 1974. p. 72.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Paulo Mendes Campos - O Poeta no Bar

O mineiro Paulo Mendes Campos é mais conhecido entre nós pelas suas crônicas, tanto mais que militou no jornalismo por longo tempo. De nossa parte, lembramo-nos de sua contribuição para um dos volumes da série “Para Gostar de Ler”, lá pelos idos dos 80.

Mas Campos também compôs belos poemas, como o que ora carreamos a este espaço: “O Poeta no Bar”. O poeta descortina na expressão artística, qualquer que seja a sua forma – pintura, música, teatro ou poema –, o veículo de exteriorização de algo que calou fundo num espírito insondável.

J.A.R. – H.C.

Paulo Mendes Campos
(1922-1991)

O Poeta no Bar

Que fazer de um instrumento,
Violoncelo, fonte, flauta,
A buscar um sofrimento
Que se encontra além da pauta?
Quando perdemos a voz,
Fala de nós e por nós
O personagem sem medo
Cujas palavras de olvido
Compõem o outro sentido
Do segredo de um degredo.

Tudo que rói e escalavra,
Dente de marfim do mar,
Faca do vento a passar,
Lembra a busca da palavra.
Só conhecer a ciência,
Mallarmaica paciência,
Capaz de achar a vogal
Que surde empós das toantes,
Escandidas consoantes
De uma pausa musical.

Estas horas perdoadas,
Perdidas de quem nos ama,
São aflições combinadas
Às pantomimas do drama.
Um filamento de riso
Liga o inferno ao paraíso.
Se a noite esconde as estrelas,
Pode um palhaço brilhante
Dar um salto tão distante
Que seja digno de vê-las.

Esse arlequim de pintura
Vai surgir aqui, apenas
Compare a sua figura
As minhas roupas terrenas.
Vão surgir do saltimbanco
Perfil, fronte, face e flanco.
Vou sofrer por artifício
O silêncio desta mesa
Que me exila na clareza
De meu puro sacrifício.

Recife em mar de presságio,
Um poema não tem porto,
Vaga que devolve o morto
Às areias do naufrágio.

Em: “O Domingo Azul do Mar” (1958)

Retrato de Jamie Sarbartes, o Poeta
(Pablo Picasso: 1881-1973)

Referência:

CAMPOS, Paulo Mendes. O poeta no bar. In: __________. Os melhores poemas de Paulo Mendes Campos. Seleção de Guilhermino Cesar. 2. ed. São Paulo: Global, 1997. p. 45-46. (Os Melhores Poemas, n. 22)

domingo, 24 de maio de 2015

Emily Dickinson - A alma escolhe sua própria sociedade

Aqui está mais um poema lúdico da norte-americana Emily Dickinson, no qual prepondera a ideia de reclusão e de privacidade. Diz-nos ela que, uma vez que a alma escolha companheiro(a)s de caminhada, outro(a)s, alternativamente, serão objeto de seu alheamento, ainda que, metaforicamente, se ajoelhem para súplicas e apelos.

Há um certo matiz romântico no poema, inoculado com algum determinismo. Não saberíamos precisar, mas as palavras de Emily tendem a ratificar a máxima de que, mesmo que se venha a possuir muito(a)s amantes e companheiro(a)s, apenas um(a) dele(a)s tem acesso ao mais recôndito aposento da alma.

J.A.R. – H.C.

Emily Dickinson
(1830-1886)

The Soul selects her own Society

The Soul selects her own Society −
Then − shuts the Door −
To her divine Majority −
Present no more −

Unmoved − she notes the Chariots − pausing −
At her low Gate −
Unmoved − an Emperor be kneeling
Upon her Mat −

I’ve known her − from an ample nation −
Choose One −
Then − close the Valves of her attention −
Like Stone –

Divas
(Duncan Chrystal: pintor
canadense de origem escocesa)

A alma escolhe sua própria sociedade

A alma escolhe sua própria sociedade
     E a porta fecha, então;
Na sua divinal maioridade,
     Não interfiras, não.

Ei-la, impassível, se a carruagem para
     Ao pé da escadaria...
Impassível – e um rei se ajoelhara
     Sobre a tapeçaria...

De alguém sei eu, que em toda uma nação
     Um único escolheu,
E após, marmórea, as valvas da atenção
     Para sempre desceu...

Referência:

DICKINSON, Emily. The soul selects her own society / A alma escolhe sua própria sociedade. In: __________. Tradução, seleção, apresentação e nota de Olívia Krähenbühl. Ilustrações de Darcy Penteado. São Paulo, SP: Saraiva, 1956. Em inglês: p. 144 e 146; Em português: p. 145 e 147.