A vida sempre tem os
seus momentos mágicos, de pequenos êxtases, revelações, epifanias, com
potencial para alterar a nossa percepção do mundo, ao surpreender-nos numa
vasta combinação de manifestações de beleza e de gáudio, transcendendo quaisquer
palavras que empreguemos na tentativa de descrevê-las a contento.
A voz lírica sugere
que sempre há algo mais por descobrir e desfrutar – e tem lá as suas razões! –,
e nos fornece o exemplo de um gaio azul que divisa num ácer, gozando de sua
plena liberdade e exuberante comprazimento, mesmo sob a austeridade e os
rigores do inverno, transformando-lhe o dia numa experiência cheia de calor
emocional, idílica e sublime.
J.A.R. – H.C.
Sara Teasdale
(1884-1933)
A Winter Bluejay
Crisply the bright
snow whispered,
Crunching beneath our
feet;
Behind us as we
walked along the parkway,
Our shadows danced,
Fantastic shapes in
vivid blue.
Across the lake the
skaters
Flew to and fro,
With sharp turns
weaving
A frail invisible
net.
In ecstasy the earth
Drank the silver
sunlight;
In ecstasy the
skaters
Drank the wine of
speed;
In ecstasy we laughed
Drinking the wine of
love.
Had not the music of
our joy
Sounded its highest
note?
But no,
For suddenly, with
lifted eyes you said,
“Oh look!”
There, on the black
bough of a snow flecked maple,
Fearless and gay as
our love,
A bluejay cocked his
crest!
Oh who can tell the
range of joy
Or set the bounds of
beauty?
In: “Rivers to the
Sea” (1915)
Gaio-real
(Scott Zoellick: artista
norte-americano)
Um Gaio Azul Invernal
Com nitidez a neve
brilhante sussurrava,
Estalando sob nossos
pés;
Atrás de nós,
enquanto caminhávamos pela alameda,
Nossas sombras
dançavam,
Formas fantásticas em
um vívido azul.
Do outro lado do
lago, os patinadores
Resvalavam de um lado
a outro,
Com giros bruscos tecendo
Uma rede frágil e
invisível.
Em êxtase, a terra
Sorvia a luz prateada
do sol;
Em êxtase, os
patinadores
Sorviam o vinho da
velocidade;
Em êxtase, risonhos
Sorvíamos o vinho do
amor.
Não terá a música da
nossa alegria
Soado a sua nota mais
alta?
Mas não,
Porque de repente, com o olhar voltado para o alto, disseste:
“Oh, observa!”
Ali, no ramo negro de
um ácer salpicado de neve,
Destemido e alegre
como o nosso amor,
Um gaio azul levantou
a sua crista!
Oh, quem poderá
definir o alcance da alegria
Ou estabelecer os
limites da beleza?
Em: “Rios ao Mar”
(1915)
Referência:
TEASDALE, Sara. A
winter bluejay. In: __________. The collected poems of Sara Teasdale.
Cutchogue, NY: Buccaneer Books, 1996. p. 50.
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