Whitman bem sintetiza,
nestes versos de sua obra máxima, o ponto de vista de que não existem milagres
mais estranhos ou mais significativos do que aqueles que podemos encontrar na
continuidade da vida quotidiana, pois que lhe parece que cada centímetro cúbico
do espaço e cada metro quadrado da superfície da Terra estão repletos de elementos
autenticamente maravilhosos.
Desde caminhar pelas avenidas
de Manhattan até observar a beleza da lua nova na primavera, tudo são “milagres”:
não se trata de grandes eventos sobrenaturais, senão da grandeza intrínseca da
própria existência, a alcançar os olhos daqueles que se dispõem a apreciar, com
um sentido profundo de reverência e de conexão com o universo, o sublime que há
mesmo nas coisas mais ordinárias.
J.A.R. – H.C.
Walt Whitman
(1819-1892)
Miracles
Why, who makes much
of a miracle?
As to me I know of
nothing else but miracles,
Whether I walk the
streets of Manhattan,
Or dart my sight over
the roofs of houses toward the sky,
Or wade with naked
feet along the beach just in the edge
of the water.
Or stand under trees
in the woods.
Or talk by day with
any one I love, or sleep in the bed
at night with any one
I love,
Or sit at table at
dinner with the rest.
Or look at strangers
opposite me riding in the car.
Or watch honey-bees
busy around the hive
of a summer forenoon.
Or animals feeding in
the fields,
Or birds, or the
wonderfulness of insects in the air.
Or the wonderfulness
of the sundown, or of stars shining
so quiet and bright.
Or the exquisite
delicate thin curve of the new moon
in spring;
These with the rest,
one and all, are to me miracles.
The whole referring,
yet each distinct and in its place.
To me every hour of
the light and dark is a miracle.
Every cubic inch of
space is a miracle.
Every square yard of
the surface of the earth is spread
with the same.
Every foot of the
interior swarms with the same.
To me the sea is a
continual miracle.
The fishes that swim
– the rocks – the motion of the waves –
the ships with men in
them.
What stranger
miracles are there?
Milagres da Natureza
(Aisha Haider:
artista inglesa)
Milagres
Por que alguém se
espanta com um milagre?
Quanto a mim, não sei
de coisa alguma que não seja
um milagre,
Se ando pelas ruas de
Manhattan,
Ou lanço meu olhar
sobre os telhados das casas
na direção do céu,
Ou ando com os pés
descalços ao longo da praia,
bem na beira da água,
Ou permaneço sob as
árvores na floresta,
Ou converso durante o
dia com qualquer um a quem amo,
ou durmo na cama à noite
com qualquer
um a quem amo,
Ou me sento à mesa de
jantar com os demais,
Ou olho para os
estranhos que se sentam de frente
para mim no carro,
Ou assisto as abelhas
melífluas ocupadas em torno
da colmeia numa manhã
de verão,
Ou os animais se
alimentando nos campos,
Ou os pássaros, ou as
maravilhas dos insetos no ar,
Ou as maravilhas do
crepúsculo, ou das estrelas cintilando
tão quietas e
brilhantes,
Ou as exóticas e
delicadas e finas curvas da lua nova
na primavera;
Esses e os demais, um
e todos, são milagres para mim,
A referência inteira
e, contudo, cada um distintamente
em seu lugar.
Para mim toda hora de
luz e de escuridão é um milagre,
Cada centímetro
cúbico do espaço é um milagre,
Cada jarda quadrada
da superfície da terra é formada
por ele,
Cada pé de suas
profundezas está infestado dele.
Para mim o mar é um
milagre contínuo,
Os peixes que nadam –
as pedras – o movimento das ondas –
os navios com os
homens neles,
Que milagres mais estranhos
podem haver?
Referências:
Em Inglês
WHITMAN, Walt. Miracles.
In: __________. Leaves of grass. London, EN: G. P. Putnam’s Sons;
Boston, MA: Small, Maynard & Company, 1903. p. 301.
Em Português
WHITMAN, Walt.
Milagres. Tradução de Luciano Alves Meira. In: __________. Folhas de relva.
Texto integral. Tradução e introdução de Luciano Alves Meira. 2. ed. São Paulo
(SP): Martin Claret, 2012. p. 381-382. (Série Ouro: Coleção “A Obra-Prima de
Cada Autor”, n. 42)
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Espetáculo!
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