Alpes Literários

Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fim de Ano - Visita à Catedral da Sé

Encontrando-me na "terrinha", depois de mais um ano em Brasília,  visitei a Catedral Metropolitana de Belém - mais popularmente Igreja da Sé -, após a sua completa restauração e reabertura ao público há cerca de um ano e meio. Obviamente que não esperaria encontrar algo de novo lá, pois trata-se de um patrimônio que iniciou a compor-se em meados do séc. XVIII, até incorporar as grandes contribuições de artistas lusitanos e italianos na segunda metade do séc. XIX.

A estética do templo, já há alguns anos reforçada pela imponência de seu órgão Cavaillé-Coll - que voltou a funcionar depois de décadas silencioso por defeito -, sempre me encantaram, especialmente por um outro fator: os dez pequenos altares laterais, contendo pinturas dos artistas Domenico de Angelis e Paul Deschwauden.

O desenho, a precisão das linhas e o tom das cores fizeram-me ver o quanto eram grandes os artistas europeus, ideia que, aliás, ratifiquei ao visitar alguns dos maiores museus de Paris, especialmente o Louvre e o D'Orsay.

Em seguida, posto fotografias de duas telas restauradas, as quais, no original, devem medir, estimo, mais ou menos, 2 a 2,5 m de base, por 2,5 a 3 m de altura:



As duas fotos, a seguir, são do altar-mor e do presépio montado para este Natal de 2010:



Belém (PA), 28/12/10.

H.C./J.A.R.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Post de Natal e Ano Novo 2010-2011

Com as festas do fim de ano, aparecem as decorações de Natal por toda a cidade. Na quadra onde resido, a SQN402, em Brasília (DF), à entrada, a prefeitura colocou um arranjo com luzes fortes. A fotografia abaixo diz tudo:


Reconhecendo que estive meio distante no comando do bloguinho, ao longo deste "interminável" 2010, ao mesmo tempo em que me penitencio por isso, desejo a todos uma GRANDE NATAL e um ANO NOVO DE MUITAS FELICIDADES, esperando que tudo transcorra bem em 2011, seja para os brasileiros seja para a humanidade como um todo. Que o Eterno distribua saúde ao Universo ...

E agora para conectar todos os sentimentos - mesclando o sangue lusitano, cabano e candango deste blogueiro -, rememoro um clássico do abandono, um rock com letra engraçada, embora não menos séria - Mosaico de Ravena, no seu antológico "Belém - Pará - Brasil":


(J.A.R./H.C.)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Brasília - 21/11/2010 - 11h 30 min

Incorporo a este bloguinho uma fotografia tirada por mim, próximo ao Parque da Cidade, em Brasília, por meio da câmera do meu celular. Ela mostra bem o lado mais modernoso da cidade, a incorporar a tecnologia dos vidros espelhados, técnica que cai bem à capital, pelo seu céu quase sempre límpido ...

(J.A.R. - H.C.)

sábado, 30 de outubro de 2010

Revista ISTOÉ - Cotejo entre os Governos FHC e Lula

Apresento, a seguir, alguns quadros e gráficos extraídos da "Revista ISTOÉ", que mostram bem a diferença entre os oito anos do governo Lula e os oito anos do governo Fernando Henrique. Não se ignoram alguns avanços que houve no governo FHC, mas daí a atribuir a melhora no plano social, ao longo do governo Lula, somente a tais avanços vai muito longe: tal é a razão de ele contar com uma margem de aprovação ao seu governo "nunca antes" atingida por nenhum outro presidente, ao repassar o poder para o seu sucessor (ou melhor, provavelmente, sucessora).
PIB PER CAPITA


PIB E EDUCAÇÃO


AVANÇOS SOCIAIS


RESERVAS INTERNACIONAIS E INVESTIMENTOS SOCIAIS


CONTROLE INFLACIONÁRIO


RELAÇÕES INTERNACIONAIS


JUROS E DÍVIDA PÚBLICA


OUTRAS INFORMAÇÕES ECONÔMICAS


ESCÂNDALOS NO GOVERNO FHC E GOVERNOS ESTADUAIS DO PSDB



(H.C. - J.A.R.)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pesquisas de Intenção de Voto – 2º Turno Presidente 2010 – Entre 10 e 13/10/10

A julgar pelas três primeiras pesquisas de intenção de voto para presidente, no segundo turno das eleições 2010, entre Dilma e Serra, considerando que os períodos de pesquisas transcorrem dos números obtidos pelo Datafolha, passando aos da Vox Populi, atingindo ao fim os do Ibope, o percentual de indecisos caiu de 7% para 6% e daí a 3%, e nulos e brancos oscilaram entre 4%, 6% e 5%, nessa ordem.

Com tais números, ainda que Serra consiga obter o voto dos 3% indecisos, detectados pelo Ibope mais recentemente, não conseguiria atingir o mínimo necessário para cobrir a diferença de 6% entre os 49% obtidos por Dilma e os 43% alcançados pelo candidato do PSDB na mesma pesquisa. Logo, apenas a mudança de votos, hoje declarados para Dilma, poderá mudar o resultado da eleição, isto se esses votos não forem anulados ou deixados em branco, mas apenas se migrarem para Serra.

A diferença percentual, em votos válidos, entre Dilma e Serra, passou de 7,9% na pesquisa do Datafolha, a 9,1% na do Vox Populi e daí a 6,5% na do Ibope, sendo que esta última contemplou entrevistas no próprio dia 13/10/10, quando então foi divulgada.

A margem de erro da pesquisa da Vox Populi limita-se a 1,8%, e a do Datafolha e do Ibope a 2%.

Quanto a tendências de crescimento ou descrescimento real das candidaturas na preferência popular, é absolutamente impossível concluir qualquer coisa neste momento, pois os três principais institutos de pesquisa erraram muito no primeiro turno - fora das suas margens de erro -, quando Dilma teve 46,9% dos votos válidos, para projeções de 53%, 51% e 50% da Vox Populi, do Ibope e do Datafolha, respectivamente.

Além disso, os percentuais atuais representam ganhos em ambas as candidaturas, o que impede de compará-los aos números do primeiro turno, tanto mais que, por ora, a disputa passou a apenas dois pleiteantes ao cargo de presidente.

Uma possível conclusão acerca dos números comparados das três entidades que apresentaram resultados de pesquisa até aqui para o segundo turno é a seguinte: a candidatura de Dilma encontra-se estável neste momento, pois Datafolha e Ibope apontam 49% do total de votos para ela, enquanto que o Vox Populi registrou 48%. Esses números ratificam a nossa tese anterior: como brancos e nulos ficam entre 4% e 6% em tais pesquisas, isso faz com que a percentagem de Serra se torne, automaticamente, inferior aos 50% dos votos válidos, o que implica a já mencionada necessidade de "roubar" eleitores hoje manifestamente propensos a votar na candidata do PT.

Esperemos os próximos movimentos, escândalos, debates e pesquisas. Esse final promete ser emocionante.

P.s.: Ainda não observei nenhum comentário na mídia ou na internet, sobre os efeitos que podem ter os feriados de segunda (1/11) e terça-feira (2/11) sobre as eleições. Estimo que, como os eleitores de Serra são os de maior renda - como as pesquisas vêm mostrando -, há a possibilidade de uma maior quantidade deles viajar a locais próximas ou remotos, abstendo-se portanto de votar. Isso pode comprometer os números finais a serem obtidos pelo candidato tucano.

(J.A.R./H.C.)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dilma, mostre que é de briga - Mino Carta

Reproduzimos, abaixo, matéria veiculada no site da revista "CartaCapital", da pena do colunista Mino Carta. Os sublinhados são nossos e representam bem o que pensa este blogueiro acerca do baixo nível em que vem se processando estas eleições presidenciais - aliás, a exemplo do que ocorreu com as outras duas eleições de Lula -, quando a imprensa paulista - diga-se, com todas as letras, "O Estado de São Paulo" e a "Folha de São Paulo", apoiados pela panfletária revista "Veja" - resolveu acreditar na completa ausência de inteligência do eleitor brasileiro, sem atentar para o fato de que o que pode ser melhor para São Paulo não necessariamente representa o melhor para o Brasil.

(J.A.R./H.C.)


DILMA, MOSTRE QUE É DE BRIGA - MINO CARTA

(8 de outubro de 2010 às 9:41h)

O Brasil merece a continuidade do governo Lula em lugar da ferocidade dos eleitores tucanos

As reações de milhares de navegantes da internet envolvidos na celebração dos resultados do primeiro turno como se significassem a derrota de Dilma Rousseff exibem toda a ferocidade – dos súditos de José Serra. Sem contar que a pressa de suas conclusões rima sinistramente com ilusões.

Escrevi ferocidade, e não me arrependo. Trata-se de um festival imponente de preconceitos e recalques, de raiva e ódio, de calúnias e mentiras, indigno de um país civilizado e democrático. É o destampatório de vetustos lugares-comuns cultivados por quem se atribui uma primazia de marca sulista em relação a regiões entendidas como fundões do Brasil. É o coro da arrogância, da prepotência, da ignorância, da vulgaridade.

É razoável supor que essa manifestação de intolerância goze da orquestração tucana, excitada pelo apoio maciço da mídia e pelos motes da campanha serrista. Entre eles, não custa acentuar, a fatídica intervenção da mulher do candidato do PSDB, Mônica, pronta a enxergar na opositora uma assassina de criancinhas. A onda violeta (cor do luto dos ritos católicos) contra a descriminalização do aborto contou com essa notável contribuição.

Ocorre recordar as pregações dos púlpitos italianos e espanhóis: verifica-se que a Igreja Católica não hesita em interferir na vida política de Estados laicos. Não são assassinos de criancinhas, no entanto, os parlamentares portugueses que aprovaram a descriminalização do aborto, em um país de larguíssima maioria católica. É uma lição para todos nós. Dilma Rousseff deixou claro ser contra o aborto “pessoalmente”. Não bastou. Os ricos têm todas as chances de praticar o crime sem correr risco algum. E os pobres? Que se moam.

A propaganda petista houve por bem retirar o assunto de sua pauta. É o que manda o figurino clássico, recuar em tempo hábil. Fernando Henrique Cardoso declarava-se ateu em 1986. Mudou de ideia depois de perder a Prefeitura de São Paulo para Jânio Quadros e imagino que a esta altura não se abstenha aos domingos de uma única, escassa missa. Se não for o caso de comungar.

A política exige certos, teatrais fingimentos. Não creio, porém, que os marqueteiros nativos sejam os melhores mestres em matéria. Esta moda do marqueteiro herdamos dos Estados Unidos, onde os professores são de outro nível, às vezes entre eles surgem psiquiatras de fama mundial e atores consagrados. Em relação ao pleito presidencial, as pesquisas falharam e os marqueteiros do PT também.

Leio nesses dias que Dilma foi explicitamente convidada por autoridades do seu partido a descer do salto alto. Se subiu, de quem a responsabilidade? De todo modo, se salto alto corresponde a uma campanha bem mais séria e correta do que a tucana, reconhecemos nela o mérito da candidata.

Acaba de chegar o momento do confronto direto, dos debates olhos nos olhos. Ao reiterar nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff, acreditamos, isto sim, que ela deva partir firmemente para a briga, o que, aliás, não discreparia do temperamento que lhe atribuem. Não para aderir ao tom leviano e brutalmente difamatório dos adversários, mas para desnudar, sem meias palavras, as diferenças entre o governo Lula e o de FHC. Profundas e concretas, dizem respeito a visões de vida e de mundo, e aos genuínos interesses do País, e a eles somente. Em busca da distribuição da riqueza e da inclusão de porções cada vez maiores da nação, para aproveitar eficazmente o nosso crescimento de emergente vitorioso.

CartaCapital está com Dilma Rousseff porque é a chance da continuidade e do aprofundamento das políticas benéficas promovidas pelo presidente Lula. E também porque o adágio virulento das reações tucanas soletra o desastre que o Brasil viveria ao cair em mãos tão ferozes.

P.S. Bem a propósito: a demissão de Maria Rita Kehl por ter defendido na sua coluna do Estado de S. Paulo a ascensão social das classes mais pobres prova que quem constantemente declara ameaçada a liberdade de imprensa não a pratica no seu rincão.

sábado, 9 de outubro de 2010

Pesquisa Datafolha - 8/10/10 - Eleições Presidenciais 2010


Acaba de ser veiculado pelo Datafolha o resultado da mais recente pesquisa de intenção de voto para o segundo turno das eleições presidenciais 2010, entre Dilma Rousseff e José Serra: 48% a 41% para a candidata do PT, com 7% de indecisos e uma margem de erro estimada em 2%. Tais números, em votos válidos, correspondem, respectivamente, a 54% e 46%, o que denota maior migração de votos, antes conferidos à candidata do PV, Marina Silva, ao postulante do PSDB.

Abstraídos esses números, um tema se coloca com maior peso na mídia: a questão do aborto, ora posta pelos candidatos de forma deslocada, para não dizer hipócrita, com clara vantagem eleitoral em favor de Serra. 

Senão vejamos: o problema legal não passa pela Presidência da República, pois alterações ao Código Penal pátrio não podem ser promovidas pelo(a) Presidente, via medida provisória, conforme prescreve o seguinte dispositivo constitucional:

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a: 
[...]
b) direito penal, processual penal e processual civil.
Ademais, não consta tal matéria entre aquelas de iniciativa privativa do Presidente da República, no que tange à proposição de leis complementares ou ordinárias, no rol atrelado ao art. 61, §1º da C.F./88, porquanto o que a Carta Magna prescreve mesmo é a atribuição privativa da União - logo, do Congresso Nacional - para o trato de questões na seara penal, in verbis
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
Bem se vê, então, que o trato da descriminalização do aborto não passa pela propositura da Presidência, e quaisquer incursões temáticas dos candidatos sobre a questão somente podem ser consideradas como uma aposta na ignorância normativa do eleitor e, obviamente, um jogo para angariar votos junto à significativa margem de eleitores evangélicos, manifestamente a clivagem que, talvez, tenha algum peso para a migração que, neste momento, se verifica em direção ao candidato tucano.

Obviamente que o debate público sobre questões candentes ao povo brasileiro, como um todo, fica à margem das proposições dos candidatos, como se houvéssemos regredido algumas centúrias no tempo e, com isso, convergido a um Estado democrático e teocrático ao mesmo tempo, se é que isso seja possível, quer no plano teórico quer no empírico.

Quanto nonsense! Só podemos reproduzir algumas palavras daquele que teve a sua própria palavra sacrificada: "Perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!". Ou não: sabem muito bem o que perpetram quando em busca do poder ...

(J.A.R. - H.C.)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Saudades de Belém do Pará



SABOR AÇAÍ
(Nílson Chaves)


E prá que tu foi plantado
E prá que tu foi plantada
Prá invadir a nossa mesa
E abastar a nossa casa...

Teu destino foi traçado
Pelas mãos da mãe do mato
Mãos prendadas de uma deusa
Mãos de toque abençoado...

És a planta que alimenta
A paixão do nosso povo
Macho fêmea das touceiras
Onde Oxossi faz seu posto...

A mais magra das palmeiras
Mas mulher do sangue grosso
E homem do sangue vasto
Tu te entrega até o caroço...

E tua fruta vai rolando
Para os nossos alguidares
Tu te entregas ao sacrifício
Fruta santa, fruta mártir

Tens o dom de seres muito
Onde muitos não têm nada
Uns te chamam açaizeiro
Outros te chamam juçara...

Põe tapioca
Põe farinha d'água
Põe açúcar
Não põe nada
Come e bebe como um suco
Eu sou muito
Mais que um fruto
Sou sabor marajoara
Sou sabor marajoara
Sou sabor...

(J.A.R. - H.C.)

sábado, 28 de agosto de 2010

Brasileirão 2010 - Projeções Para o Fim Depois da 15ª Rodada

Finda a 15ª Rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol, considerando ainda o fato de que Santos e Internacional têm um jogo a menos entre si, a projeção neste momento para o fim, depois de suas 38 rodadas, pela métrica de meu Modelo Esotérico-Matemático, é a seguinte:


Quanto à tendência a subir na tabela, os resultados mudam bastante, considerando os pressupostos do modelo: ter melhor defesa é mais determinante para um time ser campeão que ter um grande ataque, muito embora quem quiser o título não possa prescindir deste último. O terceiro item levado em consideração é a qualidade do passe, mensurado pela grandeza "quantidade de passes errados".


Ademais, recolhi neste momento (28/8/2010, 21 h), a projeção apresentada por três "sites" que calculam probabilidades, ou melhor, as chances de cada time ser campeão: dos Estatísticos da UFMG, do Chance de Gol e do Infobola (veja os endereços mais abaixo). Com os dados deles, elaborei a seguinte tabela, em que a notação P.R. significa a posição real em que o time ora se encontra:


Fontes:
Estatísticos da UFMG:
http://www.mat.ufmg.br/futebol/br_serie_a.html

(J.A.R. / H.C.)

domingo, 22 de agosto de 2010

Reinterpretando os "Beatles"

Nada melhor do que ver as novas roupagens que, vez por outra, aparecem trazendo clássicos da guitarra: eis aqui "While My Guitar Gently Weeps", criação de George Harrison, em interpretação de Toto, com letra e tudo mais para você acompanhar cantando (no banheiro) ! (rs).



(J.A.R./H.C.)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Maiakóvski Revisitado

A cada vez que escuto a soberba interpretação de Gal Costa, para a música "O Amor", de Caetano Veloso, volta-me a certeza de que a literatura e a música podem ser uma redenção aos padrões estéticos mais apurados, num mundo artisticamente tão decadente e cada vez mais distante dos valores genuinamente humanos, como o de hoje.


A adaptação de Caetano e Ney Costa Santos, para passagens de um longo poema futurista, do russo Vladimir Maiakóvski - o denominado "poeta de la revolución" -, tem o condão de resgatar a poesia tão presente, e não menos esquecida, em nossas experiências.

... E não no longínquo século XXX, a que se reporta o autor, mas ainda neste nosso século, de promessas "revolucionárias" na ciência, bem ao gosto das interpretações dialéticas do mundo.

Para quem aprecia literatura, sugiro a leitura do livro "Poesia Russa Moderna", com tradução dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e revisão de Boris Schnaiderman: uma obra-prima que apresenta poesias de vários poetas russos influentes, a maioria das quais redigida ao longo do conturbado século XX.


O AMOR
_________________

Talvez, quem sabe, um dia
Por uma alameda do zoológico ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa

Ela é tão bonita
Ela tão bonita que na certa
Eles a ressuscitarão

O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias

Agora vamos alcançar
Tudo o que não podemos amar na vida
Com o estelar das noites inumeráveis

Ressuscita-me ainda que mais não seja
Porque sou poeta
E ansiava ao futuro

Ressuscita-me lutando contra as misérias do cotidiano
Ressuscita-me por isso

Ressuscita-me quero acabar de viver o que me cabe, minha vida
Para que não mais existam
Amores servis

Ressuscita-me pra que ninguém mais tenha
De sacrificar-se por uma casa, um buraco

Ressuscita-me para que a partir de hoje
A família se transforme
E o pai seja pelo menos o universo
E a mãe seja no mínimo a Terra
A Terra
A Terra

٩(-̮̮̃-̃)۶

J.A.R./H.C.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mediações Hedonistas - Parsons e Poe - Muito Prazer em Conhecê-los !

Quando, ainda em 1975, Alan Parsons lançou o compacto de abertura de seu projeto para divulgação do "rock progressivo" - o denominado Alan Parsons Project -, jamais imaginaria que poderia criar um disco à altura da fama que lhe sobreveio por haver também produzido uma das mais inesquecíveis obras do grupo Pink Floyd, qual seja, The Dark Side of the Moon.

Referimo-nos a Tales of Mystery and Imagination, com letras e músicas livremente concebidas à luz dos contos de horror e de suspense de Allan Poe, que se mantém como um meritório contributo à memória do autor americano.

Percebe-se, já na própria apresentação da faixa inicial A Dream a Within a Dream, a pretensão de transformar em música certas "fantasias delicadas" que, por não constituírem pensamentos, são irredutíveis aos signos linguísticos, como se fossem, mesmo num plano de realidade, um sonho imbricado em outro sonho.



Outras duas faixas fazem referência direta a dois dos mais famosos contos de Poe - The Raven (O Corvo) e The Cash of Amontillado (O Barril de Amontilado) -, estando muito bem adaptadas às letras imaginosas, como a provar que literatura e música podem muito bem combinar-se para aumentar a estatura do prazer usufruível, por intermédio do incremento gestáltico de nossas experiências sinestésicas, experiências essas que, de outro modo, permaneceriam "estanques" ao que pudéssemos extrair, de cada vez, aos nossos "olhos ou ouvidos atentos".

Pena mesmo é que os sentidos do olfato e do paladar não tenham se juntado mais prontamente ao acervo cada vez mais sincrético das artes, ainda que, marginalmente, aqui ou ali, apareçam obras que os combinem maravilhosamente bem, para colocá-los em evidência.

A conjugar visão e audição, para produzir estímulos gustativos poderosos, mencionaria o filme A Festa de Babette, de Gabriel Axel (1987). Quanto ao impacto - positivo ou negativo - do olfato, quem poderia se esquecer de O Perfume, de Tom Tykwer (2006), com roteiro adaptado ao livro homônimo do escritor alemão Patrick Süskind, publicado em 1985 ?!

(JAR/HC)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Stanley Kubrick - De Olhos Bem Fechados

Outro filme a que assisti, no breve interregno que marcou o recesso do final de 2009, foi "De Olhos Bem Fechados" (Eyes Wide Shut, 1999), o último longa de Stanley Kubrick.

Trata-se de uma adaptação livre do romance "Breve Romance de Sonho" (Die Traumnovelle, 1926), do escritor austríaco Arthur Schnitzler, a quem Sigmund Freud denomina como sendo o seu "duplo", tanto é o paralelo entre ambos na busca de compreender - ou seria explicar ? - o inconsciente e as profundezas da alma humana.

A trama, centrada no relacionamento de um casal em crise - embora bem aquinhoado, seja pelos atributos físicos seja pelos dotes materiais, afinal, os atores são nada menos que Tom Cruise e Nicole Kidman -, transita por desejos e apelos sensuais reprimidos ou mal-resolvidos, misteriosas bacanais e vaticínios mortais.

A firme direção de Kubrick permitiu um alongamento algo desproporcional do roteiro frente ao próprio texto em que se inspirou, afirme-se, mais próximo da novela que do romance, no sentido lato do termo. Mas nada que deixe o espectador transido pelo tédio, pois a linguagem cinematográfica, apesar de suas limitações, fomenta, com mais propriedade, o voluptuoso despertar dos sentidos, tanto maior quando derivado de pulsões sexuais explicitamente filtradas pelo enredo.

Sob o "pecado" da pornografia, a história do autor austríaco foi por demais censurada na Viena ainda puritana da primeira metade do Século XX. Quanto à adaptação de Kubrick, a despeito das imagens impactantes, certamente não há escândalos que a película possa provocar em nossa sociedade sem contenções morais, sendo apenas mais uma no conjunto da obra do autor americano, permeada de polêmicas e controvérsias, pelo que bastam as menções de "A Laranja Mecânica" e de "Lolita", dois outros filmes também adaptados de renomados romances.

Ler os livros a que me referi ou ver os filmes de Kubrick são ganhos imperdíveis.

(JAR/HC)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Torcidas dos Principais Clubes Nacionais

O Datafolha divulgou, recentemente, o resultado de mais uma pesquisa sobre as preferências clubísticas dos torcedores pátrios. A princípio, cumpre informar que o resultado está atrelado ao universo de torcedores com dezesseis (16) anos ou mais - como se não houve fãs do futebol com idade menor a essa ! -, atribuindo-se margem de erro, em relação aos números assim obtidos, de apenas 2%.

Foram entrevistados 11.258 torcedores na mencionada faixa etária, entre os dias 14 e 18/12/09, acarretando a obtenção dos seguintes percentuais, por renda e por nível de instrução:





Sublinhe-se, de início, que os números sob a cor azul foram obtidos a partir do total de torcedores entrevistados, classificados em cada faixa de renda ou grau de instrução, conforme se pode consultar no endereço eletrônico do próprio Datafolha, indicado ao final desta postagem.

Verifica-se, no que tange à distribuição associada à renda familiar, que os resultados alcançados, de certa forma, refletem a concentração de renda no seio da própria sociedada brasileira. Números do último PNAD (2008) evidenciam que 59,7% da população do país encontra-se na classe "E", vale dizer, exatamente aquela que aufere renda de até dois (2) salários mínimos. Eis a razão pela qual o Brasil apresenta um dos piores coeficientes de Gini do mundo - 0,544 (valor de 2008, divulgado em 2009) -, sendo que o valor 1,0 representaria concentração absoluta de renda.

De todo modo, o que se revela pelas tabelas acima ratifica o que foi amplamente noticiado pelo "Estadão" (vide endereço eletrônico nas referências), segundo o qual a torcida do Flamengo pertenceria, majoritariamente às classes de renda "D" e "E", à luz de pesquisa empreendida pela firma Crowe Horwath RCS. Com efeito, 45% da torcida rubronegra detém renda de até dois salários mínimos - e nenhum outro clube brasileiro de expressão possui, individualmente, percentual maior. No quesito "nível de instrução", o percentual não é menos expressivo, ou seja, 44% com escolaridade fundamental - embora haja quem o possua maior -, no caso o Internacional (51%) e o Vasco da Gama (45%).

Os números falam por si mesmos, o que não significa que não sejam passíveis de rearranjos, especulações  ou críticas, haja vista que percentuais obtidos por alguns clubes ficam integralmente cobertos pela própria margem de erro da pesquisa, do que decorre ser contraproducente quaisquer inferências mais contundentes.

Outras conclusões que podem ser extraídas da pesquisa do Datafolha:
(i) o Flamengo é o time com maior torcida no universo pesquisado (19%), seguido pelo Corinthians (13%);
(ii) nas regiões Sudeste e Sul, entretanto, o Corinthians tem maior preferência que o clube carioca (19% a 15% no Sudeste; 10% a 7% no Sul);
(iii) Flamengo e Corinthians têm universo de fãs quase nulo em Porto Alegre (RS), onde Internacional (43%) e Grêmio (47%) dominam, seguidos pelos entrevistados que responderam não possuir atração por clube algum (8%);
(iv) Belo Horizonte é outra cidade em que a influência dos times de São Paulo e do Rio de Janeiro mostra-se menos acentuada, pois Cruzeiro (43%), Atlético-MG (30%) ou nenhum clube (19%) configuram a maioria das menções entre os pesquisados; e
(v) clubes paulistas têm baixa preferência na cidade do Rio de Janeiro e vice-versa, como era de se esperar.

(JAR/HC)

Referências:

Datafolha:
http://datafolha.folha.uol.com.br/po/tabelas.php?Tab_relatorio=936

Estadão:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091227/not_imp487321,0.php

O Globo:
http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Flamengo/0,,MUL1434675-9865,00-TORCIDAS+FLA+LIDERA+TAMBEM+RANKING+DE+ESCOLARIDADE+E+RENDA+FAMILIAR.html

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Filme: Amantes ("Two Lovers" - EUA - 2008)

Ao assistir o filme "Amantes" de James Gray, ao final de 2009, fiquei com a sensação de haver presenciado reprises de alguns pontos já desenvolvidos por outros diretores, seja no melhor seja no pior do que se poderia reproduzir em termos cinematográficos.



A historinha de personagens que sofreram um trauma juvenil ou baque amoroso, sentimental ou de outra ordem é tão recorrente no cinema americano que o flerte destes com a morte, via tentativa de suicídio, já não causa qualquer sensação de espasmo no espectador mais experiente. Relembre-se, por exemplo, o papel interpretado por Timothy Hutton em "Gente como a Gente", filme ganhador do Oscar em 1981, dirigido por Robert Redford, a partir de roteiro adaptado ao livro "Ordinary People", de Judith Guest. Poder-se-ia, nesse caso, parodiar a chamada constante no cartaz de "Amantes": o melhor drama americano do ano ...



As alternâncias afetivas de Leonard (Joaquin Phoenix), ora com Michelle Rausch (Gwyneth Paltrow) ora com Sandra Cohen (Vinessa Shaw), tem tantas reviravoltas quantas as necessárias para levar o filme ao decurso de tempo requerido para fazer crer a quem o assiste de que Leonard terminará com Michelle. Mas não: terminará mesmo é com Sandra. Resenhando: duas mulheres em disputa por um homem indefinido e problemático, espécie eloquente de herói picaresco menor !

Paralelos ? Preferível a adaptação primorosa de Luchino Visconti para "Noites Brancas", do texto homônimo de Dostoiévski, com inversão no diferencial em disputa: dois homens - um dos quais nada menos que Marcelo Mastroianni - por uma mesma dama. E Mastroianni não levará a melhor, como se poderia supor a princípio.



Por conseguinte, não consegui inferir as razões pelas quais os críticos têm cotado a película em questão com quatro estrelas. Somente eles poderão dizê-lo ! Quanto a mim, no estoque considerável de filmes presenciados, apenas mais um !

(JAR/HC)