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domingo, 24 de novembro de 2013

Charles Dickens - Conto de Natal (Capítulo 9)

Para ler o Capítulo 8, acesse o seguinte link.

DICKENS, Charles. Conto de Natal. Adaptação de Isabel Vieira. São Paulo: Rideel, 2003. (Coleção Aventuras Grandiosas)

Capítulo 9 (Págs. 27–29)
A lição dos espíritos
Sim, a coluna da cama! Scrooge estava na sua cama, no seu quarto! Ah, incrível ventura! Era também seu o futuro; o tempo que tinha pela frente seria empregado para corrigir os erros do passado!
– Hei de manter no meu coração os espíritos do Natal presente, passado e futuro! Todos os três! Ah, Jacob Marley, como lhe agradeço!
Estava tão agitado e radiante que a voz saía fraquinha. A cena violenta que tivera com o último espírito fizera-o chorar, e as lágrimas escorriam-lhe.
– As cortinas não foram arrancadas, nem as argolas! – gritou Scrooge, tocando o grosso tecido do cortinado do leito. – Ainda estão aqui, eu também estou aqui, e as sombras das coisas que poderiam ter acontecido hão de se desfazer, tenho certeza!
Enquanto fazia essas reflexões, Scrooge ria às gargalhadas.
– Sinto-me leve como uma pena, feliz como um anjo, alegre como um colegial!
Estou tonto como um ébrio! Boas-Festas! Feliz Ano-Novo a todos!
Do quarto passou à sala, onde se sentou, arquejante. Ali estava a porta por onde entrara o espectro de Jacob Marley. Ali estava o lugar onde o espírito do Natal presente havia se sentado. Era tudo verdade!
– Não sei que dia é hoje! – Scrooge ria sem parar. – Não sei quanto tempo estive com os espíritos! Não sei nada, sou uma perfeita criança! Quero ver gente!
Venham todos, venham!
Ouviu-se um vigoroso bater de sinos. Scrooge correu à janela, abriu-a e pôs a cabeça para fora. O nevoeiro se dissipara e a atmosfera estava clara, brilhante.
Scrooge achou o sol esplêndido, e o som dos sinos, maravilhoso.
– Que dia é hoje? – gritou a um rapazinho que passava.
– Hein? – estranhou o garoto.
– Que dia é hoje, meu bom amigo?
– Hoje?! Hoje é dia de Natal…
– É dia de Natal, bem que eu desconfiava! Os espíritos fizeram tudo numa única noite! Para os espíritos tudo é possível! Ei, rapaz! – chamou Scrooge. – Pode me fazer um favor? Conhece a loja de aves, ali na esquina? Será que já venderam o belo peru que lá estava? Não o pequeno. O grande. – Um quase do meu tamanho? Ainda está lá – respondeu o rapaz.
– Pois vá comprá-lo e volte correndo, quero lhe dar uns trocados. Traga junto o empregado da loja, pois o peru terá de se entregue num certo lugar…
O rapaz saiu em disparada, enquanto ele se divertia:
– Vou mandá-lo para a casa de Bob Gratchit! – Scrooge esfregava as mãos, contente. – Ele não saberá quem o enviou. Ah, como isso me diverte!
Logo o peru chegou, enorme. Duas vezes o tamanho do pequeno Tim!
– Quem poderá carregá-lo até o subúrbio? Melhor alugar um carro!
A satisfação com que Scrooge disse isso, o prazer com que pagou o peru, o sorriso com que deu dinheiro para o carro e recompensou o rapaz só foram excedidos pela satisfação com que se sentou numa cadeira, ofegante, até lhe saltarem dos olhos lágrimas de alegria.
Em seguida, Scrooge barbeou-se com as mãos trêmulas de emoção, vestiu-se com sua melhor roupa e saiu. Havia muita gente nas ruas, tal como quando ele as percorrera com o espírito do Natal presente. Olhava para todos com ar tão alegre, que lhe diziam: “Bom-dia, senhor! Boas-Festas!” Não tinha andado muito quando viu o cavalheiro distinto que lhe pedira donativos para os pobres. Envergonhado, Scrooge foi ao seu encontro.
– Meu caro senhor, como passou? Como foi a coleta de ontem? Que bondade sua pedir pelos necessitados! Muitas boas-festas!
– É o sr. Scrooge?
– Sim, e meu nome não deve lhe soar bem. Espero que me perdoe e…
Scrooge inclinou-se e completou o resto da frase no ouvido dele.
– Que diz? Tudo isso? Está falando sério? – admirou-se o outro.
– Muito sério. Nessa soma estão incluídas inúmeras contas passadas.
– Meu caro senhor, não sei como agradecer tanta generosidade…
– Eu é que agradeço! Muitíssimo obrigado! – cumprimentou-o Scrooge.
Dali dirigiu-se para a igreja, olhando o povo que passava, afagando as criancinhas, falando com os mendigos, espreitando para dentro das cozinhas, achando lindo tudo o que via. À tardinha, bateu à porta da casa do sobrinho.
Fred e a esposa estavam na sala de jantar. A empregada conduziu-o até eles, que o contemplaram com indescritível espanto.
– Meu Deus! Que vejo! – exclamou o sobrinho.
– Sou eu, seu tio Scrooge. Venho jantar. Dá licença, Fred?
Em cinco minutos, estava perfeitamente à vontade entre os convidados. No início, estes estranharam vê-lo, mas logo o aceitaram no grupo. E os donos da casa o trataram com tanta delicadeza que a reunião pareceu-lhe esplêndida.
No dia seguinte cedo, Scrooge fez questão de chegar ao escritório antes que seu empregado. Bob Gratchit apresentou-se alguns minutos depois.
– Isso são horas de chegar? – indagou Scrooge, esforçando-se para falar no tom áspero de antigamente.
– Não se repetirá, patrão, prometo – desculpou-se o pobre homem. – O Natal é só uma vez por ano, tivemos uma festa em casa, deitamos tarde e…
– Ouça o que tenho a lhe dizer – Scrooge saltou da poltrona e avançou para o empregado, que recuou, espavorido. – Boas-Festas, Bob! Melhores festas do que as que eu tenho lhe dado até hoje! – A frase soava tão sincera, que o empregado arregalou os olhos. – Vou aumentar seu salário e socorrer sua família.
Hoje mesmo, à tarde, falaremos sobre isso diante de um bom copo de vinho quente. Agora acenda as duas estufas e vá comprar carvão para nós.
Scrooge fez tudo o que prometeu e infinitamente mais. Para o pequeno Tim, que não morreu, foi como um segundo pai. Tornou-se tão bom amigo, tão bom patrão, tão bom homem como os melhores que existiram no mundo. Muitos riam da sua transformação, mas ele não se importava. Seu coração lhe sorria e isso lhe bastava.
Scrooge não voltou a encontrar os espíritos, embora tenha se tornado o homem que melhor sabia festejar o Natal. Oxalá isso aconteça com todos nós! E, como dizia o pequeno Tim, que Deus nos abençoe a todos!
(FIM)

Se houver interesse em apreciar uma adaptação cinematográfica do famoso conto de Dickens, ofereço o seguinte endereço de vídeo no Youtube: certamente não é a melhor representação que a sétima arte, até agora, foi capaz de oferecer - afinal, a película "Scrooge", de 1951, parece-me uma das melhores -, mas certamente é fidedigna, em sua narrativa, à obra do britânico.



J.A.R. - H.C.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Charles Dickens - Conto de Natal (Capítulo 8)

Para ler o Capítulo 7, acesse o seguinte link.

DICKENS, Charles. Conto de Natal. Adaptação de Isabel Vieira. São Paulo: Rideel, 2003. (Coleção Aventuras Grandiosas)

Capítulo 8 (Págs. 24–26)
Quem é o morto?
O espectro estendeu sua ampla túnica como se fosse uma asa, e os dois foram transportados a uma casa onde estava uma mulher rodeada pelos filhos.
Seus passos apressados, o modo como olhava toda hora a janela e o relógio, a dificuldade para concentrar-se na costura, tudo indicava que esperava alguém com ansiedade. Afinal, bateram na porta e ela correu ao encontro do marido, em cuja fisionomia abatida se notava uma expressão de contentamento que ele, envergonhado, em vão tentava disfarçar.
– Traz boas ou más notícias? – perguntou a mulher.
– Más! – respondeu ele.
– Estamos completamente arruinados?
– Não. Ainda há esperança, Caroline.
– Quer dizer que ele vai abrandar? Seria um verdadeiro milagre!
– Não terá que abrandar, pois já morreu – disse o marido.
A moça parecia uma boa criatura. Mas, ao ouvir a notícia, sentiu uma alegria tal que não pôde ocultar. Pediu perdão a Deus pelos seus sentimentos.
– Quando o procurei para pedir a prorrogação da dívida, a mulher que atendeu a porta disse que ele estava doente – explicou o marido. – Julguei que fosse desculpa para não me receber, mas era verdade. Ele estava moribundo.
– E agora? Para quem será transferida a nossa dívida?
– Não sei, mas espero que o novo credor seja mais humano do que ele.
Podemos dormir sossegados esta noite, Caroline.
Scrooge percebeu que aqueles corações se sentiam aliviados de um peso esmagador. A morte de um homem restituíra a alegria a uma família.
– Gostaria de ver um lugar onde reinasse a saudade causada pela morte, espírito! – pediu. – Aliás, aquele horrível leito não me sai da cabeça…
O espectro conduziu-o por ruas que lhe pareciam familiares. Entraram na casa do pobre Bob Gratchit, onde Scrooge já tinha estado com o espírito do Natal presente, e viram a dona da casa rodeada pelos filhos, junto da estufa.
A mãe e as filhas pareciam absortas no trabalho de costura. As crianças não brincavam como de costume. Peter lia um livro em voz alta.
– A luz do candeeiro me faz chorar, e não quero ter lágrimas nos olhos quando seu pai chegar – disse a mãe, pondo o trabalho de lado.
– Já passa da hora. Ele tem andando devagar ultimamente – disse Peter.
– Quando carregava nosso pobre Tim às costas, andava depressa.
– É verdade, nem sentia o peso dele – concordaram os irmãos.
– Era tão levinho! – prosseguiu a mãe. – E seu pai gostava tanto dele que não lhe custava nada carregá-lo… Ouçam, ele está batendo à porta…
Bob Gratchit entrou com o velho cachecol enrolado no pescoço e todos correram para oferecer-lhe chá. Os dois filhos menores pularam no seu colo e encostaram os rostinhos no dele, consolando-o: “Não fique triste, papai!” Bob esforçou-se para se mostrar contente. Elogiou a rapidez com que a costura da mulher e das filhas avançava. A esposa, por fim, perguntou:
– Você foi lá hoje, não foi?
– Fui. Pena não ter levado você. Iria gostar de um lugar tão verde. Mas haveremos de ir outras vezes. Nosso pobre filhinho!
Ao falar do filho, Bob não pôde conter a dor. Os soluços embargaram-lhe a voz e ele subiu as escadas, permanecendo uns minutos no quarto até se recompor.
Voltou mais calmo e a conversa à volta do fogo continuou.
– O sobrinho de Scrooge foi muito bondoso conosco – contou. – Eu o encontrei na rua. Ele me deu seu cartão, dizendo: “Sinto muito, e se puder lhes prestar algum favor, terei nisso muito gosto”. Parecia até que tinha conhecido nosso querido Tim e que sua morte lhe causara verdadeira mágoa.
– Deve ser uma boa alma! – disse a esposa.
– Com certeza. Quem sabe ainda arruma um emprego para nosso Peter.
– Ouviu isso, Peter? – tornou a mãe.
– Aí Peter se casa e nos deixa… – queixou-se uma das irmãs.
– Decerto que isso acontecerá um dia, meus filhos – disse Bob Gratchit. – Mas, onde quer que estejamos, unidos ou separados, nenhum de nós jamais esquecerá nosso querido Tim, não é verdade?
– Nunca, papai. Nunca nos esqueceremos dele – gritaram todos.
– Espectro! – disse Scrooge. – Diga-me: quem era o homem que vimos em seu leito de morte?
O espírito do Natal futuro levou-o à parte da cidade onde imperava a febre dos negócios, e Scrooge, como da primeira vez, não viu a si mesmo. Seu guia passou depressa pelo bairro onde ele morava, mas não parou.
– Espírito, naquela rua morei muito tempo. Lá está a casa. Quero ver o que serei no futuro. Por favor, pare um instante!
O dedo apontava outra direção.
– A casa é aquela, espírito. Por que me mostra outro caminho?
Scrooge espiou pela janela e viu que o local era ainda um escritório, mas não o seu. A mobília era outra, e havia outra pessoa sentada à mesa. O espectro, imperturbável, continuava a apontar a mesma direção. Scrooge foi obrigado a segui-lo e vaguearam muito tempo, chegando a uma porta de ferro.
Era um cemitério. Ali devia jazer, sem dúvida, o homem cujo nome ele enfim ia saber. O espírito parou entre os jazigos e apontou um deles.
– Antes de eu me aproximar, responda-me, espírito! – Scrooge tremia, cheio de terror. – Essas sombras pertencem a coisas que irão forçosamente acontecer ou que apenas poderão acontecer?
O espírito continuou a apontar.
– Já sei. As ações dos homens podem fazer prever certos fins. Mas, se eles se corrigirem a tempo, os fins também mudarão. É o que devo entender?
O espectro conservou-se impassível.
Scrooge, tremendo muito, seguiu a direção que a mão indicava e leu na pedra de um túmulo abandonado o seu próprio nome: “Ebenezer Scrooge”.
– Então sou eu o homem que vi morto, abandonado no leito? – Scrooge caiu de joelhos, chorando. – Não, espírito! Não! Não!
O espectro não se moveu.
– Espírito! – gritou, agarrando-se à sua túnica. – Ouça-me! Não sou o homem que fui! Serei outro daqui em diante! Por que me mostra essas coisas, se para mim não há esperança?
Pela primeira vez o dedo pareceu vacilar.
– Bondoso espírito! – continuou Scrooge. – Interceda por mim, tenha compaixão!
Diga-me que posso mudar meu destino e levar uma vida nova! Hei de honrar o Natal no meu coração todos os anos! Hei de guardar os espíritos do Natal presente, do passado e do futuro e seguir suas lições! Diga-me que posso apagar a inscrição daquela pedra!
Na sua dor, Scrooge agarrou com força a mão do espectro, que o repeliu.
Ao tentar novamente pegá-la, Scrooge viu com surpresa o fantasma diminuir de tamanho, encolher-se e transformar-se numa das colunas da cama.
Para ler o Capítulo 9, acesse o seguinte link.
J.A.R. - H.C.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Charles Dickens - Conto de Natal (Capítulo 7)

Para ler o Capítulo 6, acesse o seguinte link.
DICKENS, Charles. Conto de Natal. Adaptação de Isabel Vieira. São Paulo: Rideel, 2003. (Coleção Aventuras Grandiosas)

Capítulo 7 (Págs. 20–23)
O espírito do Natal futuro
O fantasma aproximou-se silenciosamente. O ar que ele atravessava ia deixando a escuridão mais lúgubre. Sem saber por que, Scrooge ajoelhou.
O espírito estava envolvido num manto negro, que lhe ocultava a cabeça, as faces e o corpo, deixando ver apenas um braço estendido. Era alto e não falava nem se movia, enchendo Scrooge de misterioso terror.
– Estou na presença do espírito do Natal futuro? – perguntou.
O espectro não respondeu. Apenas apontou-lhe o caminho com o dedo.
– Vem me mostrar coisas que ainda não aconteceram, mas que hão de se dar no tempo que virá, não é verdade, espírito? – Scrooge continuou.
A parte superior da túnica se contraiu. Essa foi sua resposta.
Embora já estivesse habituado a fantasmas, Scrooge sentia tanto pavor do silêncio deste que as pernas tremiam e ele não era capaz de caminhar. O espírito percebeu e lhe deu tempo para recuperar as forças.
– Espectro do futuro! – exclamou. – Temo-o mais que aos outros que vieram, mas, como sei que seu propósito é fazer-me bem, e como espero me tornar um homem diferente, estou pronto para viajar em sua companhia com a maior satisfação.
Não me responde?
Como única resposta, a mão continuou apontando firmemente.
– Vamos, então! A noite não espera e o tempo é precioso para mim!
Scrooge seguiu a sombra. Não sabia dizer se caminhavam para a cidade ou se, ao contrário, era a cidade que vinha se expor à sua observação.
Notou que estavam na Bolsa de Valores, entre negociantes que andavam de um lado a outro apressadamente, fazendo tilintar o dinheiro no bolso, conversando em grupos e balançando as correntes de ouro, como Scrooge os vira tantas vezes.
O espírito parou junto de um grupo e apontou. Scrooge ouviu-os dizer:
– Não sei de nada. Sei apenas que morreu – falou um homem gordo.
– Quando? – perguntou outro.
– A noite passada.
– Morreu! – disse um terceiro. – Pensei que esse homem fosse eterno!
– Que fez ele do dinheiro? – perguntou outro, de nariz grande.
– Não sei. Com certeza não o deixou para mim! – respondeu o gordo.
A pilhéria foi acolhida com uma gargalhada geral.
– O funeral não há de ser caro – tornou o mesmo. – E se fôssemos lá a passeio, mesmo sem convite?
– Eu só iria se houvesse um bom almoço. Sem almoço, não vou.
Outra gargalhada seguiu-se à nova brincadeira. O grupo dispersou-se e Scrooge, que conhecia todos os presentes, olhou para o espírito como a pedir uma explicação. O fantasma dirigiu-se para outra rua e apontou dois homens que conversavam. Scrooge julgou que fosse ter a explicação que queria.
– Como vai? – dizia um deles.
– Bem, obrigado. Então o velho morcego liquidou a conta para sempre?
– É o que dizem. Que frio, não é?
– Sempre faz frio no tempo de Natal.
Scrooge admirou-se de que o espírito desse atenção a conversas triviais como aquela, mas, refletindo melhor, achou que devia existir uma razão oculta para isso. Qual seria? Não era provável que os homens se referissem à morte de Jacob Marley, seu sócio, pois isso fazia parte do passado, e o espírito só se ocupava de coisas futuras. Também lhe pareceu não haver relação entre o que ouvira e sua própria pessoa. Mas, convencido de que receberia alguma lição para seu aproveitamento, pôs-se a observar as cenas com cuidado.
Procurou a imagem de si mesmo na Bolsa de Valores, mas viu outro homem no lugar que habitualmente ocupava. Não se admirou muito, pois, como fantasiava levar uma nova vida no futuro, talvez sua ausência fosse resultado desse projeto. Impassível e negro, o espectro mantinha-se a seu lado, apontando. Parecia que seus olhos invisíveis fitavam Scrooge. Ele estremeceu.
Deixaram aquele cenário e foram a uma parte da cidade onde Scrooge nunca havia estado. As ruas eram estreitas e sujas; as casas e lojas, miseráveis; as pessoas, maltrapilhas. Becos e travessas pareciam cloacas, exalando terrível mau cheiro. Pararam na frente de uma loja de artigos usados. Entre trapos, garrafas, peças de ferro velho, ossos e sebo de animais, havia um velho de uns setenta anos, cabelos grisalhos, mal encarado, que se abrigava do frio atrás de uma cortina esfarrapada e tirava baforadas do seu cachimbo.
Scrooge e o espírito chegaram ali no momento em que duas mulheres se aproximavam, carregando cada qual uma trouxa. Um homem vestido de preto, com um pacote na mão, chegou em seguida. Os três ficaram surpresos por se encontrarem no mesmo lugar e desataram a rir com a coincidência.
– A primeira a ser atendida serei eu, a jornaleira – disse uma mulher. – Em seguida, a lavadeira; e o agente funerário, por último. Venha aqui, velho Joe, venha ver a pechincha que eu lhe trouxe!
O dono do estabelecimento fez os três entrarem numa sala imunda.
A jornaleira jogou sua trouxa no chão e lançou aos outros um olhar desconfiado.
– Por que esse espanto, Sra. Dilbert? – disse à outra, com maus modos.
– Temos o direito de cuidar do que é nosso! Não foi o que “ele” fez em vida?
– É verdade – concordou a lavadeira. – Sei disso melhor que ninguém.
– Decerto – completou o homem de roupa preta.
– Quem sentiria falta destas tralhas? Não o morto, certamente – tornou a jornaleira. – Se tivesse sido mais generoso, teria quem lhe fechasse os olhos em vez de se debater só, até o último suspiro. Vamos, Joe, abra a trouxa e diga quanto me pagará por estas bugigangas…
Mas o homem de roupa preta passou na frente das duas e exibiu sua pilhagem, que não era grande: carimbos, lapiseiras, abotoaduras e um alfinete de pouco valor. Joe avaliou cada peça e somou os valores na parede, com giz.
– Aqui está sua conta. A outro eu não daria tanto. Quem é o seguinte?
A jornaleira trouxera toalhas, lençóis, roupas e talheres de prata antigos.
– Dou sempre muito às mulheres. É uma fraqueza minha – gabou-se o velho Joe. – Vamos, pegue logo o dinheiro antes que eu mude de ideia.
Chegou a vez da lavadeira, a Sra. Dilbert. Joe desatou a trouxa.
– Que é isto? Cortinas de cama?
– Sim – respondeu ela, rindo.
– E você as tirou com argolas e tudo, estando ele lá dentro?
– Decerto. Por que não? Quando posso pegar alguma coisa, não penso duas vezes. Cuidado, Joe, não vá derramar azeite nos cobertores.
– Os cobertores dele?
– Com certeza ele não sente mais frio – disse a Sra. Dilbert.
– Não teria morrido de alguma doença contagiosa? – riu o velho Joe.
– Sei lá! Que me importa! Veja esta camisa, a melhor que ele tinha.
Por sorte cheguei primeiro e impedi que a vestissem no defunto.
Scrooge ouvia, horrorizado. Iluminados pela fraca luz do candeeiro, os quatro inspiravam-lhe repugnância, como se estivessem violando um cadáver.
– Teve um fim merecido – completou a Sra. Dilbert. – Metia tanto medo nas pessoas e agora, depois de morto, nos dá lucro! Ah! Ah! Ah!
– Espírito! – Scrooge tremia convulsivamente. – Agora compreendo.
O caso desse infeliz poderia ser o meu. Corro o risco de acabar do mesmo jeito…
Nessa hora a cena mudou e Scrooge recuou, espavorido. Estavam diante de um leito nu, sem cortinas, no qual se divisava o corpo inerte e abandonado de um homem, sem ninguém que o chorasse. O espectro apontava a cabeça do morto, mas Scrooge não ousou olhar para ela.
– Espírito, que lugar horrível este! Leve-me daqui!
O fantasma, imperturbável, continuava apontando o cadáver.
– Não posso olhá-lo! Não posso! – gritou Scrooge. Depois, com enorme comoção, completou: – Se existe alguma pessoa que tenha sentido esta morte, por favor, mostre-a, espírito!
Para ler o Capítulo 8, acesse o seguinte link.
J.A.R. - H.C.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Charles Dickens - Conto de Natal (Capítulo 6)

Para ler o Capítulo 5, acesse o seguinte link.

DICKENS, Charles. Conto de Natal. Adaptação de Isabel Vieira. São Paulo: Rideel, 2003. (Coleção Aventuras Grandiosas)

Capítulo 6 (Págs. 17–19)
Festa na casa de Fred
Scrooge e o espírito continuaram a andar pela cidade. Ia escurecendo e começava a nevar. Eles admiravam o esplêndido brilho do fogo nas cozinhas, nas salas, em toda parte. Aqui, através da janela, viam-se os preparativos para um jantar.
Ali, um grupo de crianças saía correndo de casa para receber os tios e primos.
Adiante, ouviam-se as conversas calorosas das famílias reunidas.
De repente, sem aviso algum, Scrooge e o espírito acharam-se num charco deserto, entre enormes penedos que pareciam sepulturas de gigantes. A vegetação era paupérrima e a água estendia-se por tudo.
– Que lugar é este? – perguntou Scrooge.
– É onde vivem os mineiros que trabalham nas entranhas da terra – explicou o espírito. – Mas nem por isso deixam de me festejar.
Na janela de uma cabana brilhava uma luz. Passaram através da parede, feita de pedra e lama, e depararam com uma cena encantadora: um casal de velhos rodeado pelos filhos, netos e bisnetos, junto de um belo fogo, todos com suas melhores roupas, comemorando o Natal.
O espírito não se demorou ali. Ordenou a Scrooge que se agarrasse bem à sua túnica e se dirigiu para o mar. Era indescritível o horror de Scrooge ao ver distanciar-se a linha dos rochedos e ouvir o ruído das ondas. Distante da costa, destacava-se um farol solitário. Mesmo nesse lugar isolado, os dois guardas do farol improvisaram uma lareira e ergueram os copos num brinde.
O fantasma caminhou muito sobre as águas e pousou com seu convidado num navio. O marinheiro do leme, os oficiais da guarda, todos os homens da tripulação pareciam espectros sombrios nos seus postos. Uns cantavam em voz baixa canções de Natal, outros recordavam natais passados e seus remotos lares.
Não havia ali ninguém que nesse dia não tivesse palavras de carinho para com os companheiros e não se lembrasse da família ausente, com a certeza de também ser lembrado por ela.
Scrooge ouvia o rugir do vento e refletia sobre tudo aquilo, quando o fio de seus pensamentos foi cortado por uma estrondosa gargalhada. Surpreso, viu-se numa sala confortável e iluminada. Maior surpresa teve ao reconhecer que o rapaz que dava aquelas gostosas risadas era o filho de sua irmã.
– É a casa de Fred, meu sobrinho! – exclamou.
Jamais conheci ninguém que risse melhor do que esse rapaz, e se você tiver notícia de alguém assim, leitor, apresente-me, porque quero cultivar sua amizade.
Tal como a dor e as lágrimas, o riso e o bom humor são contagiosos. Quando o sobrinho de Scrooge ria, todos ao redor faziam o mesmo.
– Ah! Ah! Ah! Ah! Meu tio disse que o Natal é uma tolice, garanto!
– Que vergonha pensar assim! – exclamou a esposa de Fred, uma jovem muito bonita e simpática, com uma covinha em cada face.
– É um tipo estranho – disse Fred. – Podia tentar ser mais agradável, é verdade, mas quem sofre com seu mau humor é ele mesmo.
– Dizem que é muito rico. É verdade? – perguntou um dos convidados.
– Sim, porém a riqueza não lhe serve para nada. Vive sem conforto e não faz bem a ninguém. Ah! Ah! Ah!
– Não tenho paciência para aturá-lo! – disse a esposa de Fred.
– Eu tenho – replicou o marido. – Sinto pena dele. Não aceitou vir jantar conosco e perdeu todas estas delícias, não é verdade?
Os amigos, que haviam acabado de comer e agora conversavam à volta do fogo, concordaram. Fred deu outra gargalhada e continuou:
– Pena tio Scrooge não estar aqui, pois este alegre convívio lhe faria bem.
Todos os anos, quer ele se zangue ou não, vou convidá-lo porque tenho dó dele.
Pode zombar do Natal até morrer, mas eu o procurarei sempre com a mesma alegria e lhe direi: “Como está, tio Scrooge? Venha jantar conosco”.
Depois do chá houve música e jogos. A mulher de Fred tocou uma ária que fez Scrooge recordar de sua falecida irmã. Quando ouviu os compassos da música, ele se emocionou pensando que, se a tivesse escutado mais vezes no decorrer dos anos, teria sido mais feliz. Entusiasmou-se também com os jogos de adivinhação, dos quais participavam umas vinte pessoas. Scrooge era bom nessas brincadeiras.
Chegou a esquecer que não podiam ouvi-lo e gritava seus palpites aos jogadores, alegre como uma criança.
O espectro estava tão feliz ao vê-lo que olhava para ele com carinho, como se Scrooge fosse um menino. Porém, tinha chegado a hora de partir.
– Ah, só mais um pouquinho, espírito! Deixe-me ver outro jogo!
O espírito não atendeu ao pedido, e Scrooge viu-se novamente andando ao lado dele por muitos lugares. Visitaram hospitais, asilos, prisões. Viajaram a terras longínquas, onde viram os habitantes reunidos. Entraram em casas de pobres e Scrooge julgou-os ricos. Em todos os refúgios miseráveis onde a soberba humana não impediu sua entrada, o espírito deixou bênçãos.
Scrooge estava achando a noite demasiado longa. Observou ainda que, enquanto ele permanecia com a mesma aparência, o espectro ia envelhecendo.
– Minha vida neste mundo é muito breve. Termina esta noite – disse o espírito do Natal presente.
– Esta noite?
– Sim, à meia-noite.
– Desculpe-me a pergunta – disse Scrooge. – Vejo algo debaixo do seu manto e não consigo descobrir se são pés ou garras.
– Aqui estão! – mostrou o espírito, tirando das dobras do manto duas crianças hediondas, esquálidas, enrugadas, esfomeadas, de mau semblante.
Scrooge recuou aterrado e, suspeitando que fossem parentes do espírito, não teve coragem de expressar seu horror. Perguntou apenas:
– São seus filhos?
– São filhos do Homem. O garoto chama-se Ignorância, e a menina, Miséria.
Você deve temê-los, pois em suas testas está escrito: “condenação”.
O sino da igreja bateu meia-noite. Scrooge procurou o espírito, mas ele havia desaparecido. Quando soou a última badalada, lembrou-se da predição de Marley. Ergueu os olhos e deparou com um outro espectro, que caminhava para ele envolto em vapor.
Para ler o Capítulo 7, acesse o seguinte link.

J.A.R. - H.C.

sábado, 16 de novembro de 2013

Charles Dickens - Conto de Natal (Capítulo 5)

Para ler o Capítulo 4, acesse o seguinte link.

DICKENS, Charles. Conto de Natal. Adaptação de Isabel Vieira. São Paulo: Rideel, 2003. (Coleção Aventuras Grandiosas)

Capítulo 5 (Págs. 14–16)
O espírito do Natal presente
Scrooge despertou de um sono profundo e sentou-se na cama para pôr as ideias em ordem. O relógio ia bater uma hora. Notou que havia acordado no momento exato em que deveria chegar o segundo espírito enviado por Marley.
Julgava-se preparado para tudo, mas não estava preparado para nada. Quando o relógio deu uma hora e nenhum espectro apareceu, foi sacudido por um violento tremor. Cinco minutos, dez, quinze se passaram, e nada! Scrooge continuou na cama, iluminado por um feixe de luz que incidira sobre ele e que o apavorava mais que uma dúzia de fantasmas. Afinal, percebeu que a luz vinha do quarto ao lado. Levantou, calçou os chinelos e dirigiu-se para a porta.
Ao colocar a mão na fechadura, Scrooge ouviu uma voz chamá-lo pelo nome e lhe ordenar que entrasse. Ele obedeceu.
O quarto estava irreconhecível, com as paredes e o teto totalmente forrados de folhagens verdes, semelhantes a um bosque. Folhas de azevinho e hera refletiam de tal forma a luz, que parecia haver ali uma infinidade de espelhos. Uma linda labareda subia pela chaminé. No chão, viam-se perus, patos, galinhas, leitões, pastéis, bolos, castanhas assadas, maçãs, peras e taças de vinho espumante.
Ao lado estava sentado um risonho gigante, segurando um archote aceso, como se ele fosse a cornucópia da abundância.
– Entre e me examine bem, homem! – disse o espírito.
Scrooge entrou timidamente e evitou encará-lo.
– Sou o espírito do Natal presente – disse o espectro. – Olhe para mim!
A criatura vestia um roupão guarnecido com arminhos, meio aberto no peito. Os pés estavam descalços. Na cabeça, em vez de chapéu, usava uma coroa de ramos de azevinho presa por pingentes de gelo. Seus caracóis negros caíam livremente, deixando a descoberto a expressão cordial dos olhos. A voz meiga e a mão aberta inspiravam franqueza e liberdade.
– Nunca viu ninguém parecido comigo? – perguntou o espírito.
– Nunca.
– Não conheceu meus irmãos mais velhos?
– Creio que não – disse Scrooge. – Você tem muitos irmãos?
– Mais de mil e novecentos…
– Uma família numerosíssima para sustentar… – balbuciou Scrooge.
O espectro do Natal presente se levantou.
– Espírito! – disse Scrooge com submissão. – Leve-me aonde quiser. Na noite passada recebi uma grande lição. Ensine-me o que preciso aprender.
– Toque no meu manto!
Scrooge fez o que ele mandava. Heras, folhagens, perus, gansos, patos, galinhas, pastéis, vinho espumante, tudo desapareceu instantaneamente, assim como a lareira, e eles se acharam nas ruas da cidade na manhã do dia de Natal, onde o povo produzia uma espécie de música agradável ao quebrar o gelo que obstruía as portas das casas. A cor escura das fachadas dos prédios contrastava com a alvura da neve que cobria os telhados. Nada havia naquele céu sombrio que pudesse causar alegria. No entanto, todos pareciam felizes e contentes.
Crianças riam jogando bolas de neve umas nas outras. As lojas de aves e frutarias ostentavam esplêndidas riquezas: enormes cestos de castanhas, cebolas douradas e redondas, pirâmides de peras e maçãs, lindos cachos de uvas. E as mercearias, então! Tinham as vitrinas apenas entreabertas, mas o suficiente para ver o que acontecia lá dentro. Não era só o tilintar das balanças pesando mercadorias, nem a rapidez com que os embrulhos eram feitos, nem o delicioso aroma do chá e do café, nem a alvura das amêndoas, nem as frutas secas, polvilhadas de açúcar, que desafiavam o apetite até dos menos gulosos, nem muitas outras coisas enfeitadas para o Natal e boas para comer; não era só isso. Era também a alegria dos fregueses, que se esbarravam na entrada, e se esqueciam das compras para conversar, enquanto os empregados corriam de um lado a outro, atendendo a todos com paciência e satisfação.
Os sinos tocaram, chamando o povo para a igreja. Grupos com as mais belas roupas surgiam nas ruas. Nas vielas e becos, viam-se pobres levando seu farnel para assar no forno das padarias. Estes pareciam interessar demais o espírito, pois, conforme passavam, ele os aspergia com o incenso do archote.
Extraordinário archote era esse! Scrooge observou que nas raras vezes em que os pobres trocavam palavras ásperas, bastou o espírito lançar algumas gotas de incenso para entenderem que não se devia discutir no dia de Natal.
– Há algum sabor particular nessas gotas? – perguntou Scrooge.
– Há, é o meu sabor.
– Pode-se aplicá-lo em qualquer mesa de jantar no dia de hoje?
– Sim, em qualquer mesa em que reine a cordialidade, mas especialmente na dos pobres.
– Por que na dos pobres?
– Porque são os pobres que mais precisam dele.
Depois os sinos cessaram, as padarias se fecharam, e o espírito carregou Scrooge, sempre agarrado ao seu manto, a uma humilde casinha no subúrbio. Parou na entrada e a aspergiu com o archote, abençoando a morada onde Bob Gratchit, o empregado de Scrooge, vivia com a família.
A esposa de Bob, usando um vestido modesto, mas gracioso, arrumava a mesa, ajudada pela filha Belinda. Peter, o rapaz mais velho, metido em roupas do pai, mergulhava o garfo no tacho das batatas, enquanto os dois menores, um garoto e uma menina, corriam dizendo que a padaria cheirava muito bem e que o pato que estava assando só poderia ser o deles.
– E Marta que não chega! – disse a mãe. – E seu pai? E Tim?
Logo Marta, a filha mais velha, chegou do serviço. Em seguida, entrou Bob Gratchit com o pequeno Tim nos ombros, segurando suas muletas e com o aparelho de ferro nas perninhas. Depois de muitos beijos e abraços, puseram Tim sentado junto à lareira. Bob preparou licores e Peter e os irmãos menores foram buscar o pato, voltando com ele em triunfo.
Nunca se vira um pato como aquele! Sentados à mesa, todos elogiaram a brancura da carne e o tamanho do assado, saboreando-o com enorme prazer. As exclamações de alegria redobraram quando a mãe tirou do forno o bolo de Natal.
Depois da refeição, limparam tudo e sentaram-se ao pé do fogo para assar castanhas e provar um gole de licor. O pai fez um brinde.
– Que Deus nos abençoe a todos! Feliz Natal! – disse Bob Gratchit.
– Que Deus proteja cada um de nós! – pediu o pequeno Tim.
– Espírito! – disse Scrooge, com um interesse que nunca sentira antes. – Tim viverá muito tempo?
– Vejo uma muleta sem dono e um lugar vago na lareira – respondeu o espírito.
– Se o futuro não mudar essas sombras, é certa a morte do menino.
– Não, não! – suplicou Scrooge. – Diga que o garoto será poupado!
– É melhor que ele morra, assim se diminui o excesso de população.
Ao ouvir o espírito repetir suas próprias palavras, Scrooge sentiu que o remorso o abatia. Curvou a cabeça, tremendo, enquanto Bob brindava:
– À saúde do Sr. Scrooge!
– Mas, querido, não se pode propor um brinde a uma pessoa tão odiosa, cruel e dura como o Sr. Scrooge! – reclamou a esposa.
– Querida – recriminou-a brandamente o marido. – Hoje é dia de Natal!
– É verdade, querido. Que Deus dê a ele um ano cheio de alegrias!
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J.A.R. - H.C.