Merton transmite-nos,
com estes versos, uma sensação de profunda devoção, enfatizando a natureza
sagrada do quotidiano e a presença do divino na vida simples do meio rural: a
presença afetuosa de Maria, em companhia da lua e das estrelas, oferece consolo
e bençãos a todos os elementos do entorno, impregnando-os com a mais compassiva
espiritualidade.
Trata-se, de fato, de
um paralelo entre a visita de Maria à sua prima Isabel e a quietude do entardecer
no campo – quando a natureza apresta-se para o descanso noturno –, e que se convola
num canto de gratidão e reverência à mãe amorosa e celestial dos cristãos, sempre
disposta a velar por seus filhos enquanto dormem, cumulando suas vidas por meio
de sua presença serena e protetora.
J.A.R. – H.C.
Thomas Merton
(1915-1968)
The Evening of the
Visitation
Go, roads, to the
four quarters of our quiet distance,
While you, full moon,
wise queen,
Begin your evening
journey to the hills of heaven,
And travel no less
stately in the summer sky
Than Mary, going to
the house of Zachary.
The woods are silent
with the sleep of doves,
The valleys with the
sleep of streams,
And all our barns are
happy with peace of cattle
gone to rest.
Still wakeful, in the
fields, the shocks of wheat
Preach and say
prayers:
You sheaves, make all
your evensongs
as sweet as ours,
Whose summer world,
all ready for the granary
and barn,
Seems to have seen,
this day,
Into the secret of
the Lord’s Nativity.
Now at the fall of
night, you shocks
Still bend your heads
like kind and humble kings
The way you did this
golden morning
when you saw God’s
Mother passing,
While all our windows
fill and sweeten
With the mild vespers
of the hay and barley.
You moon and rising
stars, pour on our barns
and houses
Your gentle
benedictions.
Remind us how our
Mother, with far subtler
and more Holy
influence,
Blesses our rooves
and eaves,
Our shutters, lattices
and sills,
Our doors, and
floors, and stairs, and rooms,
and bedrooms,
Smiling by night upon
her sleeping children:
O gentle Mary! Our
lovely Mother in heaven!
In: “Thirty Poems”
(1944)
A Visitação
(Rafael Sanzio:
artista italiano)
O Entardecer da
Visitação
Ide, sendas, aos
quatro cantos de nosso pacato torrão,
Enquanto tu, lua
cheia, sábia rainha,
Começa a tua jornada vespertina
às colinas celestiais,
E viaja não menos régia
pelo firmamento estival,
Assim como Maria ao
dirigir-se à casa de Zacarias.
Os bosques silenciam
com o sono das pombas,
Os vales com a
quietação dos riachos,
E todos os nossos
estábulos folgam na paz do gado
em repouso.
Ainda despertas, nos
campos, as medas de trigo
Pregam e elevam suas preces:
Vós, feixes, tornai
todas as vossas canções vesperais
tão doces quanto as
nossas,
Ao azo de que o mundo
sob o verão, todo ao dispor
do celeiro e do
estábulo,
Parece ter visto,
neste dia,
O segredo da
Natividade do Senhor.
Ainda agora, ao cair
da noite, vós, medas,
Inclinais as vossas
cabeças como reis bondosos
e humildes,
Tal como o fizestes
nesta dourada manhã quando
vistes passar a Mãe
de Deus,
Enquanto todas as
nossas janelas se enchem
e se enternecem
Com as suaves preces
vesperais do feno e da cevada.
Vós, lua e estrelas
nascentes, derramai sobre
os nossos estábulos e
casas
As vossas gentis
bênçãos.
Lembrai-nos de como a
nossa Mãe, com uma influência
muito mais sutil e Santa,
Abençoa os nossos
telhados e beirais,
Os nossos postigos, treliças
e peitoris,
As nossas portas, e
soalhos, e escadas, e salas, e quartos,
Sorrindo de noite
para os seus filhos adormecidos:
Ó Maria gentil! A
nossa adorável Mãe do Céu!
Em: “Trinta Poemas”
(1944)
Referência:
MERTON, Thomas. The evening
of the visitation. In: __________. The collected poems of Thomas Merton.
6th print. New York, NY: New Directions, 1980. p. 43-44.



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