Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 21 de dezembro de 2025

Thomas Merton - O Entardecer da Visitação

Merton transmite-nos, com estes versos, uma sensação de profunda devoção, enfatizando a natureza sagrada do quotidiano e a presença do divino na vida simples do meio rural: a presença afetuosa de Maria, em companhia da lua e das estrelas, oferece consolo e bençãos a todos os elementos do entorno, impregnando-os com a mais compassiva espiritualidade.

 

Trata-se, de fato, de um paralelo entre a visita de Maria à sua prima Isabel e a quietude do entardecer no campo – quando a natureza apresta-se para o descanso noturno –, e que se convola num canto de gratidão e reverência à mãe amorosa e celestial dos cristãos, sempre disposta a velar por seus filhos enquanto dormem, cumulando suas vidas por meio de sua presença serena e protetora.

 

J.A.R. – H.C.

 

Thomas Merton

(1915-1968)

 

The Evening of the Visitation

 

Go, roads, to the four quarters of our quiet distance,

While you, full moon, wise queen,

Begin your evening journey to the hills of heaven,

And travel no less stately in the summer sky

Than Mary, going to the house of Zachary.

 

The woods are silent with the sleep of doves,

The valleys with the sleep of streams,

And all our barns are happy with peace of cattle

gone to rest.

Still wakeful, in the fields, the shocks of wheat

Preach and say prayers:

You sheaves, make all your evensongs

as sweet as ours,

Whose summer world, all ready for the granary

and barn,

Seems to have seen, this day,

Into the secret of the Lord’s Nativity.

 

Now at the fall of night, you shocks

Still bend your heads like kind and humble kings

The way you did this golden morning

when you saw God’s Mother passing,

While all our windows fill and sweeten

With the mild vespers of the hay and barley.

 

You moon and rising stars, pour on our barns

and houses

Your gentle benedictions.

Remind us how our Mother, with far subtler

and more Holy influence,

Blesses our rooves and eaves,

Our shutters, lattices and sills,

Our doors, and floors, and stairs, and rooms,

and bedrooms,

Smiling by night upon her sleeping children:

O gentle Mary! Our lovely Mother in heaven!

 

In: “Thirty Poems” (1944)

 

A Visitação

(Rafael Sanzio: artista italiano)

 

O Entardecer da Visitação

 

Ide, sendas, aos quatro cantos de nosso pacato torrão,

Enquanto tu, lua cheia, sábia rainha,

Começa a tua jornada vespertina às colinas celestiais,

E viaja não menos régia pelo firmamento estival,

Assim como Maria ao dirigir-se à casa de Zacarias.

 

Os bosques silenciam com o sono das pombas,

Os vales com a quietação dos riachos,

E todos os nossos estábulos folgam na paz do gado

em repouso.

Ainda despertas, nos campos, as medas de trigo

Pregam e elevam suas preces:

Vós, feixes, tornai todas as vossas canções vesperais

tão doces quanto as nossas,

Ao azo de que o mundo sob o verão, todo ao dispor

do celeiro e do estábulo,

Parece ter visto, neste dia,

O segredo da Natividade do Senhor.

 

Ainda agora, ao cair da noite, vós, medas,

Inclinais as vossas cabeças como reis bondosos

e humildes,

Tal como o fizestes nesta dourada manhã quando

vistes passar a Mãe de Deus,

Enquanto todas as nossas janelas se enchem

e se enternecem

Com as suaves preces vesperais do feno e da cevada.

 

Vós, lua e estrelas nascentes, derramai sobre

os nossos estábulos e casas

As vossas gentis bênçãos.

Lembrai-nos de como a nossa Mãe, com uma influência

muito mais sutil e Santa,

Abençoa os nossos telhados e beirais,

Os nossos postigos, treliças e peitoris,

As nossas portas, e soalhos, e escadas, e salas, e quartos,

Sorrindo de noite para os seus filhos adormecidos:

Ó Maria gentil! A nossa adorável Mãe do Céu!

 

Em: “Trinta Poemas” (1944)

 

Referência:

 

MERTON, Thomas. The evening of the visitation. In: __________. The collected poems of Thomas Merton. 6th print. New York, NY: New Directions, 1980. p. 43-44.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário