Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

D. H. Lawrence - Noite do Nascimento

Jogando com a metáfora em torno do mito de Adão e Eva, Lawrence explora a ideia do renascimento como um processo íntimo e universal, marcado por uma conexão profunda entre dois seres que se fundem para além dos gêneros ou papéis, num lídimo ato de criação divina a transcender as categorias convencionais.

 

Não mais um passado de sofrimento, de lágrimas, senão um porvir purificado e renovado, pleno de expectativas, de extraordinárias esperanças – como as suscitadas pelo Natal –, no qual a mulher em gestação dentro do homem ganha novas forma e identidade, num exercício inusitado de paternidade, configurado a partir de um enlace sincrônico entre o visceral e o poético.

 

J.A.R. – H.C.

 

D. H. Lawrence

(1885-1930)

 

Birth Night

 

This fireglow is a red womb

In the night, where you’re folded up

On your doom.

 

And the ugly, brutal years

Are dissolving out of you.

And the stagnant tears.

 

I the great vein that leads

From the night to the source of you

Which the sweet blood feeds.

 

New phase in the germ of you;

New sunny streams of blood

Washing you through.

 

You are born again of me.

I, Adam, from the veins of me

The Eve that is to be.

 

What has been long ago

Grows dimmer, we both forget,

We no longer know.

 

You are lovely, your face is soft

Like a flower in bud

On a mountain croft.

 

This is Noel for me.

To-night is a woman born

Of the man in me.

 

A Adoração dos Pastores

(Guido Reni: pintor italiano)

 

Noite do Nascimento

 

Este fulgor ígneo é útero rubro

Na noite, onde te encontras cingida

Ao teu fado.

 

E os anos brutais, cruéis,

Dissolvem-se em ti.

E estancam-se as lágrimas.

 

Eu, a grande veia a conduzir

A noite à fonte que te sustenta

E de onde mana o teu doce sangue.

 

Nova fase no embrião que tu és;

Novos fluxos radiosos de sangue

Banham-te por completo.

 

Nasces outra vez de mim.

Eu, Adão, de minhas veias

A Eva que está por vir.

 

O que pertence ao passado

Torna-se pálido, indistinto; foge-nos

À memória e já não o recordamos.

 

És bela, teu rosto tão suave

Quanto uma flor em botão

Num sítio montanhoso.

 

Eis o meu Natal.

Esta noite é uma mulher nascida

Do homem que há em mim.

 

Referência:

 

LAWRENCE, D. H. Birth night. In: __________. The complete poems. Collected and edited with an introduction and notes by Vivian de Sola Pinto and F. Warren Roberts. 7th print. New York, NY: Penguin Books, 1988. p. 239-240. (“The Penguin Poets”)

 

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