Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Delmore Schwartz - O Crepúsculo de Inverno, Refulgindo em Negro e Dourado

Apresentando provável intertextualidade com o Soneto LXXIII de Shakespeare – haja vista a semelhança na elocução dos versos iniciais e no tema partilhado do tempo e do envelhecimento, representado por meio de metáforas sazonais –, este soneto de Schwartz, com a sua distribuição de linhas nada convencional, contrasta a energia vibrante e quase febril de um crepúsculo de inverno, em plena época natalina, com a realidade mais sóbria, quiçá até melancólica, do quotidiano.

 

Nota-se certa tensão entre a beleza do momento, natural ou estética, e a repetitividade e a complexidade emocional das experiências pessoais do falante: com ecos em Lev. (19, 24-25), de um quarto ano com sua investidura no sagrado, passa-se ao seguinte, em que o livre usufruto do tempo, no auge da maturidade, não logra obter adequada valorização quando se o dedica às manifestações da arte, resultando em constrangimentos e incompreensões.

 

J.A.R. – H.C.

 

Delmore Schwartz

(1913-1966)

 

The Winter Twilight, Glowing Black and Gold

 

That time of year you may in me behold

When Christmas trees are blazing on the walk,

Raging against stale snow and the cold

And low sky’s bundled wash, deadwhite as chalk.

 

Hissing and ravenous the brilliant plant:

Rising like eagerness, a rushing pyre

(As when the tutti foams up and the chant

Soars up – hurrahing! – from the Easter choir).

 

But this is only true at four o’clock.

 

At noon the fifth year is again abused:

I bring a distant girl apples and cake,

Marbles, pictures, secrets, my swollen heart

Now boxed in the learning and music of art:

 

But once more, as before, accepted and refused.

 

Noturno em negro e dourado:

a queda do foguete

(James A. M. Whistler: pintor norte-americano)

 

O Crepúsculo de Inverno, Refulgindo em Negro

e Dourado

 

Essa época do ano podes contemplá-la em mim

Quando as árvores de Natal esplendem nas calçadas,

Enfadando-se contra a neve velha, o frio

E o guache espesso do céu baixo, branco como giz.

 

Sibilante e voraz a brilhante planta:

Ergue-se tal qual sofreguidão, uma pira impetuosa

(Como quando se aguça o tutti  e se eleva (*)

O cântico – hurras! – do coro pascoal).

 

Mas isso só é certo às quatro em ponto.

 

Ao meio-dia, o quinto ano volta a ser ultrajado:

Levo a uma menina distante bolo e maçãs,

Berlindes, fotos, segredos, o meu coração expandido

Agora confinado na aprendizagem e na música da arte:

 

Mas novamente, como antes, aceito e rejeitado.

 

Nota:

 

(*). Tutti: notação de partitura empregado para indicar que todos os instrumentos devem tocar (ou todas as vozes cantar) a uma só vez.

 

Referência:

 

SCHWARTZ, Delmore. The winter twilight, glowing black and gold. In: __________. Selected poems: 1938-1958. Summer knowledge. 1st ed., 3rd print. New York, NY: New Directions, 1967. p. 204.

 

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