Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 30 de novembro de 2021

Eamon Grennan - Detalhe

Um poema que se inicia com a descrição de fatos naturais, a envolver cenas de perseguição de pássaros predadores, termina com um interessante ‘insight’ do poeta sobre a própria arte de redigir poemas: exatamente quando o vate pousa os olhos sobre um detalhe em particular, auscultando-lhe a mais íntima melodia, seu coração é tomado de assalto por uma incisiva verdade que o leva para bem distante, a pontos nunca dantes suspeitados.

A imagística do poeta irlandês não deixa de ter algo de inusitado, pois emprega deliberadamente associações entre palavras que se depreendem em distintos sentidos, v.g., tudo são luzes e brilhos nos versos de Grennan e, talvez por isso, tenha concatenado o verbo “twinkle” (piscar, cintilar, reluzir) aos derradeiros pios ou gorjeios do tordo (“cheeps”), quando o natural, claro está, seria empregar algum verbo que dissesse respeito ao sentido de audição: eis aí a liberdade de imaginação na criação poética!

J.A.R. – H.C.

 

Eamon Grennan

(n. 1941)

 

Detail

 

I was watching a robin fly after a finch – the smaller bird

chirping with excitement, the bigger, its breast blazing, silent

in light-winged earnest chase – when, out of nowhere

over the chimneys and the shivering front gardens,

flashes a sparrowhawk headlong, a light brown burn

scorching the air from which it simply plucks

like a ripe fruit the stopped robin, whose two or three

cheeps of terminal surprise twinkle in the silence

closing over the empty street when the birds have gone

about their own business, and I began to understand

how a poem can happen: you have your eye on a small

elusive detail, pursuing its music, when a terrible truth

strikes and your heart cries out, being carried off.

 

Ataque de um falcão a um pombo

(Adolph Menzel: pintor alemão)

 

Detail

 

Estava observando um tordo voar atrás de um tentilhão

– o pássaro menor

a chilrear de excitação, o maior, com seu flamejante peito, silencioso

em firme perseguição num ágil bater de asas – quando, do nada,

sobre as chaminés e os tremulantes jardins dianteiros,

desponta um gavião em ponta-cabeça, uma flama castanho-clara

abrasando o ar, do qual simplesmente arranca,

como um fruto maduro, o interceptado tordo, cujos dois ou três

pios de terminal surpresa refulgem no silêncio

que se fecha sobre a rua vazia, quando os pássaros já terão se

ocupado de sua própria faina; e então comecei a compreender

como um poema pode acontecer: tens o olhar pousado sobre

um elusivo detalhe, perseguindo sua música, quando

uma terrível verdade

te assalta e teu coração põe-se a gritar, sendo carregado para longe.


Referência:

GRENNAN, Eamon. Detail. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 448.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Giovanni Papini - Gog: As obras-primas da literatura

Nesta que é uma das obras mais sardônicas que jamais terei lido, o escritor italiano põe nos lábios da personagem “Gog”, quem sabe, as suas próprias perspectivas do que sejam as manifestações do mundo, especialmente aquelas que surgem mediante as ações dos homens: em linha com os interesses deste blog, há, em especial, dois excursos, a saber, “As obras-primas da literatura”, que ora transcrevo à apreciação do leitor, e “A indústria da poesia”, este já bem longo e que, talvez, mais tarde, resulte numa postagem neste sítio.

Sobre o tomo propriamente dito, “Gog”, de 1931, o escritor, tradutor e jornalista carioca Luiz Carlos Lisboa tece os comentários que antecedem a seção atinente ao texto propriamente dito de Papini. Quanto às notas prévias às referências, são de minha autoria, em busca de esclarecer os termos empregados e de identificar as obras a que aludem, a meu ver, as irônicas sínteses do autor italiano.

J.A.R. – H.C.

 

Giovanni Papini
(1881-1956)
 

Gog - Giovanni Papini

(LISBOA, 1990, p. 150-151)

 

A antiga técnica de supor que escrever um diário permite ao autor discutir todos os assuntos e manter-se como observador identificado com o personagem. Goggius, conhecido como Gog, é uma natureza esgotada que, tendo tudo experimentado, ainda procura uma possibilidade de salvação, na forma de um novo entusiasmo. A má-fé e o esnobismo são revelados nas pessoas e no mundo, pelos olhos do autor. Gog enriqueceu nos Estados Unidos, abandonou os negócios e iniciou uma vida de experiências e refinamentos. Assim, despreza algumas obras-primas como carentes de sentido e procura em homens célebres a resposta para a vida e a morte, o que evidentemente não encontra. Suas entrevistas com Gandhi, Ford, Freud, Einstein, Lênin e Shaw são maliciosas e sagazes. Gog quer ser o Anticristo, já que não pode ser Deus, mas não consegue divertir-se nem ser feliz por um momento.

 

O dinheiro afinal não pode nada, ao contrário do que havia pensado o personagem no início de sua carreira. O que ele lamenta é que nem célebre consegue tornar-se. Gog é o símbolo do mundo insatisfeito, poderoso e entediado dos nossos dias. Talvez Cristo, para o autor, seja a solução — mas isso só vai parecer real na vida de Papini um pouco mais tarde. Em Um homem acabado (1913), confessadamente autobiográfico, Papini recorda uma infância infeliz e revela uma inquietação religiosa. Aos vinte e dois anos funda um semanário, que vive apenas dois anos. Vieram outros, depois, e afinal ele é redator-chefe de Il Regno, em Florença. Essa vida ligada ao jornalismo revelou a Papini (e a Gog) um pouco de tudo o que existe no mundo, despojando-o de ilusões de toda espécie.

 

Papini sofreu sempre com um desejo de certeza que habitava seu espírito. Sua conversão ao catolicismo teve enorme repercussão. Sua História de Cristo (1921) foi traduzida em todas as línguas. Depois de O diabo, livro polêmico, de Santo Agostinho e de um volume de poesias (Espião do mundo, 1955), algumas evocações ao passado foram reunidas em A felicidade de ser infeliz. Esse livro póstumo, no entanto, conheceu pouca divulgação.

 

Capa de uma das
edições italianas de “Gog”

As obras-primas da literatura

Cuba, 7 de novembro

(PAPINI, [197-?], p. 6-7)

 

Para fins pessoais, precisava conhecer aquelas que os professores dos colleges (*) chamam as “obras-primas da literatura”. Encomendei a um bibliotecário formado, que me havia sido indicado como muito eficiente, uma lista condensada, pedindo que obtivesse os livros nas melhores edições. Assim que tive nas mãos estes tesouros não atendi mais ninguém e não me levantei mais da cama.

 

A princípio fiquei decepcionado e pareceu-me incrível que tais humbugs (**) fossem realmente o produto de primeira qualidade do espírito humano. O que não entendia, me parecia inútil; o que entendia não me divertia ou me ofendia. Coisas absurdas, cacetes: às vezes insignificantes ou nauseabundas. Narrativas que se verdadeiras me pareciam inverossímeis, e bobas se inventadas. Escrevi a um célebre professor da Universidade de W. perguntando se aquela lista era boa. Respondeu que sim, e me conformei. Tive forças para ler todos os livros, menos três ou quatro que não consegui suportar além das primeiras páginas.

 

Bandos de homens, ditos heróis, que se estriparam durante dez anos seguidos sob os muros de uma cidadezinha por causa de uma velha seduzida [a]; a viagem de um vivo no funil dos mortos como pretexto para falar mal dos mortos e dos vivos [b]; um louco magro e um louco gordo que andam pelo mundo em busca de pauladas [c]; um guerreiro que perde a razão por uma mulher e se diverte barbeando os carvalhos das florestas [d]; um covarde ao qual mataram o pai e que para vingá-lo faz morrer uma moça que o ama e outras personagens várias [e]; um diabo aleijado que arranca os telhados das casas para exibir suas vergonhas [f]; as aventuras de um homem médio que banca o gigante entre os pigmeus e o anão entre os gigantes, igualmente inoportuno e ridículo [g]; a odisseia de um idiota que através de uma sequência de cômicas tragédias sustenta ser este o melhor dos mundos [h]; as peripécias de um professor demoníaco servido por um demônio profissional [i]; a tediosa história de uma adúltera de província que se aborrece e no final se envenena [j]; as tiradas loquazes e incompreensíveis de um profeta acompanhado por uma águia e uma serpente [k]; um jovem pobre e febril que mata uma velha e depois, imbecil, não sabe sequer gozar o fruto do furto e acaba por cair nas mãos da polícia [l].

 

Pareceu-me entender, com minha cabeça virgem, que a tão exaltada literatura está apenas na idade na pedra, o que me desiludiu profundamente.

 

Contratei um especialista de poesia que tentou me confundir dizendo que aquelas obras valiam pelo estilo, a forma, a língua, as imagens, os pensamentos e que um espírito educado podia tirar delas a maior satisfação. Respondi que para mim, obrigado a ler quase todos aqueles livros em traduções, a forma interessava pouco e o conteúdo me parecia, assim como é, antiquado, insensato, burro e extravagante. Gastei cem dólares nesta consulta, sem nenhum proveito.

 

Felizmente conheci mais tarde alguns escritores jovens que confirmaram meu julgamento sobre aquelas velhas obras e me deram seus livros, onde encontrei, em meio a muitas coisas nebulosas, um alimento mais apropriado para meus gostos. Ficou-me, porém, a dúvida de que a literatura seja incapaz de aperfeiçoamentos decisivos: é muito provável que ninguém, daqui a um século, se dedique a uma indústria tão atrasada e pouco rendosa.


Notas:

[*]. Colleges – faculdades, universidades.

[**]. Humbugs – farsas, fraudes, embustes, imposturas.

[a]. Ilíada, de Homero (~VIII a.C.).

[b]. A Divina Comédia, de Dante Alighieri (1472).

[c]. Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1605).

[d]. Orlando Furioso, de Ludovico Ariosto (1516).

[e]. Hamlet, de William Shakespeare (1603).

[f]. O Diabo Coxo, de Luis Veléz Guevara (1641).

[g]. As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift (1726).

[h]. Cândido, ou o Otimismo, de Voltaire (1759).

[i]. Fausto, de Johann W. von Goethe (1790).

[j]. Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1856).

[k]. Assim Falou Zaratustra, de Friedrich Nietzsche (1883).

[l]. Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski (1866).


Referências:

LISBOA, Luiz Carlos. Pequeno guia da literatura universal: através de quase duzentos livros que ninguém mais pode ignorar impunemente. 1. ed. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1990.

PAPINI, Giovanni. Gog. Tradução de Marina Colasanti. Rio de Janeiro, GB: Nova Fronteira, [197-?].

domingo, 28 de novembro de 2021

Armindo Trevisan - Imagens

O falante dirige-se aos cidadãos de Chartres, comuna francesa com cerca de quarenta mil habitantes – certamente, bem menos à época da construção da famosa catedral, ao longo dos séculos XII e XIII –, qualificando-os como “gulosos de imagens”, ou melhor, homens e mulheres piedosos que tencionavam legar algo de concreto e deslumbrante aos visitadores da urbe no futuro.

Agora, segundo o ente lírico, não mais prepondera a sede de imortalidade por meio de obras que tenham o condão de atravessar os reveses do tempo, na mais pura tangibilidade – mesmo que devotadas a um ideário transcendente, nobre, divino, como era o caso –, senão a de ideias que tenham viço para perdurar, com esteio numa presumível invulnerabilidade.

J.A.R. – H.C.

 

Armindo Trevisan

(n. 1933)

 

Imagens

 

Éreis gulosos de imagens,

cidadãos de Chartres!

 

Em vossos vitrais

e naves

tínheis dez mil figuras.

Uma figura para cada habitante, senhores,

que adoráveis Deus

com ardente piedade, e à Virgem

consagráveis a amêndoa

de vossos corações.

 

Somos diferentes de vós!

Miramos vossas estátuas

desinteressados dos vossos santos.

Mal vemos o Cristo,

que nos acena do portal ocidental.

Nossa imaginação

é maior do que a vossa?

Nossos olhos,

menos ávidos do que os vossos?

 

Orai por nós, homens do século XIII!

 

Não construiremos mais catedrais

de pedras.

Necessitamos de ideias

que não morram conosco.

 

Em: “A Serpente na Grama” (2001)

 

Catedral de Chartres

(Jean-Baptiste Camille Corot: pintor francês)


Referência:

TREVISAN, Armindo. Imagens. In: __________. Nova antologia poética: 1967-2001. Porto Alegre, RS: Sulina, 2001. p. 200.

sábado, 27 de novembro de 2021

Final da Libertadores 2021 entre Palmeiras x Flamengo: comentários a contrário senso

Palmeiras e Flamengo decidem, daqui a algumas horas, a Copa Libertadores 2021, num jogo que, parece-me, promete ser bastante disputado.

 

Explico-me melhor, porque tal perspectiva vai de encontro às projeções da maior parte da crônica esportiva pátria, a atribuir franco favoritismo à equipe rubro-negra.

 

Sem dúvida, a equipe carioca conta com um elenco, pelo menos no plano da titularidade, superior ao do plantel paulista. Contudo, a meu ver, tal propensão pode se reverter dentro de campo, isto porque a equipe do Flamengo vem apresentando um reiterado problema de recomposição no meio do campo, motivo de empates e reveses que tem sofrido, mesmo depois de abrir vantagem no placar, sobretudo no primeiro tempo.

 

Nesse sentido, em termos de estratégia para o Palmeiras, resta manter os seus homens em campo atrás da linha da bola, pelo menos durante toda a primeira parte do prélio, isto porque os números das últimas dez partidas do rubro-negro evidenciam que as chances de o time sair vencendo no primeiro tempo são superiores às de vencer no segundo.

 

Desse modo, presumo que venha a acontecer o seguinte: se o Flamengo abrir uma vantagem de dois ou mais gols no primeiro tempo, decerto sairá vencedor ao final da partida; se tal vantagem não se concretizar ou limitar-se a um gol, então a partida se tornará equilibrada e imprevisível no segundo tempo.

 

Por outro lado, não suponho que o Palmeiras logre terminar a primeira etapa vencendo a partida, pois são notórias as limitações, pelo menos de alguns jogadores, no ataque do Periquito. Contudo, há o bordão de que “o futebol é uma caixinha de surpresas”. Será mesmo?

Série “A” 2021 – Fim da 34ª Rodada – Projeções do Modelo Esotérico-Matemático (MEM)

Mais duas rodadas e têm-se aqui as projeções conservadoras do MEM para o final da Série “A” do Brasileirão 2021, agora faltando apenas 4 (quatro) partidas à maioria das equipes até o término do torneio, à exceção de algumas que estão mais avançadas em relação à rodada de nº 34 – descompasso esse levado em consideração nas precitadas projeções.

Faço ver que as presentes projeções, por conseguinte, partem da classificação e seus correspondentes números, segundo os dados extraídos às 13h do dia em curso, vale dizer, 27.11.2021.

Como se pode notar, em relação ao G4, a projeção aponta apenas uma alteração em relação àquela da rodada de nº 32, vale dizer, a permuta do Bragantino pelo Corinthians, na quarta posição. Nesse sentido, parece não haver dúvidas de que o Atlético-MG superará o trauma de 50 anos sem o título em questão. Assim se espera, dirá o torcedor alvinegro mais precavido.

No que tange ao Z4, nenhuma alteração, mantendo-se o grupo anterior, composto, na seguinte ordem, por: Juventude, Grêmio, Sport e Chapecoense.

Aguardemos as próximas duas rodadas, quando então novas projeções serão aqui postadas.

Um grande abraço a todo(a)s.

J.A.R. – H.C.

Fontes:

Chance de Gol
UFMG Matemática
Infobola

 

Robert Lowell - Alfred Corning Clark

Lowell toma a figura de Alfred Corning Clark, seu colega de classe no St. Mark’s School, em Massachusetts (EUA), como mote para esta elegia, ainda que, pelo visto, não fosse o seu mais íntimo amigo, dada a independência excêntrica, a esterilidade emocional, o frio distanciamento deste último – a par de suas capacidades, que o alçaram a uma posição entre os de maior distinção na turma.

O poema se constrói nos três tempos verbais – passado, presente e futuro –, a mesclar discretas ironias e encômios, trazendo os vestígios do que fora o relacionamento do falante com o colega, à volta dos desafios e dos prazeres com o jogo de xadrez, por eles tão estimado: as lembranças dos tempos de discente jamais são tratadas com indiferença, porque embebidas em sentimentos, quer agradáveis quer penosos.

J.A.R. – H.C.

 

Robert Lowell

(1917-1977)

 

Alfred Corning Clark

 

You read the New York Times

every day at recess,

but in its dry

obituary, a list

of your wives, nothing is news,

except the ninety-five

thousand dollar engagement ring

you gave the sixth.

Poor rich boy,

you were unseasonably adult

at taking your time,

and died at forty-five.

Poor Al Clark

behind your enlarged,

hardly recognizable photograph,

I feel the pain.

You were alive. You are dead.

You wore bow-ties and dark

blue coats, and sucked

wintergreen or cinnamon lifesavers

to sweeten your breath.

There must be something –

some one to praise

your triumphant diffidence,

your refusal of exertion,

the intelligence

that pulsed in the sensitive,

pale concavities of your forehead.

You never worked,

and were third in the form.

I owe you something –

I was befogged,

and you were too bored,

quick and cool to laugh.

You are dear to me, Alfred;

our reluctant souls united

in our unconventional

illegal games of chess

on the St Mark’s quadrangle.

You usually won –

motionless

as a lizard in the sun.

 

Alfred Corning Clark

(1916-1961)

 

Alfred Corning Clark

 

Lês o New York Times

todos os dias no intervalo,

mas em seu árido

obituário, a listar

tuas esposas, não há notícia alguma,

exceto os noventa e cinco mil dólares

para o anel de noivado

que ofereceste à sexta.

Pobre rapaz rico,

eras incomumente adulto

ao despender teu tempo,

e morreste aos quarenta e cinco.

Pobre Al Clark,

por trás de tua fotografia ampliada,

dificilmente reconhecível,

sinto a dor.

Estavas vivo. Agora morto.

Usavas gravatas-borboleta e jaquetas

azuis escuras, e chupavas

dropes de gaultéria ou de canela

para abrandar teu hálito.

Deve haver algo –

alguém para elogiar

tua triunfante timidez,

tua recusa ao esforço,

a inteligência

que pulsava nas pálidas e sensíveis

concavidades de tua fronte.

Sem qualquer labuta,

foste o terceiro entre os de maior distinção.

Assumo-te uma coisa:

achava-me desnorteado

e punhas-te entediado,

lesto e impassível demais para rir.

És-me querido, Alfred;

nossas relutantes almas se uniram

em desautorizados e inconvencionais

jogos de xadrez

no quadrilátero de São Marcos.

Geralmente vencias –

inerte

como um lagarto ao sol. 


Referência:

LOWELL, Robert. Alfred Corning Clark (1916-1961). In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 24-25.