Contemplação,
moderação e desapego são os ingredientes que o poeta simbolista francês
recomenda para se alcançar uma felicidade mais estável, digo melhor, menos
propensa a sucumbir a prazeres fugazes ou ao afã de apropriar-se de um longo
rol de bens materiais – mero instrumental do qual não se deduzem elementos
essenciais a uma existência nos marcos da plenitude.
Trata-se de
vislumbrar a eternidade na beleza do efêmero, sem prender-se ao que seja
meramente superficial, adotando-se uma atitude mais positiva e de gratidão perante
a vida: eis aí, por conseguinte, valores vocacionados a serenar o mar
turbilhonante das comoções humanas, para o tornar mais fausto à travessia do
nosso batel até a outra margem.
J.A.R. – H.C.
Henri F. J. de
Régnier
(1864-1936)
Le Bonheur
Si tu veux être
heureux, ne cueille pas la rose
Qui te frôle au
passage et qui s’offre à ta main;
La fleur est déjà
morte à peine est-elle éclose.
Même lorsque sa chair
révèle un sang divin.
N’arrête pas l’oiseau
qui traverse l’espace;
Ne dirige vers lui ni
flèche, ni filet
Et contente tes yeux
de son ombre qui passe
Sans les lever au
ciel où son aile volait;
N’écoute pas la voix
qui te dit: “Viens”. N’écoute
Ni le cri du torrent,
ni l’appel du ruisseau;
Préfère au diamant le
caillou de la route;
Hésite au carrefour
et consulte l’écho.
Prends garde… Ne vêts
pas ces couleurs éclatantes
Dont l’aspect fait
grincer les dents de l’envieux;
Le marbre du palais,
moins que le lin des tentes
Rend les réveils
légers et les sommeils heureux.
Aussi bien que les
pleurs, le rire fait les rides.
Ne dis jamais:
Encore, et dis plutôt: Assez…
Le Bonheur est un
Dieu qui marche les mains vides
Et regarde la Vie
avec des yeux baissés!
A Quiromante
(Caravaggio: pintor
italiano)
A Ventura
Se queres ser feliz
não colhas nunca a rosa
Que, rubra, no
jardim, se te oferece à mão.
Pois morreu, ao
abrir-se, a flor maravilhosa,
E as pétalas de
sangue em breve tombarão...
Ao pássaro ligeiro,
emplumado, que passa,
Não queiras com teu
arco e uma flecha abater,
Deve bastar-te ver a
sombra que ele traça
No chão, sem pra o
céu o olhar impuro erguer.
Não ouças nunca a voz
que te disser: “Vem”, nada
Escutes, – seja o
arroio ou música de ninhos.
Prefere ao diamante
os calhaus de uma estrada
E à trilha mais suave
os ásperos caminhos.
Convém que no vestir
a discrição aprendas,
Pois evita o rilhar
de dentes invejosos.
Ao palácio prefere as
encardidas tendas;
Despertarás feliz de
sonhos venturosos...
Tal como o pranto o
riso ajuda a fazer rugas...
Nunca peças demais...
Limita as fantasias.
Pois a Ventura é um
Deus que anda em constantes fugas,
De olhos postos no
chão e mãos sempre vazias...
Referências:
Em Francês
RÉGNIER, Henri F. J. de. Le bonheur. In: ROŞIORU, Ion. Étonnements: sub semnul mirării. Anthologie de poésie francophone pour les élèves de tous les âges / Antologie de poezie francofonă pentru elevii de toate vârstele. Constanţa, RO: Ex Ponto, 2007. p. 6 et 8. Disponível neste endereço. Acesso em: 10 dez. 2025.
Em Português
RÉGNIER, Henri F. J. de. A ventura. Tradução de Raimundo Magalhães Júnior. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 201-202.
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