Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Haroldo de Campos - Mesquita

Não exatamente saturada de pessoas, como costumeiramente vemos em imagens que nos são transmitidas dos grandes centros religiosos do islamismo, mas, no caso, de pássaros que adentram o ambiente, a prototípica mesquita do poeta compõe-se do que mais frequente e marcante poderíamos encontrar em sua estrutura: cúpula, arabescos e vitrais coloridos.

É sob tal combinação arquitetural-decorativa que Haroldo enfatiza a presença sonora das palavras escritas no corão – veja-se bem, a dualidade imbricada “texto escrito” versus “texto falado” –, no impacto visual que resplandece em “fiorituras” – aqui, sim, um vocábulo selecionado com precisão, por significar floreios ou ornamentos, quer no plano das melodias – enquanto noção primeira –, quer no do texto, quer ainda no das superfícies policromáticas onde grafadas estão as suras do livro sagrado.

J.A.R. – H.C.

Haroldo de Campos
(1929-2003)

Mesquita

pássaros entram
em voo esfuziante
na penumbra da mesquita

a memória da
cúpula dourada
migrou para
arabescos e
vitrais:
onde a voz escrita do corão
resplandece em fiorituras

no chão alfombrado
um céu reverso –
vermelho escuro
vermelho mais claro
vermelho e ouro –
de tapetes que
rezam:

por vozes multifluentes
algaravia de arabescos

Em: “Crisantempo” (1998)

Mesquita Azul: Turquia
(Anna Duyunova: pintora cazaque-canadense)

Referência:

CAMPOS, Haroldo de. Mesquita. In: ASCHER, Nelson et al. Poetas na biblioteca: antologia. São Paulo, SP: Fundação Memorial da América Latina, 2001. p. 48.

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