Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 29 de abril de 2018

Christophe Plantin - A felicidade deste mundo ‎

Lá pelos fins do século XVI, o francês Plantin já discorria sobre o que seria a felicidade neste mundo, diga-se bem, a ventura neste plano terreno, em contraposição à felicidade num plano metafísico ou sobrenatural – vindo a calhar, por conseguinte, a dilação que o leitor seja capaz de promover nas palavras de que ora me aproprio laconicamente.

Trata-se de um tipo de felicidade mundana voltada, precipuamente, ao plano privado de existência, assim como naquele fado lusitano, no qual o falante dirige-se à amada para dizer-lhe que o mundo de ambos começa do lado de dentro da porta da casa – “Só nós dois”, de Joaquim Pimentel (1910-1978) –, por sinal, um fadista português (seria pleonasmo dizê-lo?) que viveu durante bastante tempo no Rio de Janeiro, onde veio a falecer.

J.A.R. – H.C.

Christophe Plantin
(1520-1589)
(Retrato de Peter Paul Rubens)

Le bonheur de ce monde

Avoir une maison commode, propre et belle,
Un jardin tapissé d’espaliers odorans,
Des fruits, d’excellent vin, peu de train, peu d’enfans,
Posseder seul sans bruit une femme fidèle,

N’avoir dettes, amour, ni procès, ni querelle,
Ni de partage à faire avecque ses parens,
Se contenter de peu, n’espérer rien des grands,
Régler tous ses desseins sur un juste modèle,

Vivre avecque franchise et sans ambition,
S’adonner sans scrupule à la dévotion,
Dompter ses passions, les rendre obéissantes,

Conserver l’esprit libre et le jugement fort,
Dire son chapelet en cultivant ses entes,
C’est attendre chez soi bien doucement la mort.

Uma Família Feliz
(Julius Weyde: pintor alemão)

A felicidade deste mundo

Ter uma casa boa, limpa e bem curada,
Um variado jardim de canteiros cheirosos,
Frutos, bom vinho, filhos pouco numerosos,
Possuir só, sem alarde, uma esposa afeiçoada;

Não ter contas, amor, questões, demandas, nada
De partilha a fazer com parentes cuidosos,
Com pouco se fartar, descrer dos poderosos,
Seus desejos regrar por pauta moderada;

Viver tendo franqueza e não tendo ambição,
Entregar-se sem pejo à sua devoção,
Domar suas paixões, contê-las com acerto,

Conservar a alma livre e o julgamento forte,
Rezar o seu rosário enquanto medra o enxerto,
É esperar docemente em sua casa a morte.

Referência:

PLANTIN, Christophe. Le bonheur de ce monde / A felicidade deste mundo. Tradução de Guilherme de Almeida. In: ALMEIDA, Guilherme de (Seleção e tradução). Poetas de França. Prefácio de Marcelo Tápia. 5. ed. São Paulo, SP: Babel, 2011. Em francês: p. 34; em português: p. 35.

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