O poeta uruguaio instila todo o seu sarcasmo em relação aos pretensos “modos
de pacificação” de seu povo, nunca mediante o diálogo e o consentimento, senão
pela explosiva força das armas, essa forma “eloquente” e “peremptória” de se
proceder na política, de que as elites autoritárias lançam mão para, uma vez
sim e outra vem também! (rs), assaltar o poder e violentar a democracia nos
países da América Latina!
E ocorre – é necessário que se diga – que tais assaltantes do poder no
mais das vezes estão mancomunados com elites alienígenas com projetos
imperialistas, de sorte que, de modo algum, está afastada a hipótese de que tais
títeres sejam agraciados com polpudos créditos (corrupção? nem pensar!) em bancos
que se localizam em paraísos fiscais – a mais autêntica lavanderia de dinheiro de
que se tem notícia! –, tudo sancionando pelo manto da legalidade.
Será que estaria eu, nesse caso, fazendo referência a certo país, que
jamais será o “país do futuro” – que me desculpe o ensaísta Stefan Zweig! –,
cujos políticos e magistrados são os mais canalhas do planeta?! Como diria Lévi-Strauss,
“tristes trópicos”, e complemento: “triste Brasil”...
J.A.R. – H.C.
Mario Benedetti
(1920-2009)
Oda a la pacificación
No sé hasta dónde
irán los pacificadores con su ruído
metálico de paz
pero hay ciertos
corredores de seguros que ya colocan
pólizas contra la
pacificación
y hay quienes
reclaman la pena del garrote para los que
no quieren ser
pacificados
cuando los
pacificadores apuntan por supuesto tiran a
pacificar
y a veces hasta pacifican
dos pájaros de un tiro
es claro que siempre
hay algún necio que se niega a ser
pacificado por la
espalda
o algún estúpido que
resiste la pacificación a fuego lento
en realidad somos un
país tan peculiar
que quien pacifique a
los pacificadores un buen
pacificador será.
En: “Letras de emergencia” (1969-1973)
Leônidas em Termópilas
(Jacques-Louis David:
pintor francês)
Ode à pacificação
Não sei até onde irão
os pacificadores com seu ruído
metálico de paz
mas há certos
corretores de seguros que já oferecem
apólices contra a
pacificação
e há aqueles que reclamam
a pena do garrote para os que
não querem ser
pacificados
quando os
pacificadores apontam decerto atiram para
pacificar
e às vezes até
pacificam dois pássaros com um tiro
é claro que sempre há
algum néscio que se nega a ser
pacificado pelas
costas
ou algum estúpido que
resiste à pacificação a fogo brando
na realidade somos um
país tão peculiar
que quem quer que pacifique os pacificadores um bom
pacificador será.
Em: “Cartas de emergência” (1969-1973)
Referência:
BENEDETTI, Mario. Oda a la
pacificación. In: __________. Antología
poética. Introducción de Pedro Orgambide. Selección del autor. 4. ed.; 8.
reimp. Madrid, ES: Alianza Editorial, 2017. p. 140. (‘El libro de bolsillo’; v.
2)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário