Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Mario Benedetti - Ode à pacificação

O poeta uruguaio instila todo o seu sarcasmo em relação aos pretensos “modos de pacificação” de seu povo, nunca mediante o diálogo e o consentimento, senão pela explosiva força das armas, essa forma “eloquente” e “peremptória” de se proceder na política, de que as elites autoritárias lançam mão para, uma vez sim e outra vem também! (rs), assaltar o poder e violentar a democracia nos países da América Latina!

E ocorre – é necessário que se diga – que tais assaltantes do poder no mais das vezes estão mancomunados com elites alienígenas com projetos imperialistas, de sorte que, de modo algum, está afastada a hipótese de que tais títeres sejam agraciados com polpudos créditos (corrupção? nem pensar!) em bancos que se localizam em paraísos fiscais – a mais autêntica lavanderia de dinheiro de que se tem notícia! –, tudo sancionando pelo manto da legalidade.

Será que estaria eu, nesse caso, fazendo referência a certo país, que jamais será o “país do futuro” – que me desculpe o ensaísta Stefan Zweig! –, cujos políticos e magistrados são os mais canalhas do planeta?! Como diria Lévi-Strauss, “tristes trópicos”, e complemento: “triste Brasil”...

J.A.R. – H.C.

Mario Benedetti
(1920-2009)

Oda a la pacificación

No sé hasta dónde irán los pacificadores con su ruído
metálico de paz
pero hay ciertos corredores de seguros que ya colocan
pólizas contra la pacificación
y hay quienes reclaman la pena del garrote para los que
no quieren ser pacificados
cuando los pacificadores apuntan por supuesto tiran a
pacificar
y a veces hasta pacifican dos pájaros de un tiro
es claro que siempre hay algún necio que se niega a ser
pacificado por la espalda
o algún estúpido que resiste la pacificación a fuego lento
en realidad somos un país tan peculiar
que quien pacifique a los pacificadores un buen
pacificador será.

En: “Letras de emergencia” (1969-1973)

Leônidas em Termópilas
(Jacques-Louis David: pintor francês)

Ode à pacificação

Não sei até onde irão os pacificadores com seu ruído
metálico de paz
mas há certos corretores de seguros que já oferecem
apólices contra a pacificação
e há aqueles que reclamam a pena do garrote para os que
não querem ser pacificados
quando os pacificadores apontam decerto atiram para
pacificar
e às vezes até pacificam dois pássaros com um tiro
é claro que sempre há algum néscio que se nega a ser
pacificado pelas costas
ou algum estúpido que resiste à pacificação a fogo brando
na realidade somos um país tão peculiar
que quem quer que pacifique os pacificadores um bom
pacificador será.

Em: “Cartas de emergência” (1969-1973)

Referência:

BENEDETTI, Mario. Oda a la pacificación. In: __________. Antología poética. Introducción de Pedro Orgambide. Selección del autor. 4. ed.; 8. reimp. Madrid, ES: Alianza Editorial, 2017. p. 140. (‘El libro de bolsillo’; v. 2)

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