Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 8 de abril de 2018

Eduardo Carranza - Poesia‎

Carranza, poeta colombiano, presta homenagem por meio deste poema a um outro poeta, seu compatriota, Antonio Llanos (1905-1978), cuja poesia se mostra vazada por sentimentos de solidão e desencanto, como se percebesse, de plano, que as sementes de seus poemas haveriam de cair em terrenos inférteis ou desérticos.

As imagens que se extraem do poema permitem visualizar os dois amigos, a braços dados, pela noite escura, atingidos pela cegueira – a exemplo de Édipo em direção às Eumênides –, imaginando seus versos a fluir pelos ares como radiantes pombas, num cenário no qual ninguém apura os olhos e os ouvidos para percebê-los e dar-lhes significação ou relevância.

J.A.R. – H.C.

Eduardo Carranza
(1913-1985)

Poesía

Antonio, nuestro oficio es ir poniendo
las palabras, una tras otra,
como días y días, unos tras otros,
con su pausa nocturna de estrellas o silencio.
Trabajo que de pronto, tú lo sabes,
vuela de nuestras manos convertido
en radiante paloma o gerifalte.
La luz anda descalza en lo que hablamos,
pero también la noche y la tristeza.
Nuestra palabra, tú también los sabes,
suena a veces como un reloj
en una casa abandonada, oscura,
dando las horas para nadie.
Como la campanilla del teléfono
en la estancia vacía.
O como una campana en un desierto
tañendo para nadie.
Nuestro trabajo, Antonio, es ir cayendo
todos los días hacia el corazón.
Cierro tu libro y pienso: estamos solos
en el umbral de qué, de qué, Díos mío?
Y la noche nos lleva como un ciego
a otro ciego, del brazo, dulcemente.

En: “Los días que ahora son sueños” (1943-1946)

O Mensageiro com
o Conhecimento e o Tempo
(Kevin Sloan: artista norte-americano)

Poesia

Antonio, nosso trabalho é ir colocando
as palavras, uma atrás da outra,
como dias e dias, uns atrás dos outros,
com sua pausa noturna de estrelas ou silêncio.
Trabalho que logo, tu o sabes,
voa de nossas mãos convertido
em radiante pomba ou gerifalte.
A luz anda descalça no que falamos,
mas também a noite e a tristeza.
Nossa palavra, tu também o sabes,
soa às vezes como um relógio
em uma casa abandonada, escura,
marcando as horas para ninguém.
Como a campainha do telefone
na morada vazia.
Ou como um sino em um deserto
tangendo para ninguém.
Nosso trabalho, Antonio, é ir caindo
todos os dias rumo ao coração.
Fecho teu livro e penso: estamos sós
no umbral de quê? de quê, Deus meu?
E a noite nos leva como um cego
a outro cego, de braço, docemente.

Em: “Os dias que agora são sonhos” (1943-1946)

Referência:

CARRANZA, Eduardo. Poesía / Poesia. Tradução de Mara de la Rocha. In: __________. Antologia poética. Seleção e tradução de Mara de la Rocha. Prefácio de Ramiro Carranza. Brasília, DF: Fundação Cultural Nossa América, 1987. Em espanhol: p. 72; em português: p. 73.

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