Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Adrian C. Louis - À Procura de Judas

O poeta associa o mito nativo norte-americano ao evento da crucificação de Cristo, ao afixar um cervo com galhadas de cinco pontas nas paredes do celeiro: em ambos os casos, como se depreende do poema, o “sangue sagrado” simboliza a conexão entre as realidades física e espiritual.

Mas percebamos que o poeta intitula o poema como se estivesse à procura de Judas: quem exatamente? Se o cervo assemelha-se a Cristo, e o ente lírico o abateu, não se poderia associá-lo à figura de Judas, pois este, segundo os Evangelhos não pôs fim, pelo menos diretamente, à vida de Jesus.

Mas Judas teria levado os romanos até Jesus, assim como os brancos levaram o nome de Jesus até os nativos norte-americanos. E neste último caso, a ambição e o desejo de poder dos conquistadores alienou os nativos da própria narrativa de salvação, tornando-se menos mensageiros que falseadores da palavra de Cristo.

J.A.R. – H.C.

Adrian C. Louis
(n. 1946)

Looking for Judas

Weathered gray, the wooden walls
of the old barn soak in the bright
sparkling blood of the five-point mule
deer I hang there in the moonlight.
Gutted, skinned, and shimmering in eternal
nakedness, the glint in its eyes could
be stolen from the dry hills of Jerusalem.
They say before the white man
brought us Jesus, we had honor.
They say when we killed the Deer People,
we told them their spirits
would live in our flesh.
We used bows of ash, no spotlights, no rifles,
and their holy blood became ours.
Or something like that.

Cabeça de Cervo

À Procura de Judas

De um cinza descorado, as paredes de madeira
do velho celeiro impregnam-se do vívido
e espumoso sangue do cervo com hastes
de cinco pontas que ali fiz pender ao luar.
Destripado, despelado e brilhando em eterna
nudez, o cintilar de seus olhos poderia ter sido
roubado às colinas secas de Jerusalém.
Dizem que antes que o homem branco
nos guiasse até Jesus, tínhamos honra.
Afirmam que quando abatemos os Homens Cervo,
lhes asseguramos que os seus espíritos
viveriam em nossa carne.
Usávamos arcos de freixo, sem faroletes, nem rifles,
e o seu sangue sagrado se fez nosso.
Ou algo parecido.

Referência:

LOUIS, Adrian C. Looking for Judas. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 427.

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