Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Renata Pallottini - Gato em Volutas

Façamos a descrição sumária dos fatos descritos no poema: o gato da poetisa dela se aproxima e lhe roça o corpo, partindo, então em outra direção – nada mais. Contudo, há na mente humana o pervagar de sentidos que vão muito além dos simples movimentos que se poderiam considerar naturais.

Seria mesmo de se esperar que o felino conhecesse da “essência morta” que habita as entranhas de Pallottini? Ou mesmo o denominado “tempo morto”? Como haveria de o bichano saber que o desejo da poetisa – convertido em amor não expresso – era o de tornar em sangue vivo a carne já esmaecida?!

Monólogos, monólogos. Deles nascem os poemas!

J.A.R. – H.C.

Renata Pallottini
(n. 1931)

Gato em Volutas

Chegou-se a mim, com pés forrados de silêncio.
Seu rastro sinuoso marcara-se com plumas.
Ei-lo que roça no ser humano
sua egoísta subserviência.
Recolhe as unhas, como quem guardasse
um íntimo segredo invulnerável.

Ó gato, quanto mais eu te amaria
se me houvessem rasgado tuas unhas
a frágil carne, a de afeição canina!

Afasta-se, seus olhos impossíveis
fitos em alguma outra parte.

Quedo, à distância ignora o tempo morto.
E em mim a essência morta.

Em: “O Monólogo Vivo” (1956) 

Espreguiçando II
(Diane Hoeptner: pintora norte-americana)

Referência:

PALLOTTINI, Renata. Gato em volutas. In: __________. Obra poética. São Paulo, SP: Hucitec, 1995. p. 75.
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