Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Wisława Szymborska - Nuvens ‎

A escritora polonesa opõe a fugacidade das formas das nuvens nos céus à aparente permanência das coisas que nos cercam aqui na terra: quando se procura captar as características daquelas, logo elas se desfazem, assumindo outras aparências de difícil repetição, ante as quais o que se passa na vida humana poderia denotar constância e imperturbabilidade singulares.

Na penúltima estrofe do poema, contudo, uma reviravolta: na permanência de seu transitar nas alturas, mesmo com figuração instável, as nuvens a tudo presenciam, desde a vida inteira do companheiro já falecido da poetisa, à vida ainda incompleta da própria Szymborska – claro está, no momento mesmo no qual concebeu o poema em comento, dado que, a esta altura, já se abraçou à causa do Eterno!

J.A.R. – H.C.

Wisława Szymborska
(1923-2012)

Chmury

Z opisywaniem chmur
musiałabym się bardzo śpieszyć –
już po ułamku chwili
przestają być te, zaczynają być inne.

Ich właściwością jest
nie powtarzać się nigdy
w kształtach, odcieniach, pozach i układzie.

Nie obciążone pamięcią o niczym,
unoszą się bez trudu nad faktami.

Jacy tam z nich świadkowie czegokolwiek –
natychmiast rozwiewają się na wszystkie strony.

W porównaniu z chmurami
życie wydaje się ugruntowane,
omal że trwałe i prawie że wieczne.

Przy chmurach
nawet kamień wygląda jak brat,
na którym można polegać,
a one cóż, dalekie i płoche kuzynki.

Niech sobie ludzie będą, jeśli chcą,
a potem po kolei każde z nich umiera,
im, chmurom nic do tego
wszystkiego
bardzo dziwnego.

Nad całym Twoim życiem
i moim, jeszcze nie całym,
paradują w przepychu jak paradowały.

Nie mają obowiązku razem z nami ginąć.
Nie muszą być widziane, żeby płynąć.

Od: “Chwila” (2002)

Logo estará ali
(Alberto Bertoldi: pintor italiano)

Nuvens

Para descrever as nuvens
eu necessitaria ser muito rápida –
numa fração de segundo
deixam de ser estas, tornam-se outras.

É próprio delas
não se repetir nunca
nas formas, matizes, poses e composição.

Sem o peso de nenhuma lembrança
flutuam sem esforço sobre os fatos.

Elas lá podem ser testemunhas de alguma coisa –
logo se dispersam para todos os lados.

Comparada com as nuvens
a vida parece muito sólida,
quase perene, praticamente eterna.

Perante as nuvens
até a pedra parece uma irmã
em quem se pode confiar,
já elas – são primas distantes e inconstantes.

Que as pessoas vivam, se quiserem,
e em sequência que cada uma morra,
as nuvens nada têm a ver
com toda essa coisa
muito estranha.

Sobre a tua vida inteira
e a minha, ainda incompleta,
elas passam pomposas como sempre passaram.

Não têm obrigação de conosco findar.
Não precisam ser vistas para navegar.

De: “Instante” (2002)

Referência:

SZYMBORSKA, Wisława. Chmury / Nuvens. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed., 7. reimp. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em polonês: p. 163-164 ; em português: p. 103-104.

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