A escritora polonesa opõe a fugacidade das formas das nuvens nos céus à
aparente permanência das coisas que nos cercam aqui na terra: quando se procura
captar as características daquelas, logo elas se desfazem, assumindo outras aparências
de difícil repetição, ante as quais o que se passa na vida humana poderia
denotar constância e imperturbabilidade singulares.
Na penúltima estrofe do poema, contudo, uma reviravolta: na permanência
de seu transitar nas alturas, mesmo com figuração instável, as nuvens a tudo
presenciam, desde a vida inteira do companheiro já falecido da poetisa, à vida
ainda incompleta da própria Szymborska – claro está, no momento mesmo no qual
concebeu o poema em comento, dado que, a esta altura, já se abraçou à causa do
Eterno!
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Chmury
Z opisywaniem chmur
musiałabym się bardzo śpieszyć –
już po ułamku chwili
przestają być te, zaczynają być inne.
Ich właściwością
jest
nie powtarzać się nigdy
w kształtach,
odcieniach, pozach i układzie.
Nie obciążone pamięcią o
niczym,
unoszą się bez trudu nad faktami.
Jacy tam z nich świadkowie czegokolwiek –
natychmiast rozwiewają się na wszystkie strony.
W porównaniu z
chmurami
życie wydaje się ugruntowane,
omal że trwałe i prawie że wieczne.
Przy chmurach
nawet kamień wygląda jak brat,
na którym można polegać,
a one cóż, dalekie i płoche kuzynki.
Niech sobie ludzie będą, jeśli
chcą,
a potem po kolei każde z nich umiera,
im, chmurom nic do
tego
wszystkiego
bardzo dziwnego.
Nad całym Twoim życiem
i moim, jeszcze nie
całym,
paradują w przepychu jak paradowały.
Nie mają obowiązku razem z nami ginąć.
Nie muszą być widziane, żeby płynąć.
Od: “Chwila” (2002)
Logo estará ali
(Alberto Bertoldi:
pintor italiano)
Nuvens
Para descrever as
nuvens
eu necessitaria ser
muito rápida –
numa fração de
segundo
deixam de ser estas,
tornam-se outras.
É próprio delas
não se repetir nunca
nas formas, matizes,
poses e composição.
Sem o peso de nenhuma
lembrança
flutuam sem esforço
sobre os fatos.
Elas lá podem ser
testemunhas de alguma coisa –
logo se dispersam
para todos os lados.
Comparada com as
nuvens
a vida parece muito
sólida,
quase perene,
praticamente eterna.
Perante as nuvens
até a pedra parece
uma irmã
em quem se pode
confiar,
já elas – são primas
distantes e inconstantes.
Que as pessoas vivam,
se quiserem,
e em sequência que
cada uma morra,
as nuvens nada têm a
ver
com toda essa coisa
muito estranha.
Sobre a tua vida
inteira
e a minha, ainda
incompleta,
elas passam pomposas
como sempre passaram.
Não têm obrigação de
conosco findar.
Não precisam ser
vistas para navegar.
De: “Instante” (2002)
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Chmury / Nuvens.
Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed.,
7. reimp. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em polonês: p. 163-164 ;
em português: p. 103-104.
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