Enquanto arte a deter significado ilimitado, o poeta acerca-se da poesia
de modo tentativo, buscando descobrir os segredos da existência, iluminando as
coisas que deram certo ou errado, até apreender o sentido último dos fatos,
sentimentos e emoções pelos quais passamos.
E o poema é assim como um ovo Fabergé – uma beleza pura –, quando o
poeta, com o seu talento requintado, logra decantar no texto a essência mesma
da realidade, esse fio condutor de onde resultam mensagens inspiradoras, pedagógicas,
compromissadas, enigmáticas, quando não autorreferentes.
J.A.R. – H.C.
José Maria de Souza Dantas
(n. 1936)
Poema
Para Afrânio Coutinho
É o resultado de um
grito maior,
de uma morte vivida,
de uma vida radical,
tomada violentamente.
É o resultado da
chama,
do olhar que se
consola,
do aperto definitivo,
do abraço cruel.
É o resultado de
cabeça, tronco, mãos
e pés
revoltando-se
vertiginosamente.
É o que fica de tudo
que se foi fazendo
que se foi formando
que veio descendo
do texto
para o chão.
Margens da Liberdade
(Oleg Tchoubakov:
pintor bielorusso)
Referência:
DANTAS, José Maria de
Souza. Poema. In: __________. Cenário.
Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1986. p. 62-63.
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