Partindo da premissa de que a poesia existe – quem haveria de duvidá-lo?
–, o poeta afirma que um dia haveremos de compreendê-la, quer estejamos imersos
em anos de escuridão quer em anos de luz, quer experimentando uma vida em
turbilhão que nos impede de senti-la quer nos dando conta de que ela, de fato,
atravessa a nossa lida.
Mas parece que Beltrán duvida de tudo, pois os seus versos terminam indefectivelmente
no advérbio “talvez”, duplicado e ressonante. E quem sabe ele não estará
correto ao empregá-lo, se ao fim e ao cabo se percebe suficiente incerteza e
contingência nos fatos que marcam a história de cada um de nós?!
J.A.R. – H.C.
Neftalí Beltrán
(1916-1996)
La Poesía Existe
La poesía existe.
Tal vez no sepamos
entenderla
tal vez la vida que
llevamos
no nos deje sentirla
tal vez la vivimos
sin darnos cuenta
o dándonos cuenta,
tal vez, tal vez.
La poesía existe
así como existe la
violência
lo mismo que existe
el amor.
Vivimos entre años-oscuridad
y años luz
y sin embargo la
poesía existe
y un dia tendremos
que comprenderla,
tal vez, tal vez.
Milán, 1977.
Ao ar livre
(Ramón Casas: pintor
espanhol)
A Poesia Existe
A poesia existe.
Talvez não saibamos
entendê-la
talvez a vida que
levamos
não nos deixe
senti-la
talvez a vivemos sem
dar-nos conta
ou dando-nos conta,
talvez, talvez.
A poesia existe
assim como existe a
violência
do mesmo modo que
existe o amor.
Vivemos entre
anos-escuridão e ano luz
e ainda assim a
poesia existe
e um dia teremos que
compreendê-la,
talvez, talvez.
Milão, 1977.
Referência:
BELTRÁN, Neftalí. La poesía existe. In:
__________. Poesía: 1936-1977.
México, DF: Fondo de Cultura Económica, marzo 1978. p. 189. (“Letras
Mexicanas”)
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