O
poeta indiano chama “insensatos” os cronistas que desenvolvem elucubrações
sobre uma hipotética relação entre o comportamento dos gatos e a lua – e aqui
lembrei-me também de alguns poetas, cujos poemas em tal sentido foram postados
neste bloguinho já há alguns anos: o irlandês W. B. Yeats, com “O Gato e a Lua”, e o
italiano Sergio Corazzini, idem.
O
poema de Nambisan deplora o fato de que os bichanos não são capazes de nos
falar, de tão íntimos que são da espécie humana, pelo seu comportamento noturno,
infenso à luz, e suas curvas, colas e silhuetas singularizadas pelos bigodes,
além do ronronar característico, por meio do qual podemos inferir encalços à
mancheia aos ratos que ousem cruzar-lhes o caminho. E isso é tudo que eles nos
permitem conhecer de suas vidas: o limite do dialeto felino à nossa disposição.
J.A.R.
– H.C.
Vijay Nambisan
(1963-2017)
Cats
Have No Language
Cats
have no language to tell their world.
The
moon is a midsummer’s madness
That
satisfies foolish chroniclers;
But
their paws gloat on the captured mouse
– The
slither beneath the stair – the silent bat
That
drifted on a moonbeam into the house
Slashed
a slitted eye into a flicker
And
was gone. The moon is too much for the cat.
The
light is too much for cats: that is why
At
the human snarl behind the torch
The
keen eyes turn slate, a careless slouch
Replaces
the studied artistry, frozen flash
Before
the kill. They do not like the light
But
have no language save the curving slash
And
the sideways sculpture at a whisker’s touch.
Cats
are dumb when they walk in the night.
Cats
are clever at night; but the sun
Melts
the moon’s glitter out of their eyes,
Leaves
them children’s toys and the green trees.
Now
how can fingers soothe the shoulder-knots,
Trust
the silken purr, the kind eyes? Cat,
I
know, I have seen her sleeping thoughts
Tense
and stalk savagely in the night’s peace.
But
cats need no language to do that.
Gatinhos e Flores
(Jules Le Roy: pintor francês)
Gatos
Não Têm Idioma
Os
gatos não têm idioma para falar de seu mundo.
A lua
é a loucura de um solstício de verão
Que
satisfaz aos cronistas insensatos;
Porém
suas patas se deliciam sobre o rato capturado
– O
resvalo por baixo da escada – silencioso morcego
Que,
ao irromper por um raio da lua dentro da casa,
Pungiu
um olho fendido num pestanejar
E
desapareceu. A lua é demais para o gato.
A luz
é demais para os gatos: é por isso que,
Ao
grunhido humano atrás da tocha,
Os
olhos aguçados tornam-se ardósia, uma postura lassa
Substitui
uma estudada mestria, um gélido clarão
Antes
da morte. Eles não gostam de luz;
Ainda
assim não têm idioma, exceto o traço em curva
E a
imagem em perfil diferenciada pelo bigode.
Os
gatos são mudos quando perambulam pela noite.
Espertos
são os gatos à noite, no entanto o sol
Dissolve
o brilho da lua de seus olhos,
Legando-lhes
os jogos das crianças e as árvores verdes.
Agora
como podem os dedos abrandar os nós dos ombros,
Confiar
no ronronar suave, nos olhos gentis? Gato,
Compreendo-te,
tendo visto teus tensos pensamentos
Ao
sono e como vais à caça selvagem na paz noturna.
Mas
os gatos não precisam de idioma para fazer isso.
Referência:
NAMBISAN,
Vijay. Cats have no language. In: THAYIL, Jeet (Ed.). 60 indian poets.
New Delhi, IN: Penguin Books India, 2008. p. 83.
ö
Nenhum comentário:
Postar um comentário