Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Vijay Nambisan - Os Gatos Não Têm Idioma

O poeta indiano chama “insensatos” os cronistas que desenvolvem elucubrações sobre uma hipotética relação entre o comportamento dos gatos e a lua – e aqui lembrei-me também de alguns poetas, cujos poemas em tal sentido foram postados neste bloguinho já há alguns anos: o irlandês W. B. Yeats, com “O Gato e a Lua”, e o italiano Sergio Corazzini, idem.

 

O poema de Nambisan deplora o fato de que os bichanos não são capazes de nos falar, de tão íntimos que são da espécie humana, pelo seu comportamento noturno, infenso à luz, e suas curvas, colas e silhuetas singularizadas pelos bigodes, além do ronronar característico, por meio do qual podemos inferir encalços à mancheia aos ratos que ousem cruzar-lhes o caminho. E isso é tudo que eles nos permitem conhecer de suas vidas: o limite do dialeto felino à nossa disposição.

 

J.A.R. – H.C.

 

Vijay Nambisan

(1963-2017)

 

Cats Have No Language

 

Cats have no language to tell their world.

The moon is a midsummer’s madness

That satisfies foolish chroniclers;

But their paws gloat on the captured mouse

– The slither beneath the stair – the silent bat

That drifted on a moonbeam into the house

Slashed a slitted eye into a flicker

And was gone. The moon is too much for the cat.

 

The light is too much for cats: that is why

At the human snarl behind the torch

The keen eyes turn slate, a careless slouch

Replaces the studied artistry, frozen flash

Before the kill. They do not like the light

But have no language save the curving slash

And the sideways sculpture at a whisker’s touch.

Cats are dumb when they walk in the night.

 

Cats are clever at night; but the sun

Melts the moon’s glitter out of their eyes,

Leaves them children’s toys and the green trees.

Now how can fingers soothe the shoulder-knots,

Trust the silken purr, the kind eyes? Cat,

I know, I have seen her sleeping thoughts

Tense and stalk savagely in the night’s peace.

But cats need no language to do that.

 

Gatinhos e Flores

(Jules Le Roy: pintor francês)

 

Gatos Não Têm Idioma

 

Os gatos não têm idioma para falar de seu mundo.

A lua é a loucura de um solstício de verão

Que satisfaz aos cronistas insensatos;

Porém suas patas se deliciam sobre o rato capturado

– O resvalo por baixo da escada – silencioso morcego

Que, ao irromper por um raio da lua dentro da casa,

Pungiu um olho fendido num pestanejar

E desapareceu. A lua é demais para o gato.

 

A luz é demais para os gatos: é por isso que,

Ao grunhido humano atrás da tocha,

Os olhos aguçados tornam-se ardósia, uma postura lassa

Substitui uma estudada mestria, um gélido clarão

Antes da morte. Eles não gostam de luz;

Ainda assim não têm idioma, exceto o traço em curva

E a imagem em perfil diferenciada pelo bigode.

Os gatos são mudos quando perambulam pela noite.

 

Espertos são os gatos à noite, no entanto o sol

Dissolve o brilho da lua de seus olhos,

Legando-lhes os jogos das crianças e as árvores verdes.

Agora como podem os dedos abrandar os nós dos ombros,

Confiar no ronronar suave, nos olhos gentis? Gato,

Compreendo-te, tendo visto teus tensos pensamentos

Ao sono e como vais à caça selvagem na paz noturna.

Mas os gatos não precisam de idioma para fazer isso.

 

Referência:

 

NAMBISAN, Vijay. Cats have no language. In: THAYIL, Jeet (Ed.). 60 indian poets. New Delhi, IN: Penguin Books India, 2008. p. 83.

ö

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