Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Carlos Ávila - Narcissus Poeticus ‎

Numa terra desolada – alusão, certamente, ao famoso poema de T. S. Eliot – não haveria como o narciso do poeta manter-se vivo, exposto que ficou à poluição, em apartamento no qual mal chegava a luz do sol, abandonado à própria sorte, sem provisão de água.

Morreu assim, sem poder exalar o perfume e manifestar a sua beleza, já de há muito conhecida – Virgílio, por exemplo, exalta-a na quinta écloga –, não fosse o poema, sob outra perspectiva, aparente metáfora da faina poética do próprio vate, que em sua alma experimenta a “fuligem” decantada, em virtude de não haver logrado resgatar o poema-narciso de seu prematuro e não intencional fenecimento.

J.A.R. – H.C.

Carlos Ávila
(n. 1955)

Narcissus Poeticus

secou

(no vaso
sem água)

mal plantado
numa waste land
(minúscula)
de apartamento sombrio:
como resistir
a pó poeira poluição?

maltratado ex-narciso
à própria sorte abandonado
(rente ao piso)
sem fonte
nem espelho

secou
(só no vaso)
sem suor nem saliva
sem lágrima
que o pudesse salvar

morreu

(fuligem
na alma)

Belos Narcisos em Vaso de Peltre
(Elizabeth Floyd: pintora norte-americana)

Referência:

ÁVILA, Carlos. Narcissus poeticus. In: DANIEL, Claudio; BARBOSA, Frederico (Organização, Seleção e Notas). Na virada do século: poesia de invenção no Brasil. São Paulo, SP: Landy, 2007. p. 94.

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