Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Armindo Trevisan - Carta a Freud ‎

O poeta gaúcho endereça uma carta descritiva a Freud, procurando enunciar os elementos mais característicos da personalidade e do agir profissional do psicanalista judeo-austríaco, exatamente ele que se propôs a trazer a lume tudo o que de mais recôndito é capaz de se incrustar no espírito humano.

Como diz o poeta, Freud soube vasculhar como ninguém as desgraças dos outros, ou melhor, de seus pacientes, procurando decifrá-las em suas origens, muito embora, em relação aos próprios infortúnios, segundo Trevisan, procurava ocultá-los em disfarces dignos das “ardilezas de uma odalisca”.

J.A.R. – H.C.

Armindo Trevisan
(n. 1933)

Carta a Freud

As tuas pupilas não retiraram jamais
carvões ardentes da forja, nem teus dedos
tocaram músicas para ouvidos
treinados no redil das nuvens. Foste
o mais direto dos sábios. Apanhaste
o cuspe que expelem as bocas, e nele
palavras luminosas e insensatas.
Com redes invisíveis, pescaste polvos
e animais das profundezas. Por vezes
te atraiu o gorjeio das aves. Sempre
te comoveu a desgraça dos homens.
Com eles, a tua própria desgraça,
que disfarçavas com ardilezas de odalisca.
Mas... tu, quem eras? Um golpe de ar
que mordeu o pó, e provou o sabor
do caos quando sobre ele pairava o Espírito.

Em: “A Serpente na Grama” (2001)

Dr. Sigmund Freud Psicanalista
(Marcelo Neira: artista argentino)

Referência:

TREVISAN, Armindo. Carta a Freud. In: __________. Nova antologia poética: 1967-2001. Porto Alegre, RS: Sulina, 2001. p. 189.

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