Embora as palavras tenham os seus limites e apenas alcancem
meros conceitos ou aproximações do que seja a realidade – ou melhor, a natureza
em suas múltiplas manifestações –, por meio delas é que os poetas e escritores
atingem, mediante suas obras, o reconhecimento público e os louros da arte
literária.
São eles capazes de atribuir sentido a um mundo que, não raro, se mostra
incompreensível ou desconexo: com simplicidade e clareza, afiança-nos Hesse, as
metáforas de que lançam mão reorientam as linhas de força dentro de um campo ou
domínio onde tudo passa a se mostrar mais congruente e sublime.
J.A.R. – H.C.
Hermann Hesse
(1877-1962)
Sprache
Die Sonne spricht zu
uns mit Licht,
Mit Duft und Farbe
spricht die Blume,
Mit Wolken, Schnee
und Regen spricht
Die Luft. Es lebt im
Heiligtume
Der Welt ein
unstillbarer Drang,
Der Dinge Stummheit
zu durchbrechen,
In Wort, Gebärde,
Farbe, Klang
Des Seins Geheimnis
auszusprechen.
Hier strömt der
Künste lichter Quell,
Es ringt nach Wort,
nach Offenbarung,
Nach Geist die Welt
und kündet hell
Aus Menschenlippen
ewige Erfahrung.
Nach Sprache sehnt
sich alles Leben,
In Wort und Zahl, in
Farbe, Linie, Ton
Beschwört sich unser
dumpfes Streben
Und baut des Sinnes
immer höhern Thron.
In einer Blume Rot
und Blau,
In eines Dichters
Worte wendet
Nach innen sich der
Schöpfung Bau,
Der stets beginnt und
niemals endet.
Und wo sich Wort und
Ton gesellt,
Wo Lied erklingt,
Kunst sich entfaltet,
Wird jedesmal der
Sinn der Welt,
Des ganzen Daseins
neu gestaltet,
Und jedes Lied und
jedes Buch
Und jedes Bild ist
ein Enthüllen,
Ein neuer,
tausendster Versuch,
Des Lebens Einheit zu
erfüllen.
In diese Einheit
einzugehn
Lockt euch die
Dichtung, die Musik,
Der Schöpfung
Vielfalt zu verstehn
Genügt ein einziger
Spiegelblick.
Was uns Verworrenes
begegnet,
Wird klar und einfach
im Gedicht:
Die Blume lacht, die
Wolke regnet,
Die Welt hat Sinn,
das Stumme spricht.
Unidade com a Natureza
(Leonid Afremov:
pintor israelense)
Linguagem
O sol nos fala com
luz; com cor
e com perfume nos
fala a flor;
com nuvens, chuva e
neve nos fala
o ar. Há no sacrário
do mundo
um incontido afã de
romper
com a mudez das
coisas e expor
em gesto e som, em
palavra e cor,
todo o mistério que
envolve o ser.
A clara fonte das
artes flui
para a palavra, a
revelação;
para o mental flui o
mundo, e aclara
em lábio humano um
saber eterno.
Pela linguagem a vida
anseia:
em verbo, cifra, cor,
linha, som,
conjura-se a nossa
aspiração
e um alto trono aos
sentidos ergue.
Como na flor o
vermelho e o azul,
na palavra do poeta
volta-se
para dentro a obra de
criação,
sempre a iniciar-se e
a acabar jamais.
Onde palavra e som se
combinam,
e soa o canto, a arte
se revela,
e cada cântico e cada
livro,
cada imagem, é uma
descoberta
– uma milésima
tentativa
de cumprimento da
vida una.
A penetrar nessa vida
una
vos chama a música, a
poesia:
para entender a
criação vária,
já é bastante um
olhar no espelho.
O que confuso antes
parecia,
é claro e simples na
poesia:
a nuvem chove, a flor
ri, o mudo
fala – o mundo faz
sentido em tudo.
Referências:
Em Alemão
HESSE, Herman. Sprache. In: __________. Die gedichte. 2. Auflage. Zürich, CH:
Fretz & Wasmuth Verlag Ag. Zürich, 1942. s. 359-360
Em Português
HESSE, Hermann. Linguagem. Tradução de Geir
Campos. In: __________. Andares:
antologia poética. Tradução e prólogo de Geir Campos. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Fronteira, jan. 1976. p. 161.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário