Cheia de malícia, num tom bem provocante, a poetisa não vê antinomias
entre o sexo – “uma das maravilhas da criação” – e a santidade, que, a seu ver,
é o destino do homem, pois o amor, mesmo em sua manifestação carnal, não deixa
de ser uma exteriorização do divino.
Deduz-se, então, que não devemos ter, necessariamente, uma vida ascética
para alcançar a santidade, porque o sexo, em si, não é uma maldição. E esse é o
lado desconcertante que Adélia impõe ao “homem do mundo”, fazendo-lhe ver o
lado profano do seu raciocínio. Vão-se aí centúrias do pensamento cristalizado
pela Igreja, a associar o sexo ao pecado...
J.A.R. – H.C.
Adélia Prado
(n. 1935)
Entrevista
Um homem do mundo me
perguntou:
o que você pensa de
sexo?
Uma das maravilhas da
criação, eu respondi.
Ele ficou
atrapalhado, porque confunde as coisas
e esperava que eu
dissesse maldição,
só porque antes lhe
confiara: o destino do homem
é a santidade.
A mulher que me
perguntou cheia de ódio:
você raspa lá?
perguntou sorrindo,
achando que assim
melhor me assassinava.
Magníficos são o
cálice e a vara que ele contém,
peludo ou não.
Santo, santo, santo é
o amor, porque vem de Deus
não porque uso luva
ou navalha.
Que pode contra ele o
excremento?
Mesmo a rosa, que
pode a seu favor?
Se “cobre a multidão
dos pecados e é benigno,
como a morte duro,
como o inferno tenaz”,
descansa em teu amor,
que bem estás.
Em: “O coração disparado” (1978)
O Desejado Momento
(Jean-Honoré
Fragonard: pintor francês)
Referência:
Prado, Adélia. Entrevista. In:
__________. Poesia reunida. 3. ed. São
Paulo, SP: Siciliano, 1991. p. 212.
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