O excerto abaixo
transcrito é uma das passagens mais citadas da Meditação nº 17, do inglês John
Donne: o escritor norte-americano Ernest Hemingway teria se inspirado em seu trecho
final para atribuir o título “Por quem os sinos dobram” (“For Whom the Bell
Tolls”, 1940) a uma de suas mais célebres obras.
A ideia de que
“nenhum homem é uma ilha” comparece em muitas criações literárias, filosóficas
e até musicais, a exemplo dos versos da bela canção “Filho”, de autoria da
dupla Milton Nascimento e Fernando Brant, literalmente: “Toda vida existe pra
iluminar o caminho de outras vidas que a gente encontrar. Homem algum será
deserto ou ilha, como não pode o rio negar o mar.”
O pensamento de Donne,
parece-me, enceta inflexão para um ponto distinto do defendido por certos
teóricos da Economia, segundo os quais o indivíduo, com seus objetivos e
prioridades, é capaz de tornar-se completo em si mesmo. Mas bem sabemos que o
ser humano, ao longo da vida, toma parte em diferentes grupos ou associações, dos
mais variados interesses e objetivos, e estes, de um modo ou de outro, acabam
por dar-lhe certo sentido de pertencimento e de reciprocidade: é a essa força
relacional saudável, integradora e solidária, s.m.j, que se reporta o autor
inglês.
J.A.R. – H.C.
John Donne
(1572-1631)
Retrato de Isaac Oliver
Meditation nº 17
(Excerpt)
No man is an island
entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If
a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a
promontory were, as well as if a manor of thy friends or of thine own were; any
man’s death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore
never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.
O lamento de Jeremias
pela destruição de
Jerusalém
(Rembrandt H. van
Rijn: pintor holandês)
Meditação nº 17
(Excerto)
Nenhum homem é uma
ilha, inteiramente isolado; todo homem é um pedaço de um continente, uma parte
de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa
fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus
amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte
do gênero humano. E por isso não perguntai: Por quem os sinos dobram; eles
dobram por vós.
Referência:
DONNE, John. Meditation n. 17 (Excerpt) / Meditação n. 17 (Excerto). Tradução
de Fabio Cyrino. In: __________. Meditações. Edição bilíngue. Tradução
de Fabio Cyrino. São Paulo, SP: Landmark, 2007. Em inglês: p. 102 e 104; em
português: p. 103 e 105.
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