Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 1 de outubro de 2022

John Donne - Meditação nº 17 (Excerto)

O excerto abaixo transcrito é uma das passagens mais citadas da Meditação nº 17, do inglês John Donne: o escritor norte-americano Ernest Hemingway teria se inspirado em seu trecho final para atribuir o título “Por quem os sinos dobram” (“For Whom the Bell Tolls”, 1940) a uma de suas mais célebres obras.

 

A ideia de que “nenhum homem é uma ilha” comparece em muitas criações literárias, filosóficas e até musicais, a exemplo dos versos da bela canção “Filho”, de autoria da dupla Milton Nascimento e Fernando Brant, literalmente: “Toda vida existe pra iluminar o caminho de outras vidas que a gente encontrar. Homem algum será deserto ou ilha, como não pode o rio negar o mar.”

 

O pensamento de Donne, parece-me, enceta inflexão para um ponto distinto do defendido por certos teóricos da Economia, segundo os quais o indivíduo, com seus objetivos e prioridades, é capaz de tornar-se completo em si mesmo. Mas bem sabemos que o ser humano, ao longo da vida, toma parte em diferentes grupos ou associações, dos mais variados interesses e objetivos, e estes, de um modo ou de outro, acabam por dar-lhe certo sentido de pertencimento e de reciprocidade: é a essa força relacional saudável, integradora e solidária, s.m.j, que se reporta o autor inglês.

 

J.A.R. – H.C.

 

John Donne

(1572-1631)

Retrato de Isaac Oliver

 

Meditation nº 17

(Excerpt)

 

No man is an island entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friends or of thine own were; any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.

 

O lamento de Jeremias

pela destruição de Jerusalém

(Rembrandt H. van Rijn: pintor holandês)

 

Meditação nº 17

(Excerto)

 

Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado; todo homem é um pedaço de um continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntai: Por quem os sinos dobram; eles dobram por vós.

 

Referência:

 

DONNE, John. Meditation n. 17 (Excerpt) / Meditação n. 17 (Excerto). Tradução de Fabio Cyrino. In: __________. Meditações. Edição bilíngue. Tradução de Fabio Cyrino. São Paulo, SP: Landmark, 2007. Em inglês: p. 102 e 104; em português: p. 103 e 105.

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