Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 16 de outubro de 2022

José Pessoa Rego de Abreu - Canção V

O poeta maranhense (1955-2012) entrega-se ao enleio de uma temporada que já migra do verão ao outono, contemplando a paisagem a partir de uma mirada ao modo como a poetisa Elisabeth Bishop (1911-1979) costumava empregar em muitos de seus poemas, vendo o mundo a passar pela “tela” de sua janela.

 

Os versos estão pejados de referências a fatos da natureza, avançando mais além ao tempo de invernia, quando já a solidão “de neve” povoa a mente do falante. Entrementes, menções explícitas a outros poetas, como Neruda (1904-1973) e Pedro Nava (1903-1984), e porventura, alusão à “Terra Devastada”, de T. S. Eliot (1888-1965).

 

J.A.R. – H.C.

 

O Fim do Verão

(Frank Dekkers: pintor holandês)

 

Canção V

 

Hoje acordei bishopiano:

Meu continente se avista daqui desta janela.

La fora o céu, limpo e azul, diz-me tudo:

Das árvores verdes e de cigarras que

Parecem despedir-se para sempre do verão.

 

Do outro lado do oceano o Outono

Está amarelo como uma canção de Neruda,

E uma pura solidão de neve me povoa e Nava

Sabe tudo: aos que compreendem o amor

E sua dimensão entendem que eu,

O continente devastado, tenho dentro de mim

As outras partes que não possuías.

 

Ancoradouro no Outono

(Natalie Demina: pintora russa)

 

Referência:

 

ABREU, José Pessoa Rego de. Canção V. In: __________. Senhor é o tempo. Brasília, DF: Inconfidência, 2003. p. 28.

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