O poeta maranhense (1955-2012)
entrega-se ao enleio de uma temporada que já migra do verão ao outono, contemplando
a paisagem a partir de uma mirada ao modo como a poetisa Elisabeth Bishop
(1911-1979) costumava empregar em muitos de seus poemas, vendo o mundo a passar
pela “tela” de sua janela.
Os versos estão
pejados de referências a fatos da natureza, avançando mais além ao tempo de
invernia, quando já a solidão “de neve” povoa a mente do falante. Entrementes, menções
explícitas a outros poetas, como Neruda (1904-1973) e Pedro Nava (1903-1984), e
porventura, alusão à “Terra Devastada”, de T. S. Eliot (1888-1965).
J.A.R. – H.C.
O Fim do Verão
(Frank Dekkers:
pintor holandês)
Canção V
Hoje acordei bishopiano:
Meu continente se
avista daqui desta janela.
La fora o céu, limpo
e azul, diz-me tudo:
Das árvores verdes e
de cigarras que
Parecem despedir-se para
sempre do verão.
Do outro lado do
oceano o Outono
Está amarelo como uma
canção de Neruda,
E uma pura solidão de
neve me povoa e Nava
Sabe tudo: aos que
compreendem o amor
E sua dimensão
entendem que eu,
O continente
devastado, tenho dentro de mim
As outras partes que
não possuías.
Ancoradouro no Outono
(Natalie Demina:
pintora russa)
Referência:
ABREU, José Pessoa
Rego de. Canção V. In: __________. Senhor é o tempo. Brasília, DF: Inconfidência,
2003. p. 28.
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