Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 30 de outubro de 2022

Gerard Manley Hopkins - Paz

Pleno de questionamentos sobre a verdadeira Paz – pomba a pairar nas cercanias, mas que tem o dom de iludir, já que evasiva –, este “soneto abreviado” de Hopkins, de longos versos alexandrinos, sintetiza o que lhe evoca a relação em apreço, quando lhe “faz casa”: vem “para trabalhar”, ou seja, “não para arrulhar, senão para pôr e chocar”.

 

A voz lírica opõe a Paz, como um centro ou oásis de calma ou de remanso, ao seu oposto, à Guerra, propagadora de ameaças e de mortes: uma Paz digna do nome jamais “reverencia” o seu oposto, ou por outra forma – comentando-se à luz do fato de Hopkins haver pertencido à ordem dos jesuítas –, um liame sagrado jamais pode se fundar em pressupostos profanos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Gerard Manley Hopkins

(1844-1889)

 

Peace

 

When will you ever, Peace, wild wooddove, shy wings shut,

Your round me roaming end, and under be my boughs?

When, when, Peace, will you, Peace? I’ll not play hypocrite

To own my heart: I yield you do come sometimes; but

That piecemeal peace is poor peace. What pure peace allows

Alarms of wars, the daunting wars, the death of it?

 

O surely, reaving Peace, my Lord should leave in lieu

Some good! And so he does leave Patience exquisite,

That plumes to Peace thereafter. And when Peace here does house

He comes with work to do, he does not come to coo,

He comes to brood and sit.

 

In: “Poems of 1876-1889”

 

Plantando a Paz

Chad Glass: artista norte-americano)

 

Paz

 

Paz, pomba rude, quando não mais perto estarás,

Mas já dentro em meus galhos, quietas, calmas as asas?

Quando, Paz, nunca? Não será a mentira suporte

Para o meu coração: sei, sim, que às vezes vens; mas

A paz parca é paz dura. Que paz pura nos traz as

Ameaças assassinas, guerras, sua própria morte?

 

Por certo, ó Paz furtada, meu Senhor em lugar

Deixa algum bem – Paciência perfeita cujo porte

Empluma à Paz após. Mas se a Paz em mim faz casa,

É para trabalhar, apenas pôr e chocar:

Não traz canto que conforte.

 

Referência:

 

HOPKINS, Gerard Manley. Peace / Paz. Tradução de Luís Gonçales Bueno de Camargo. In: PAES, José Paulo (Organização, Nota Liminar e Posfácio). Transverso: coletânea de poemas traduzidos. Edição multilíngue. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1988. Em inglês: p. 32; em português: p. 33.

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