Pleno de
questionamentos sobre a verdadeira Paz – pomba a pairar nas cercanias, mas que
tem o dom de iludir, já que evasiva –, este “soneto abreviado” de Hopkins, de longos
versos alexandrinos, sintetiza o que lhe evoca a relação em apreço, quando lhe “faz
casa”: vem “para trabalhar”, ou seja, “não para arrulhar, senão para pôr e chocar”.
A voz lírica opõe a Paz,
como um centro ou oásis de calma ou de remanso, ao seu oposto, à Guerra,
propagadora de ameaças e de mortes: uma Paz digna do nome jamais “reverencia” o
seu oposto, ou por outra forma – comentando-se à luz do fato de Hopkins haver pertencido
à ordem dos jesuítas –, um liame sagrado jamais pode se fundar em pressupostos
profanos.
J.A.R. – H.C.
Gerard Manley Hopkins
(1844-1889)
Peace
When will you ever,
Peace, wild wooddove, shy wings shut,
Your round me roaming
end, and under be my boughs?
When, when, Peace,
will you, Peace? I’ll not play hypocrite
To own my heart: I
yield you do come sometimes; but
That piecemeal peace
is poor peace. What pure peace allows
Alarms of wars, the
daunting wars, the death of it?
O surely, reaving
Peace, my Lord should leave in lieu
Some good! And so he
does leave Patience exquisite,
That plumes to Peace
thereafter. And when Peace here does house
He comes with work to
do, he does not come to coo,
He comes to brood and
sit.
In: “Poems of 1876-1889”
Plantando a Paz
Chad Glass: artista
norte-americano)
Paz
Paz, pomba rude,
quando não mais perto estarás,
Mas já dentro em meus
galhos, quietas, calmas as asas?
Quando, Paz, nunca?
Não será a mentira suporte
Para o meu coração:
sei, sim, que às vezes vens; mas
A paz parca é paz
dura. Que paz pura nos traz as
Ameaças assassinas,
guerras, sua própria morte?
Por certo, ó Paz
furtada, meu Senhor em lugar
Deixa algum bem –
Paciência perfeita cujo porte
Empluma à Paz após. Mas se a Paz em mim faz casa,
É para trabalhar, apenas pôr e chocar:
Não traz canto que conforte.
Referência:
HOPKINS, Gerard
Manley. Peace / Paz. Tradução de Luís Gonçales Bueno de Camargo. In: PAES, José
Paulo (Organização, Nota Liminar e Posfácio). Transverso: coletânea de
poemas traduzidos. Edição multilíngue. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1988. Em
inglês: p. 32; em português: p. 33.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário