Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Age de Carvalho - Carlos

Estes versos de Age de Carvalho reportam-se, decerto, à forma característica como Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) enceta os seus poemas, sobretudo, parece-me, em “A Rosa do Povo” (1945) e em “Claro Enigma” (1951), aliás, dois de seus poemário exordiais, bem a contexto da linha introdutória do infratranscrito poema: “Chego as tuas primeiras idades, Carlos”.

 

As notas de desencanto e de uma ironia verbalizada transversalmente na sucessão dos versos, a metalinguagem tantas vezes empregada, o tema incontornável do amor, as digressões sobre a realidade sócio-política de momento, a transitoriedade de todo o existir humano: eis o painel em que se mira o poeta paraense, em suas andanças a mãos dadas com o mais ilustre dos itabiranos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Age de Carvalho

(n. 1958)

 

Carlos

 

Chego as tuas primeiras idades, Carlos,

e a dor que me funciona

não é igual a que carregaste,

tampouco semelhante àquela que move

a fome do mundo.

 

Compreendo lutar com palavras,

feita de consistências diárias e azuis,

e, embora talvez ria como em algum tempo

riste, tenha gestos, atitudes,

dores palavras amores;

embora mesmo que chegue a tocar um poema

como tu, a beijá-Ia com pudor

e desprezá-Ia usado na boca errada,

nada será igual nem parecido.

O mundo não é o mesmo.

(Como não será adiante e não foi no passado,

a minha infância e a tua maturidade).

 

Contudo, Carlos,

caminhamos.

 

Em: “Arquitetura dos Ossos” (1980)

 

Carlos Drummond de Andrade

(Retratado por Cândido Portinari)

 

Referência:

 

CARVALHO, Age de. Carlos. In: _________. In: __________. ROR: 1980-1990. São Paulo, SP: Duas Cidades; Secretaria de Estado de Cultura, 1990. p. 167. (Coleção ‘Claro Enigma’)

 

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