Dos vastos campos inóspitos,
semidesérticos, amiúde sem atividades produtivas – os gerais –, o poeta
piauiense consegue verter em palavras o que se lhe revela de belo naquelas “serras
e planuras”: o efeito visual do raiar da aurora, a profusa combinação de cores
do crepúsculo, o céu estrelado noite adentro.
Rios, raios, trovões,
paisagens assumem uma expressão de irrealidade sob o efeito tremeluzente de
feixes solares implacáveis: “navegar” no sertão é expor-se a “rumo sem termo”, a
terras infindáveis – um desafio para a sobrevivência do homem que ali venha se
instalar, que ou bem se torna um “forte” ou bem se rende ao rigor da natureza.
J.A.R. – H.C.
Renato Castelo Branco
(1914-1995)
Os Gerais
Esses Gerais enormes,
em ventos danando,
em raios e fúria, o
armar do trovão.
Esses Gerais em
serras e planuras,
dias inteiros – nada,
tudo nada –
rumo sem termo,
navegar sertão.
Rios bonitos vêm do
poente
se encontrar com o
sol.
Desde o raiar da
aurora, o chapadão tonteia.
De tardinha, no céu,
a roseia da cor.
Noites de estrelaria
se encostando
recriam paisagens
irreais.
É o roteiro de Deus,
nas serras dos Gerais.
Ipê na serra
(Vinícius Silva:
pintor paulista)
Referência:
BRANCO, Renato
Castelo. Os gerais. In: __________. Poemas do grande sertão. São Paulo,
SP: T. A. Queiroz, 1993. p. 5.
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