Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Renato Castelo Branco - Os Gerais

Dos vastos campos inóspitos, semidesérticos, amiúde sem atividades produtivas – os gerais –, o poeta piauiense consegue verter em palavras o que se lhe revela de belo naquelas “serras e planuras”: o efeito visual do raiar da aurora, a profusa combinação de cores do crepúsculo, o céu estrelado noite adentro.

 

Rios, raios, trovões, paisagens assumem uma expressão de irrealidade sob o efeito tremeluzente de feixes solares implacáveis: “navegar” no sertão é expor-se a “rumo sem termo”, a terras infindáveis – um desafio para a sobrevivência do homem que ali venha se instalar, que ou bem se torna um “forte” ou bem se rende ao rigor da natureza.

 

J.A.R. – H.C.

 

Renato Castelo Branco

(1914-1995)

 

Os Gerais

 

Esses Gerais enormes, em ventos danando,

em raios e fúria, o armar do trovão.

Esses Gerais em serras e planuras,

dias inteiros – nada, tudo nada –

rumo sem termo, navegar sertão.

 

Rios bonitos vêm do poente

se encontrar com o sol.

Desde o raiar da aurora, o chapadão tonteia.

De tardinha, no céu, a roseia da cor.

Noites de estrelaria se encostando

recriam paisagens irreais.

 

É o roteiro de Deus, nas serras dos Gerais.

 

Ipê na serra

(Vinícius Silva: pintor paulista)

 

Referência:

 

BRANCO, Renato Castelo. Os gerais. In: __________. Poemas do grande sertão. São Paulo, SP: T. A. Queiroz, 1993. p. 5.

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