Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 23 de outubro de 2022

Ida Vitale - Resposta do Dervixe

O falante do poema é um dervixe, espécie de asceta ou mendicante do islamismo sufista, de que se conhecem as célebres cerimônias devocionais, nas quais os membros rodopiam em transes hipnóticos, inspirados num simbolismo cósmico – como o da ronda dos planetas em torno do sol –, com o claro propósito de alcançar o êxtase religioso.

 

Dele se obtém uma resposta orientadora sobre no que haveria de consistir a sabedoria, um estado de distanciamento a permitir uma mirada mais ampla e serena desta realidade reflexa, certa condição desinteressada em relação às convicções e às certezas humanas, e o retorno à unicidade fundamental com o divino e o transcendente.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ida Vitale

(n. 1923)

 

Respuesta del Derviche

 

Quizás

la sabiduría consista

en alejarse si algo vibra

a nuestro movimiento

(porque la horrible araña

cae sobre la víctima)

para ver,

refleja como una estrella,

la realidad distante.

 

De ese modo

la situación florece a nuestros ojos

– o pierde

uno a uno

sus pétalos –

como una especie vista

por primera vez.

Y juzgaremos triste,

vano zurcido

que nada repara,

el dibujo trivial de nuestro gesto,

improbable amuleto

contra la emigración de las certezas.

 

Sufi a rodopiar

(Fabrizio Cassetta: artista italiano)

 

Resposta do Dervixe

 

Talvez

a sabedoria consista

em afastar-se se algo vibra

ao nosso movimento

(porque a horrível aranha

cai sobre a vítima)

para ver,

refletida como uma estrela,

a realidade distante.

 

Desse modo

a situação floresce a nossos olhos

– ou perde

uma a uma

as suas pétalas –

como uma espécie vista

pela primeira vez.

E julgaremos triste,

vã cerzidura

que nada repara,

o desenho trivial de nosso gesto,

improvável amuleto

contra a emigração das certezas.

 

Referência:

 

VITALE, Ida. Respuesta del dervixe. In: BORDA, Juán Gustavo Cobo (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, ‎‎1985. p. 347. (Colección Tierra Firme)

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