Dove descreve, neste
poema, o único momento de paz que tem uma mãe ao longo do dia, no interregno
durante o qual as crianças dormem uma breve sesta, quando então se põe a
construir palácios imaginários, logo interrompidos assim que os guris retomam o
ritmo alucinante das exigências à volta da condição de maternidade.
Muitas mulheres experimentam
a dura condição de dupla jornada – a do emprego e a das atividades em seu
próprio lar: no caso particular da dona de casa a que o poema diz respeito,
vê-se que não lhe pertence por inteiro a sua própria vida, pois o seu grau de
liberdade limita-se a uns poucos momentos a meio do dia, e a condição de ser
mãe não lhe preenche satisfatoriamente os ideais de uma vida significativa.
J.A.R. – H.C.
Rita Dove
(n. 1952)
Daystar
She wanted a little
room for thinking;
but she saw diapers
steaming on the line,
a doll slumped behind
the door.
So she lugged a chair
behind the garage
to sit out the
children’s naps.
Sometimes there were
things to watch –
the pinched armor of
a vanished cricket,
a floating maple
leaf. Other days
she stared until she
was assured
when she closed her
eyes
she’d see only her
own vivid blood.
She had an hour, at
best, before Liza appeared
pouting from the top
of the stairs.
And just what was
mother doing
out back with the
field mice? Why,
building a palace.
Later
that night when
Thomas rolled over and
lurched into her, she
would open her eyes
and think of the
place that was hers
for an hour – where
she was nothing,
pure nothing, in the
middle of the day.
Mãe e crianças
(Louis-André-Gabriel
Bouchet: pintor francês)
Estrela Diurna
Ela queria um pouco
de espaço para pensar;
porém viu fraldas
fumegantes no varal,
uma boneca tombada
atrás da porta.
Então arrastou uma
cadeira até os fundos da garagem
para acomodar-se durante
a sesta das crianças.
Às vezes, havia
coisas para observar –
a armadura despegada
de um grilo que se foi,
uma folha flutuante
de bordo. Noutros dias,
a tudo assistia
fixamente até ter a certeza de que,
quando fechasse os
olhos,
veria apenas o seu
próprio sangue vívido.
Tinha uma hora, no
máximo, antes que Liza aparecesse
fazendo beicinho no alto
da escada.
E o que mamãe estava
exatamente fazendo
lá atrás com os ratos
do campo? Ora,
construindo um
palácio. Mais tarde,
naquela noite, quando
Thomas se revirasse e
lhe esbarasse, ela abriria
os olhos
e pensaria no lugar que
lhe pertenceu
durante uma hora –
onde
ela não foi nada,
puro nada, a meio do
dia.
Referência:
DOVE, Rita. Daystar.
In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry.
New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 488-489.
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