Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Rita Dove - Estrela Diurna

Dove descreve, neste poema, o único momento de paz que tem uma mãe ao longo do dia, no interregno durante o qual as crianças dormem uma breve sesta, quando então se põe a construir palácios imaginários, logo interrompidos assim que os guris retomam o ritmo alucinante das exigências à volta da condição de maternidade.

 

Muitas mulheres experimentam a dura condição de dupla jornada – a do emprego e a das atividades em seu próprio lar: no caso particular da dona de casa a que o poema diz respeito, vê-se que não lhe pertence por inteiro a sua própria vida, pois o seu grau de liberdade limita-se a uns poucos momentos a meio do dia, e a condição de ser mãe não lhe preenche satisfatoriamente os ideais de uma vida significativa.

 

J.A.R. – H.C.

 

Rita Dove

(n. 1952)

 

Daystar

 

She wanted a little room for thinking;

but she saw diapers steaming on the line,

a doll slumped behind the door.

 

So she lugged a chair behind the garage

to sit out the children’s naps.

 

Sometimes there were things to watch –

the pinched armor of a vanished cricket,

a floating maple leaf. Other days

she stared until she was assured

when she closed her eyes

she’d see only her own vivid blood.

 

She had an hour, at best, before Liza appeared

pouting from the top of the stairs.

And just what was mother doing

out back with the field mice? Why,

 

building a palace. Later

that night when Thomas rolled over and

lurched into her, she would open her eyes

and think of the place that was hers

for an hour – where

she was nothing,

pure nothing, in the middle of the day.

 

Mãe e crianças

(Louis-André-Gabriel Bouchet: pintor francês)

 

Estrela Diurna

 

Ela queria um pouco de espaço para pensar;

porém viu fraldas fumegantes no varal,

uma boneca tombada atrás da porta.

 

Então arrastou uma cadeira até os fundos da garagem

para acomodar-se durante a sesta das crianças.

 

Às vezes, havia coisas para observar –

a armadura despegada de um grilo que se foi,

uma folha flutuante de bordo. Noutros dias,

a tudo assistia fixamente até ter a certeza de que,

quando fechasse os olhos,

veria apenas o seu próprio sangue vívido.

 

Tinha uma hora, no máximo, antes que Liza aparecesse

fazendo beicinho no alto da escada.

E o que mamãe estava exatamente fazendo

lá atrás com os ratos do campo? Ora,

 

construindo um palácio. Mais tarde,

naquela noite, quando Thomas se revirasse e

lhe esbarasse, ela abriria os olhos

e pensaria no lugar que lhe pertenceu

durante uma hora – onde

ela não foi nada,

puro nada, a meio do dia.

 

Referência:

 

DOVE, Rita. Daystar. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 488-489.

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