Sempre rodeado por mulheres, o falante deve ter experimentado o melhor e o pior do que é viver ao lado dessas “belas criaturas”, deixando-se por elas “enfeitiçar”. Ao fim, decerto em razão do estado de quase “loucura” a que chegou, anuncia que, muitas vezes, teria sido melhor que houvesse ficado um tempo a sós.
Aliás, o tema da
solitude aparece como título de um dos poemários de Bukowski, nomeadamente, “Você
fica tão sozinho às vezes que até faz sentido” (“You get so alone at times that
it just makes sense”), de 1986. Depois de passar por “estupidezes clássicas”, o
falante até consegue antever o que ocorrerá proximamente com outros sujeitos
que venham a se enredar no “feitiço” de uma das damas com quem, um dia, se
embaraçou, ou seja, mais “estupidezes clássicas”.
J.A.R. – H.C.
Charles Bukowski
(1920-1994)
the way it is now
I’ll tell you
I’ve lived with some
gorgeous women
and I was so
bewitched by those
beautiful creatures
that
my eyebrows twitched.
but I’d rather drive
to New York
backwards
than to live with any
of them
again.
the next classic
stupidity
will be the history
of those fellows
who inherit my female
legacies.
in their case
as in mine
they will find
that madness
is caused by not
being often enough
alone.
Interior com duas
mulheres e um homem
bebendo e comendo
ostras
(Pieter de Hooch:
pintor holandês)
do jeito que é agora
te digo
já vivi com algumas
mulheres deslumbrantes
e estava tão enfeitiçado
por aquelas
lindas criaturas que
minhas sobrancelhas
tremiam.
mas eu preferiria
dirigir até Nova Iorque
de marcha-ré
do que viver com
qualquer uma delas
de novo.
a próxima estupidez
clássica
será a história
daqueles caras
que herdaram meu
legado
feminino.
no caso deles
assim como no meu
eles descobrirão
que a loucura
é causada por não
ficar tempo o suficiente
sozinho.
Referências:
Em Inglês
BUKOWSKI, Charles. the
way it is now. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good
poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 217.
Em Português
BUKOWSKI, Charles. do
jeito que é agora. Tradução de Fabio Soares e Gerciana Espíndola. In:
__________. Vida desalmada. Florianópolis, SC: Spectro, 2006. p. 26.
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