A pobreza em
transformação, divisa do tempo e da mudança, alastrando-se de novos modos sobre
a comunidade, sob o olhar de um citadino que a tudo presenciara nessa sucessão
de anos: eis o conteúdo destes versos, cujo autor usualmente revela farta
habilidade em descrever os elementos singulares da paisagem ou dos fatos que se
lhe apresentam no quotidiano.
Em sociedades de
interesses primacialmente capitalistas, a expansão da pobreza, lado reverso da
concentração da riqueza, ocorre quase que como desenlace “natural” dos
princípios e representações adotados pela maioria de sua população: na franja
dos vencidos, os que mal conseguem atingir uma realidade material com o mínimo
necessário para subsistência.
J.A.R. – H.C.
William Carlos
Williams
(1883-1963)
The Poor
It’s the anarchy of
poverty
delights me, the old
yellow wooden house
indented
among the new brick
tenements
Or a cast-iron
balcony
with panels showing
oak branches
in full leaf. It fits
the dress of the
children
reflecting every
stage and
custom of necessity –
Chimneys, roofs,
fences of
wood and metal in an
unfenced
age and enclosing
next to
nothing at all: the
old man
in a sweater and soft
black
hat who sweeps the
sidewalk –
his own ten feet of
it –
in a wind that
fitfully
turning his corner
has
overwhelmed the
entire city
Pobreza e Riqueza
(William P. Frith:
pintor inglês)
Os Pobres
É a anarquia da
pobreza
que me encanta, a
velha
casa amarela de
madeira recortada
em meio às novas
casas de tijolo
Ou uma sacada de
ferro fundido
com gradis
representando ramos
folhudos de carvalho.
Isso tudo combina
com as roupas das
crianças
que refletem cada
período e
estilo da necessidade
–
Chaminés, telhados,
cercas de
madeira e metal numa
época
sem cercas
delimitando quase
coisa alguma: o velho
de suéter e chapéu
preto
a varrer a calçada –
os seus três metros
de calçada
na ventania que
inconstante
virou-lhe a esquina
para vir
tomar conta da cidade
inteira
Referência:
WILLIAMS, William
Carlos. The poor / Os pobres. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e estudo
crítico de José Paulo Paes. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das
Letras, 1987. Em inglês: p. 136; em português: p. 137.
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