Quem gostaria de ser
uma tartaruga e viver na velocidade da paciência desse animal de vida longa?
Seria melhor viver dez anos a mil ou mil anos a dez? Obviamente que para a
mente humana, viver como uma tartaruga resultaria numa espécie de estado
opressivo, tanto mais tendo que portar, para onde quer que vá, a única proteção
de que dispõe para se manter num mundo pleno de hostilidades: sua carapaça!
Desajeitada e lenta,
a tartaruga tem na paciência o seu esporte preferido. E foi lançando mão de seu
principal recurso que ela logrou vencer a lebre, na hipotética corrida entre
ambas, levada a efeito no reino dos animais, segundo a fábula que nos foi legada
pelo grego Esopo (620 a.C. - 564 a.C.). Tenha-se presente, portanto: “Devagar
se vai ao longe!”
J.A.R. – H.C.
Kay Ryan
(n. 1945)
Turtle
Who would be a turtle
who could help it?
A barely mobile hard
roll, a four-oared helmet,
she can ill afford
the chances she must take
in rowing toward the
grasses that she eats.
Her track is
graceless, like dragging
a packing-case
places, and almost any slope
defeats her modest
hopes. Even being practical,
she's often stuck up
to the axle on her way
to something edible.
With everything optimal,
she skirts the ditch
which would convert
her shell into a
serving dish. She lives
below luck-level,
never imagining some lottery
will change her load
of pottery to wings.
Her only levity is
patience,
the sport of truly
chastened things.
Tartaruga Marinha 2
(Hailey E. Herrera:
pintora norte-americana)
Tartaruga
Quem quereria ser uma
tartaruga se pudesse evitá-lo?
Um rolo maciço que
mal se move, um casco com quatro remos,
ela sequer pode permitir-se
os riscos que tem de enfrentar
ao remar em direção
às gramíneas de que se alimenta.
Seu rastro é
desgracioso, como o arraste deixado
por um caixote, e
quase qualquer declive
frustra suas modestas
esperanças. Ainda que seja prática,
com frequência se embaraça
ao eixo, em sua marcha
até algo comestível. Nas
melhores circunstâncias,
consegue contornar o
sulco que poderia converter
sua carapaça em uma
baixela. Ela vive abaixo
do nível de sorte,
sem nunca imaginar que alguma loteria
poderia converter em
asas o seu fardo de terracota.
Sua única veleidade é
a paciência,
o esporte das coisas verdadeiramente
castigadas.
Referência:
RYAN, Kay. Turtle. In:
DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry.
New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 421.
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