Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Rogelio Sinán - trânsito

Sinán, pseudônimo do escritor panamenho Bernardo Domínguez Alba, parodia a célebre passagem do Evangelho de João (1, 14) – “E o verbo se fez carne e habitou entre nós” –, em meio a um conjunto de ideias abstratas supervenientes, que apontam para um voo sem fim, depois que a sua alma foi intensamente tocada por uma nova e desconhecida imagem.

 

Não se consigna com precisão a quem o ente lírico se refere quando emprega o discurso dirigido à segunda pessoa do singular – seria porventura Cristo? Enquanto “triste pássaro” que se lança em voo ao infinito, a mensagem que remanesce do poema quase faz eco a algumas passagens do “Zaratustra”, de Nietzsche.

 

J.A.R. – H.C.

 

Rogelio Sinán

(1902-1994)

 

tránsito

 

La ausencia se hizo espacio

y habitó entre nosotros.

 

Debía. Por las señales extrañas

que encarnaste.

 

Pusiste en mi sentir

esa palabra

que no entendió mi espíritu,

y

la visión que tuve de ti

fue de contraste.

 

Tus nuevas incendiaron

la imagen – alborada – que de ti

vivía en mí,

y fue voz de otra imagen que yo no conocía

lo que golpeó en el bronce de mi alma

reciamente... Tan recio,

que la onda

– trizada en muchas ondas –

no debió su horizonte!

 

Y así fue

que – ave triste –

mi vida echó su vuelo al infinito

loca!

 

Em voo

(Trevor V. Swanson: artista norte-americano)

 

trânsito

 

A ausência se fez espaço

e habitou entre nós.

 

Deveria. Pelos estranhos sinais

que encarnaste.

 

Puseste em meu sentir

essa palavra

que meu espírito não entendeu,

e

a visão que tive de ti

foi de contraste.

 

Tuas novas incendiaram

a imagem – alvorada – que de ti

em mim vivia,

e foi voz de outra imagem que eu não conhecia

o que tangeu o bronze de minha alma

intensamente... Tão intenso,

que a onda

– despedaçada em muitas ondas –

não tocou seu horizonte!

 

E assim foi

que – ave triste –

minha vida lançou seu voo ao infinito,

louca!

 

Referência:

 

SINÁN, Rogelio. trânsito. In: __________. Poesía completa de Rogelio Sinón. Prólogo de Elsie Alvarado de Ricord. Compilación e introducción de Enrique Jaramillo Levi. Panamá, PA: Universidad Tecnológica de Panamá, abr. 2000. p. 74.

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