O poeta expressa sua
preferência pelas estações do ano mais frias, ou seja, o outono e, sobretudo o
inverno, durante as quais as estantes do porão da casa ficam aprovisionadas de
mantimentos para um período tão longo de uma paisagem monotônica, hibernal, muito
embora, por outro lado, a temporada o sustenha com um “coração quente” e a “cabeça
deveras fascinada por si própria para pensar”.
É o entorpecimento do
inverno, alusão às brumas frias e cinzentas, aos ventos e tempestades de gelo
ou de neve a bloquearem o livre trânsito sobre a terra, à emigração das
andorinhas: um tempo que leva muitos a certa e extrema angústia, em razão do
encurtamento dos dias. Mas em compensação, também um emblema da previdência que
se processa em seu subterrâneo, até que tudo se renove pelo advento da primavera.
J.A.R. – H.C.
Jay Parini
(n. 1948)
The Function of
Winter
I’m for it, as the
last leaves shred
or powder on the
floor, as sparrows find
the driest footing,
and November rains
fall hard as salt
sprayed over roads.
The circulating
spores take cover
where they can, and
light runs level
to the ground again: no
more the vertical
blond summer sheen
that occupies a day,
but winter flatness –
light as part of things,
not things themselves.
My hearts in storage
for the six-month
siege we re in for here,
laid up for use a
little at a time
like hardtack on a
polar expedition,
coveted though stale.
Ideas, which in
summer hung a crazy
jungle in my head,
subside now, separate
and gleam in parts;
I braid them for
display on winter walls
like garlic tails or
onions, crisp hay wreaths.
One by one, I’ll
pluck them into spring.
If truth be told, I
find it easier
to live this way: the
fructifying boom
of summer over, wild
birds gone, and wind
along the ground
where cuffs can feel it.
Everything’s in reach
or neatly labeled
on my basement
shelves. I’m ready to begin
to see what happened
when my heart was hot,
my head too dazzled
by itself to think.
In: “Town Life”
(1983-1988)
Paisagem de Inverno
(Caspar David
Friedrich: pintor alemão)
A Função do Inverno
Estou a par, basta
ver as últimas folhas fragmentadas
ou esfaceladas sobre
o solo, bem assim os pardais que são
atraídos pelas hastes
mais secas, e as chuvas de novembro
caindo com força, que
nem sal pulverizado sobre as estradas.
Os esporos em
dispersão se acomodam
onde podem, e a luz
volta a correr
ao nível do solo: não
mais o flavo
brilho vertical do
verão a ocupar um dia,
senão a monotonia do
inverno – a luz como parte das coisas,
não as coisas em si
mesmas. Meus corações fornidos estão
aprovisionados para o
cerco de seis meses que aqui
nos espera,
retidos para serem
usados um pouco a cada vez
como biscoitos de
bordo em uma expedição polar –
cobiçados, ainda que
rançosos. As ideias, que no
verão faziam pender
um louco jângal em minha cabeça,
agora se dissipam, se
separam e brilham por partes;
urdo-as para
exibi-las nas paredes invernosas como tranças
de bulbos de alho ou de
cebolas, guirlandas congelantes
de feno.
Uma a uma, vou
arrancá-las na primavera.
A bem da verdade, reputo
mais fácil
viver assim: o auge frugífero
do verão
já consumado, as aves
silvestres em debandada, e o vento
a percorrer o solo,
onde os punhos podem senti-lo.
Tudo está ao alcance da
mão ou bem etiquetado
nas estantes de meu porão.
Estou pronto para começar
a ver o que se passou
enquanto meu coração esteve quente,
minha cabeça deveras
fascinada por si própria para pensar.
Em: “Vida Urbana”
(1983-1988)
Referência:
PARINI, Jay. The function
of winter. In: __________. New and collected poems: 1975-2015. Boston,
MA: Beacon Press, 2016. p. 167.
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