Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Philip Levine - Belle Isle, 1949

A julgar autobiográfico o conteúdo do presente poema, trata-se de um momento em que o autor contava 21 (vinte e um) anos e andava a mãos dadas com uma colegial polonesa que nunca antes a havia visto, oportunidade em que se lançaram em uma aventura pelo cenário poluído das águas do Rio Detroit, presumivelmente nos arredores do parque automobilístico ali instalado.

 

Tudo é circunstancial, fugaz, contingente, irrepetível nos detalhes que nos são transmitidos: da jornada venturosa ao regresso ao ponto de onde partiram, o passado acha-se selado aos dois jovens intervenientes, não podendo ser alterado, quando muito reinterpretado, para vir a fazer sentido no presente, quer como evocação de uma alegria nostálgica, quer como “laboratório” para novas experiências.

 

J.A.R. – H.C.

 

Philip Levine

(1928-2015)

 

Belle Isle, 1949

 

We stripped in the first warm spring night

and ran down into the Detroit River

to baptize ourselves in the brine

of car parts, dead fish, stolen bicycles,

melted snow. I remember going under

hand in hand with a Polish highschool girl

I’d never seen before, and the cries

our breath made caught at the same time

on the cold, and rising through the layers

of darkness into the final moonless atmosphere

that was this world, the girl breaking

the surface after me and swimming out

on the starless waters towards the lights

of Jefferson Ave. and the stacks

of the old stove factory unwinking.

Turning at last to see no island at all

but a perfect calm dark as far

as there was sight, and then a light

and another riding low out ahead

to bring us home, ore boats maybe, or smokers

walking alone. Back panting

to the gray coarse beach we didn’t dare

fall on, the damp piles of clothes,

and dressing side by side in silence

to go back where we came from.

 

Vista da Ilha Zug

(Arthur Chartow: artista norte-americano)

 

Belle Isle, 1949 (*)

 

Despimo-nos na primeira noite quente da primavera

e corremos até o Rio Detroit

para nos batizar na salmoura

de peças de automóveis, peixes mortos, bicicletas

roubadas,

neve derretida. Recordo-me de andar

de mãos dadas com uma garota polonesa do liceu

que nunca havia visto antes, e os uivos

de nossos respiros sendo arrestados ao mesmo tempo

pelo frio, e, a elevar-se através das camadas

de escuridão até a derradeira atmosfera sem lua

que era este mundo, a garota subindo

à superfície atrás de mim, nadando

nas águas sem estrelas em direção às luzes

da Av. Jefferson e às vigilantes chaminés

da antiga fábrica de fogões.

Ao fim, não vimos ilha alguma,

senão uma escuridão perfeita e calma até onde a vista

podia alcançar, e depois uma luz

e outra cavalgando baixo à nossa frente,

para nos levar para casa, talvez botes de minério,

ou fumantes

caminhando sozinhos. Retornamos ofegantes

à praia cinzenta e áspera onde não nos atrevemos

a mergulhar, às pilhas de roupas úmidas,

vestindo-nos lado a lado em silêncio

para regressar ao ponto de onde viemos.

 

Nota:

 

(*) Abstive-me de traduzir o termo, pois que é o exato designativo de uma pequena ilha no Rio Detroit, onde localizado o “Conservatório Anna Scripps Whitcomb”, um parque insular dotado de estufa e jardim botânico (s.m.j., 1949 deve ter sido o ano em que ocorreram os fatos narrados no poema).

 

Referência:

 

LEVINE, Philip. Belle isle, 1949. In: PARINI, Jay (Ed.). The Wadsworth anthology of poetry. Boston, MA: Thomson Wadsworth, 2006. p. 676.

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