A julgar
autobiográfico o conteúdo do presente poema, trata-se de um momento em que o
autor contava 21 (vinte e um) anos e andava a mãos dadas com uma colegial
polonesa que nunca antes a havia visto, oportunidade em que se lançaram em uma aventura
pelo cenário poluído das águas do Rio Detroit, presumivelmente nos arredores do
parque automobilístico ali instalado.
Tudo é circunstancial,
fugaz, contingente, irrepetível nos detalhes que nos são transmitidos: da jornada
venturosa ao regresso ao ponto de onde partiram, o passado acha-se selado aos dois
jovens intervenientes, não podendo ser alterado, quando muito reinterpretado,
para vir a fazer sentido no presente, quer como evocação de uma alegria
nostálgica, quer como “laboratório” para novas experiências.
J.A.R. – H.C.
Philip Levine
(1928-2015)
Belle Isle, 1949
We stripped in the
first warm spring night
and ran down into the
Detroit River
to baptize ourselves
in the brine
of car parts, dead
fish, stolen bicycles,
melted snow. I
remember going under
hand in hand with a
Polish highschool girl
I’d never seen
before, and the cries
our breath made
caught at the same time
on the cold, and
rising through the layers
of darkness into the
final moonless atmosphere
that was this world,
the girl breaking
the surface after me
and swimming out
on the starless
waters towards the lights
of Jefferson Ave. and
the stacks
of the old stove
factory unwinking.
Turning at last to
see no island at all
but a perfect calm
dark as far
as there was sight,
and then a light
and another riding
low out ahead
to bring us home, ore
boats maybe, or smokers
walking alone. Back
panting
to the gray coarse
beach we didn’t dare
fall on, the damp
piles of clothes,
and dressing side by
side in silence
to go back where we
came from.
Vista da Ilha Zug
(Arthur Chartow:
artista norte-americano)
Belle Isle, 1949 (*)
Despimo-nos na
primeira noite quente da primavera
e corremos até o Rio
Detroit
para nos batizar na
salmoura
de peças de
automóveis, peixes mortos, bicicletas
roubadas,
neve derretida.
Recordo-me de andar
de mãos dadas com uma
garota polonesa do liceu
que nunca havia visto
antes, e os uivos
de nossos respiros sendo
arrestados ao mesmo tempo
pelo frio, e, a elevar-se
através das camadas
de escuridão até a
derradeira atmosfera sem lua
que era este mundo, a
garota subindo
à superfície atrás de
mim, nadando
nas águas sem
estrelas em direção às luzes
da Av. Jefferson e às
vigilantes chaminés
da antiga fábrica de
fogões.
Ao fim, não vimos
ilha alguma,
senão uma escuridão
perfeita e calma até onde a vista
podia alcançar, e depois
uma luz
e outra cavalgando
baixo à nossa frente,
para nos levar para
casa, talvez botes de minério,
ou fumantes
caminhando sozinhos. Retornamos
ofegantes
à praia cinzenta e
áspera onde não nos atrevemos
a mergulhar, às pilhas de
roupas úmidas,
vestindo-nos lado a
lado em silêncio
para regressar ao ponto
de onde viemos.
Nota:
(*) Abstive-me de
traduzir o termo, pois que é o exato designativo de uma pequena ilha no Rio
Detroit, onde localizado o “Conservatório Anna Scripps Whitcomb”, um parque
insular dotado de estufa e jardim botânico (s.m.j., 1949 deve ter sido o ano em
que ocorreram os fatos narrados no poema).
Referência:
LEVINE, Philip. Belle
isle, 1949. In: PARINI, Jay (Ed.). The Wadsworth anthology of poetry. Boston,
MA: Thomson Wadsworth, 2006. p. 676.
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