Angelou confronta o ‘modus vivendi’ de um pássaro livre, solto na amplidão da natureza, e o de um outro que se mantém em cativeiro, com as asas aparadas e os passos limitados pelo ínfimo quadrante de sua gaiola, mas que, mesmo sob circunstâncias que lhe tolhem as possibilidades de existência, põe-se a cantar por um “ideal” de liberdade.
Parece-me óbvia a metáfora empregada pela poetisa para tratar do tema da opressão e das inequívocas limitações físicas impostas aos não nascidos em “berço de ouro”, com sérios efeitos sobre os lados emocional e psicológico, em razão da limitação imposta aos seus movimentos, podendo levá-los até as não tencionadas balizas do rancor, mas agora já com potencial para suscitar reações imprevisíveis, impetuosas ou mesmo devastadoras.
J.A.R. – H.C.
(1928-2014)
Caged Bird
A free bird leaps
on the back of the wind
and floats downstream
till the current ends
and dips his wing
in the orange sun rays
and dares to claim the sky.
But a bird that stalks
down his narrow cage
can seldom see through
his bars of rage
his wings are clipped and
his feet are tied
so he opens his throat to sing.
The caged bird sings
with a fearful trill
of things unknown
but longed for still
and his tune is heard
on the distant hill
for the caged bird
sings of freedom.
The free bird thinks of another breeze
and the trade winds soft through the sighing trees
and the fat worms waiting on a dawn-bright lawn
and he names the sky his own.
But a caged bird stands on the grave of dreams
his shadow shouts on a nightmare scream
his wings are clipped and his feet are tied
so he opens his throat to sing.
The caged bird sings
with a fearful trill
of things unknown
but longed for still
and his tune is heard
on the distant hill
for the caged bird
sings of freedom.
Pássaro Engaiolado
(Molly Roberts: artista norte-americana)
Pássaro Engaiolado
Um pássaro livre salta
às costas do vento,
flutua a jusante
até o fim da corrente,
mergulha suas asas
nos raios alaranjados do sol
e ousa reivindicar o céu.
Mas um pássaro que espreita
ao fundo de sua pequena gaiola,
mal pode ver por entre
as grades de fúria;
suas asas estão aparadas e
atados os seus pés,
então ele abre a garganta para cantar.
O pássaro engaiolado canta
com um receoso trinado
por coisas desconhecidas,
mas ainda ambicionadas,
e sua melodia se escuta
na distante colina,
porque o pássaro engaiolado
canta à liberdade.
O pássaro livre pensa em outra brisa,
nos suaves ventos alísios por entre
árvores suspirantes,
nas larvas graúdas à espera num brilhoso
relvado ao amanhecer
e atribui-se o domínio dos céus.
Mas um pássaro engaiolado queda-se sobre
a tumba dos sonhos,
estrila a sua sombra num grito de pesadelo,
suas asas estão aparadas e atados os seus pés,
então ele abre a garganta para cantar.
O pássaro engaiolado canta
com um receoso trinado
por coisas desconhecidas,
mas ainda ambicionadas,
e sua melodia se escuta
na distante colina,
porque o pássaro engaiolado
canta à liberdade.
Referência:
ANGELOU, Maya. Caged bird. In: __________. The complete collected poems of Maya
Angelou. New York, NY: Random House, 1994. p. 194-195.
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