Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Maya Angelou - Pássaro Engaiolado

Angelou confronta o ‘modus vivendi’ de um pássaro livre, solto na amplidão da natureza, e o de um outro que se mantém em cativeiro, com as asas aparadas e os passos limitados pelo ínfimo quadrante de sua gaiola, mas que, mesmo sob circunstâncias que lhe tolhem as possibilidades de existência, põe-se a cantar por um “ideal” de liberdade.

Parece-me óbvia a metáfora empregada pela poetisa para tratar do tema da opressão e das inequívocas limitações físicas impostas aos não nascidos em “berço de ouro”, com sérios efeitos sobre os lados emocional e psicológico, em razão da limitação imposta aos seus movimentos, podendo levá-los até as não tencionadas balizas do rancor, mas agora já com potencial para suscitar reações imprevisíveis, impetuosas ou mesmo devastadoras.

J.A.R. – H.C.

 

Maya Angelou

(1928-2014)

 

Caged Bird

 

A free bird leaps

on the back of the wind

and floats downstream

till the current ends

and dips his wing

in the orange sun rays

and dares to claim the sky.

 

But a bird that stalks

down his narrow cage

can seldom see through

his bars of rage

his wings are clipped and

his feet are tied

so he opens his throat to sing.

 

The caged bird sings

with a fearful trill

of things unknown

but longed for still

and his tune is heard

on the distant hill

for the caged bird

sings of freedom.

 

The free bird thinks of another breeze

and the trade winds soft through the sighing trees

and the fat worms waiting on a dawn-bright lawn

and he names the sky his own.

 

But a caged bird stands on the grave of dreams

his shadow shouts on a nightmare scream

his wings are clipped and his feet are tied

so he opens his throat to sing.

 

The caged bird sings

with a fearful trill

of things unknown

but longed for still

and his tune is heard

on the distant hill

for the caged bird

sings of freedom.

 

Pássaro Engaiolado

(Molly Roberts: artista norte-americana)

 

Pássaro Engaiolado

 

Um pássaro livre salta

às costas do vento,

flutua a jusante

até o fim da corrente,

mergulha suas asas

nos raios alaranjados do sol

e ousa reivindicar o céu.

 

Mas um pássaro que espreita

ao fundo de sua pequena gaiola,

mal pode ver por entre

as grades de fúria;

suas asas estão aparadas e

atados os seus pés,

então ele abre a garganta para cantar.

 

O pássaro engaiolado canta

com um receoso trinado

por coisas desconhecidas,

mas ainda ambicionadas,

e sua melodia se escuta

na distante colina,

porque o pássaro engaiolado

canta à liberdade.

 

O pássaro livre pensa em outra brisa,

nos suaves ventos alísios por entre

árvores suspirantes,

nas larvas graúdas à espera num brilhoso

relvado ao amanhecer

e atribui-se o domínio dos céus.

 

Mas um pássaro engaiolado queda-se sobre

a tumba dos sonhos,

estrila a sua sombra num grito de pesadelo,

suas asas estão aparadas e atados os seus pés,

então ele abre a garganta para cantar.

 

O pássaro engaiolado canta

com um receoso trinado

por coisas desconhecidas,

mas ainda ambicionadas,

e sua melodia se escuta

na distante colina,

porque o pássaro engaiolado

canta à liberdade.


Referência:

ANGELOU, Maya. Caged bird. In: __________. The complete collected poems of Maya Angelou. New York, NY: Random House, 1994. p. 194-195.

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