Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 27 de novembro de 2021

Robert Lowell - Alfred Corning Clark

Lowell toma a figura de Alfred Corning Clark, seu colega de classe no St. Mark’s School, em Massachusetts (EUA), como mote para esta elegia, ainda que, pelo visto, não fosse o seu mais íntimo amigo, dada a independência excêntrica, a esterilidade emocional, o frio distanciamento deste último – a par de suas capacidades, que o alçaram a uma posição entre os de maior distinção na turma.

O poema se constrói nos três tempos verbais – passado, presente e futuro –, a mesclar discretas ironias e encômios, trazendo os vestígios do que fora o relacionamento do falante com o colega, à volta dos desafios e dos prazeres com o jogo de xadrez, por eles tão estimado: as lembranças dos tempos de discente jamais são tratadas com indiferença, porque embebidas em sentimentos, quer agradáveis quer penosos.

J.A.R. – H.C.

 

Robert Lowell

(1917-1977)

 

Alfred Corning Clark

 

You read the New York Times

every day at recess,

but in its dry

obituary, a list

of your wives, nothing is news,

except the ninety-five

thousand dollar engagement ring

you gave the sixth.

Poor rich boy,

you were unseasonably adult

at taking your time,

and died at forty-five.

Poor Al Clark

behind your enlarged,

hardly recognizable photograph,

I feel the pain.

You were alive. You are dead.

You wore bow-ties and dark

blue coats, and sucked

wintergreen or cinnamon lifesavers

to sweeten your breath.

There must be something –

some one to praise

your triumphant diffidence,

your refusal of exertion,

the intelligence

that pulsed in the sensitive,

pale concavities of your forehead.

You never worked,

and were third in the form.

I owe you something –

I was befogged,

and you were too bored,

quick and cool to laugh.

You are dear to me, Alfred;

our reluctant souls united

in our unconventional

illegal games of chess

on the St Mark’s quadrangle.

You usually won –

motionless

as a lizard in the sun.

 

Alfred Corning Clark

(1916-1961)

 

Alfred Corning Clark

 

Lês o New York Times

todos os dias no intervalo,

mas em seu árido

obituário, a listar

tuas esposas, não há notícia alguma,

exceto os noventa e cinco mil dólares

para o anel de noivado

que ofereceste à sexta.

Pobre rapaz rico,

eras incomumente adulto

ao despender teu tempo,

e morreste aos quarenta e cinco.

Pobre Al Clark,

por trás de tua fotografia ampliada,

dificilmente reconhecível,

sinto a dor.

Estavas vivo. Agora morto.

Usavas gravatas-borboleta e jaquetas

azuis escuras, e chupavas

dropes de gaultéria ou de canela

para abrandar teu hálito.

Deve haver algo –

alguém para elogiar

tua triunfante timidez,

tua recusa ao esforço,

a inteligência

que pulsava nas pálidas e sensíveis

concavidades de tua fronte.

Sem qualquer labuta,

foste o terceiro entre os de maior distinção.

Assumo-te uma coisa:

achava-me desnorteado

e punhas-te entediado,

lesto e impassível demais para rir.

És-me querido, Alfred;

nossas relutantes almas se uniram

em desautorizados e inconvencionais

jogos de xadrez

no quadrilátero de São Marcos.

Geralmente vencias –

inerte

como um lagarto ao sol. 


Referência:

LOWELL, Robert. Alfred Corning Clark (1916-1961). In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 24-25.

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