Lowell toma a figura de Alfred Corning Clark, seu colega de classe no St. Mark’s School, em Massachusetts (EUA), como mote para esta elegia, ainda que, pelo visto, não fosse o seu mais íntimo amigo, dada a independência excêntrica, a esterilidade emocional, o frio distanciamento deste último – a par de suas capacidades, que o alçaram a uma posição entre os de maior distinção na turma.
O poema se constrói nos três tempos verbais – passado, presente e futuro –, a mesclar discretas ironias e encômios, trazendo os vestígios do que fora o relacionamento do falante com o colega, à volta dos desafios e dos prazeres com o jogo de xadrez, por eles tão estimado: as lembranças dos tempos de discente jamais são tratadas com indiferença, porque embebidas em sentimentos, quer agradáveis quer penosos.
J.A.R. – H.C.
Robert Lowell
(1917-1977)
Alfred Corning Clark
You read the New York Times
every day at recess,
but in its dry
obituary, a list
of your wives, nothing is news,
except the ninety-five
thousand dollar engagement ring
you gave the sixth.
Poor rich boy,
you were unseasonably adult
at taking your time,
and died at forty-five.
Poor Al Clark
behind your enlarged,
hardly recognizable photograph,
I feel the pain.
You were alive. You are dead.
You wore bow-ties and dark
blue coats, and sucked
wintergreen or cinnamon lifesavers
to sweeten your breath.
There must be something –
some one to praise
your triumphant diffidence,
your refusal of exertion,
the intelligence
that pulsed in the sensitive,
pale concavities of your forehead.
You never worked,
and were third in the form.
I owe you something –
I was befogged,
and you were too bored,
quick and cool to laugh.
You are dear to me, Alfred;
our reluctant souls united
in our unconventional
illegal games of chess
on the St Mark’s quadrangle.
You usually won –
motionless
as a lizard in the sun.
Alfred Corning Clark
(1916-1961)
Alfred Corning Clark
Lês o New York Times
todos os dias no intervalo,
mas em seu árido
obituário, a listar
tuas esposas, não há notícia alguma,
exceto os noventa e cinco mil dólares
para o anel de noivado
que ofereceste à sexta.
Pobre rapaz rico,
eras incomumente adulto
ao despender teu tempo,
e morreste aos quarenta e cinco.
Pobre Al Clark,
por trás de tua fotografia ampliada,
dificilmente reconhecível,
sinto a dor.
Estavas vivo. Agora morto.
Usavas gravatas-borboleta e jaquetas
azuis escuras, e chupavas
dropes de gaultéria ou de canela
para abrandar teu hálito.
Deve haver algo –
alguém para elogiar
tua triunfante timidez,
tua recusa ao esforço,
a inteligência
que pulsava nas pálidas e sensíveis
concavidades de tua fronte.
Sem qualquer labuta,
foste o terceiro entre os de maior distinção.
Assumo-te uma coisa:
achava-me desnorteado
e punhas-te entediado,
lesto e impassível demais para rir.
És-me querido, Alfred;
nossas relutantes almas se uniram
em desautorizados e inconvencionais
jogos de xadrez
no quadrilátero de São Marcos.
Geralmente vencias –
inerte
como um lagarto ao sol.
Referência:
LOWELL, Robert. Alfred Corning Clark (1916-1961).
In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ.
London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 24-25.
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