Quer a casa a que se refere o poeta norueguês, nestas linhas, defina-se em seu sentido denotativo – uma construção física onde se abrigar –, quer conotativo – um espaço íntimo não explicitamente tangível, embora sensorial, ou mesmo o corpo físico –, o fato é que o eixo do poema se prende à alma e a um indubitável sentimento de solidão.
O “caracol” é o lugar ao qual você se recolhe quando o mundo se lhe parece suficientemente áspero, permitindo-lhe restaurar o equilíbrio mental e, por que não, orgânico. E quando você já aqui não estiver, essa casa – refúgio de paredes e teto ou, quem sabe, um túmulo – evocará o “esplendor de sua alma” junto aos pares, ainda que só um mar de solidão venha a ressoar lá dentro.
J.A.R. – H.C.
Olav H. Hauge
(1908-1994)
Konkylie
Du byggjer di sjel hus.
Og du skrid stolt
i stjerneljoset
med huset på ryggen
liksom snigelen.
Ottast du fåre,
kryp du inn i huset
og er trygg
bak hardt
skal.
Og når du ikkje er meir,
skal huset
stå att
og vitna
um di sjels venleik.
Og di einsemds hav
skal susa
der.
A casa do caracol
(Divya George: ilustradora inglesa)
Concha
Você constrói uma casa para a alma.
Então desliza orgulhoso
sob a luz das estrelas
tendo a casa nas costas
como o caracol.
Ao pressentir o perigo,
esconde-se em casa,
a salvo
por trás da
concha.
E quando você não estiver mais aqui,
a casa
vai dar
testemunho
do esplendor de sua alma.
E um mar de solidão
vai soar
lá dentro.
Referência:
HAUGE, Olav H. Hauge / Concha. Tradução
de Guilherme da Silva Braga. In: Universidade de São Paulo / Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP). Cadernos de literatura em
tradução, São Paulo, n. 22, 2020. Em norueguês e em português: p. 69.
Disponível neste endereço. Acesso em: 10 set.
2021.
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